segunda-feira, 8 de abril de 2013



  BACABAL@CULTURA.SEM

CEMITÉRIO DO AXIXÁ

Declaro em vida
Nas horas de Deus, amém
Que minha culpa, minha culpa
Minha máxima culpa
Repousa sobre a sombra do pé de axixá
No cemitério onde repousa meus avós
E também minha mãe.

Dorme ali
Amigos, parentes, ricos, pobres
Indigentes, desconhecidos
Anjos, santos e pecadores,
Assassinos e assassinados.

Dorme ali
A esperança de um lugar no céu
Corpos decompõem-se nas covas
Vândalos violam mausoléus
E roubam o mármore,
A porcelana, o bronze,
Os ossos, o ouro dos dentes.

Coveiros bebem aguardente
Em taças de crânio humano.
As cruzes de madeira
Sucumbem sob a ação do tempo.
As proteções de ferro dão lugar a ferrugem
Vê-se pés de rosa brotar na terra de todos
E a velha senhora que todos os dias
Lava a sepultura dos seus entes
Reza um terço
E pede a Deus pela vida
Daqueles que morrem de saudades.
Zé Lopes
Do livro “Bacabal Alves de Abreu Souza Silva de Mendonça e da Infância Perdida”

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