BACABAL@CULTURA.SEM
SOLIDÃO
RETROGRADA
O dia de ontem foi de
solidão
De tristeza absoluta
De saudades mortas
E lembranças vivas.
A voz e o violão de
Lauro Gama
Estavam cercados de
nitidez
O saxofone de Zé de
Brito
Solava uma canção tão
atual
E centenas de anjos
Ouviam em silêncio
Seu Lídio cantar um
samba
De Brasilino Miranda,
Santo Preto improvisar
Uma toada triste
Luizinho xotear em sua
sanfona
Seu Raimundo tocar seu
pistom
Assizinho dedilhar sua
viola
Zezim Trabulsi reger de
mentirinha
Era a orquestra santificada
em vosso nome.
Todas as imagens
estavam vivas
E passavam na tela dos
meus olhos
Como se fosse um vídeo
tape.
A elegância educada de
seu Alberto Cardoso
A beleza de Evelúcia
A velocidade fatal de Paulo, de Olga, de Veloso
A desilusão de Silvio
As piadas de Kebeca
As armações de
Padeirinho
A agitação de Pedro
Santos
O desespero de Gonçalo,
de Massoé
A simplicidade de
Geraldo Cortêz, de Deusimar,
De Chico Dias, de Antônio
Augusto, de Ribamar
A arte de Neiruzan
A gargalhada de Carlinhos
santos
A paciência de Telê
A simpatia de George,
de Farias, de Nandinho
A coragem de Josélio .
Pairou no ar um cheiro
gostoso
E adentrou o paladar
O sabor do mingau de
milho de vovó Benta
De Paca, Zuca e Tereza
Do cuscuz de arroz de
vovó Ernestina
Dos picolés de Tonico
Eno
Dos sorvetes de João
Lobo
Do kisuco de Zé Longar
Do bolo de seu Aurino
Da língua de vaca de Sebastião]
Da chupeta de Lilice
Dos salgadinhos de dona
Anazilde
Do feijão com coentro
de Maria de Mundiquim
Do mocotó de dona Noca.
Tudo isso saciou a
minha fome
E ontem ao me sentir
criança
Ruminei o hoje
envelhecido
E cuspi na minha
própria infância
Os bagaços dos meus
sonhos mutilados.
Zé Lopes
Do
livro “Bacabal Alves de Abreu Souza Silva de Mendonça e da Infância Perdida”
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