domingo, 26 de maio de 2013


DINDINHA

 Estou chegando agora à noite do enterro e velório de Dindinha, pessoa muito querida, que morava com Ângela, minha cunhada, há muitos anos. São parentes, ela é tia-avó de Ângela.
Uma pessoa que jamais vi com raiva, sempre solícita e caridosa com seus semelhantes. Dessas que confiam cegamente, que acredita que o ser humano não é capaz de atrocidades tão comuns hoje em dia.
Quando eu chegava na casa dela, me abordava naquela ânsia de abrir conversas: "-quais são as novidades?", era típico da personalidade dela.
Suas piadas remontam a anos e anos passados e são tão repetidas que a gente sabia até de cor.
Madrinha de batismo da cantora Alcione, foi chefe de cozinha no Palácio dos Leões na época de José Sarney no governo do estado e chegou a prestar serviços eventuais em Brasília quando Sarney era presidente da república. Com seu prestígio conseguiu emprego para muita gente, e, hoje no seu enterro muitos amigos, demonstrando gratidão, se fizeram presentes.
Não teve filhos nem casou, nestes períodos de sofrimento e dor foram os sobrinhos e sobrinhos-netos que cuidaram de seus últimos momentos.
Participei da transferência de seu internamento do Socorrão 2 (quando presenciei aquelas cenas de campos de concentração - com doentes espalhados pelo corredor, aos montes, coisas que jamais imaginara presenciar) para a UPA dos Vinhais.
Lembro-me de que, quando lhe dava carona levando-a do bairro Cohab para o Monte Castelo, ela ia repetindo durante o deslocamento: "meu filho, te dou tanto trabalho, não é?" ou perguntava insistentemente: "-onde estamos?!.
Lembro-me que, quando vinha de férias de Brasília para São Luis, ela sempre me presenteava com um terço ou rosário fora os licores de genipapo, tamarindo e outros. Um coração sem tamanho!
Da UPA ela foi remanejada para o Hospital Dr Carlos Macieira, já desenganada e com pouquíssima esperança de recuperação, onde aos poucos seu organismo foi cedendo até não aguentar mais.
Na casa dos 100 anos, com aquele aspecto de baiana do acarajé, Dindinha tinha ótima estrutura física, razão de ter vivido tanto tempo.
Nos últimos tempos sua memória já não a ajudava, confundia as pessoas, parecendo ter um pouco de amnésia, resultado de sua idade avançada.
Na madrugada de hoje não resistiu mais. Foi quase o dia todo de velório, onde os amigos e parentes puderam prestar-lhe sua última homenagem e despedida. No momento do enterro, fizeram orações (ela era religiosíssima, frequentava assiduamente a igreja católica e pertencia a grupo de orações).
Aqui vai a minha simples, porém sincera, homenagem de uma pessoa que reconhece o valor de quem era do bem, possuía caráter e era íntegra.
Que descanse em paz"


Nenhum comentário:

Postar um comentário