sábado, 27 de abril de 2013




DIA DA SAUDADE

Passo brilhantina nos cabelos
Grisalhos de tanto sofrimento
Busco na babugem o sustento
Que me dão de esmolas ao meu apêlo

Lambo a sede virgem do sal grosso
E adoço a minha fome com o mascavo
Do açúcar que endurece e como um cravo
Joga meu penar em fundo poço

Sinto a perfurada no meu peito
E a faca amolada dos dois lados
Faz com que o sangue jorre e feito um dado
Decida a sorte vã e seu efeito.

Lavo os olhos com o soro fisiológico
Saído das nascentes dos hospícios
E bebo, e fumo, e cheiro os meus vícios
N’um ato automático e biológico.

E se decido não viver nessa cidade
Por um fio, ando mal, desiludido
E me esforço fraquejado e decidido
A não morrer em pleno dia da saudade.

Zé Lopes
Do livro “Bacabal Alves de Abreu Souza Silva de Mendonça e da Infância Perdida”

Nenhum comentário:

Postar um comentário