segunda-feira, 15 de abril de 2013



BACABAL@CULTURA.SEM


SOLIDÃO RETROGRADA
O dia de ontem foi de solidão
De tristeza absoluta
De saudades mortas
E lembranças vivas.

A voz e o violão de Lauro Gama
Estavam cercados de nitidez
O saxofone de Zé de Brito
Solava uma canção tão atual
E centenas de anjos
Ouviam em silêncio
Seu Lídio cantar um samba
De Brasilino Miranda,
Santo Preto improvisar
Uma toada triste
Luizinho xotear em sua sanfona
Seu Raimundo tocar seu pistom
Assizinho dedilhar sua viola
Zezim Trabulsi reger de mentirinha
Era a orquestra santificada em vosso nome.

Todas as imagens estavam vivas
E passavam na tela dos meus olhos
Como se fosse um vídeo tape.
A elegância educada de seu Alberto Cardoso
A beleza de Evelúcia
 A velocidade fatal de Paulo, de Olga, de Veloso
A desilusão de Silvio
As piadas de Kebeca
As armações de Padeirinho
A agitação de Pedro Santos
O desespero de Gonçalo, de Massoé
A simplicidade de Geraldo Cortêz, de Deusimar,
De Chico Dias, de Antônio Augusto, de Ribamar
A arte de Neiruzan
A gargalhada de Carlinhos santos
A paciência de Telê
A simpatia de George, de Farias, de Nandinho
A coragem de Josélio .

Pairou no ar um cheiro gostoso
E adentrou o paladar
O sabor do mingau de milho de vovó Benta
De Paca, Zuca e Tereza
Do cuscuz de arroz de vovó Ernestina
Dos picolés de Tonico Eno
Dos sorvetes de João Lobo
Do kisuco de Zé Longar
Do bolo de seu Aurino
Da língua de vaca de Sebastião]
Da chupeta de Lilice
Dos salgadinhos de dona Anazilde
Do feijão com coentro de Maria de Mundiquim
Do mocotó de dona Noca.

Tudo isso saciou a minha fome
E ontem ao me sentir criança
Ruminei o hoje envelhecido
E cuspi na minha própria infância
Os bagaços dos meus sonhos mutilados.
Zé Lopes
Do livro “Bacabal Alves de Abreu Souza Silva de Mendonça e da Infância Perdida”

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