quarta-feira, 1 de maio de 2013






RIO DE MIM

Olho pelos olhos
Desse rio pardo
Que corre lentamente
Para o desconhecido,
Um rio que corre em mim.

Atiro uma pedra semi preciosa
E quebro o espelho de suas águas.
Lapido seus estilhaços em forma de peixes
E faço um colar
Que adorno
O pescoço da alma amada
E como pingente,
Uma gota de chuva.

Deito suavemente
Sobre os mururus
E vejo o céu passar
Com suas nuvens brancas,
Seus pássaros coloridos,
Seu sol escaldante.

Ao lado passam por mim
Casas de pau a pique,
Barro e taipa
Pintadas a cal,
A tinta d’água
Em cores vivas,
Rosa, azul, verde, amarela, cinza.

Lavadeiras em sua tábuas,
Batem, esfregam, escovam, lavam, torcem
E estendem sobre os muçambês
As roupas dos patrões
Carentes de limpeza.
Moleques despencam
(Feito frutas maduras)
Das árvores ribeirinhas
E um pescador iça seu sustento,
Um velho grisalho afunda
E tira do fundo do rio
A areia lavada.

Silêncio!!!

O sol arranha o céu,
O céu arranha a terra,
A terra arranha a água
Que lava meu último suspiro
E se eu tiver que morrer sufocado
Que seja pelos braços
Desse Rio Mearim que eu amo
E que corre em mim.
Zé Lopes

Do livro “Bacabal Alves de Abreu Souza Silva de Mendonça e da Infância Perdida”

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