domingo, 29 de setembro de 2013

COLUNA DO JAMIR LIMA


TRABALHANDO INFELIZ

Nesta labuta da vida, nestas andanças sem rumo e sem destino, a gente cresce, estuda, vai se formando e se educando no passar dos tempos e temos de optar por algo muito difícil: vou ser o quê?
O que será o amanhã, como vai se o meu destino? (Que nem aquela música cantada pela Simone).
Ou esta aqui do Raul Seixas: "Eu devia estar contente, porque eu tenho um emprego, Sou um dito cidadão respeitável E ganho quatro mil cruzeiros por mês, Eu devia agradecer ao Senhor, Por ter tido sucesso na vida
Roceiro-caipira, fazendeiro-pecuarista-agricultor, médico, dentista, engenheiro (em suas múltiplas carreiras), biólogo, astrônomo, psicólogo, farmacêutico e professor (em todos os seus níveis).
O que importaria? O dinheiro ou fazer o que gosta?
Eu perambulei, bati cabeça, sem saber o que queria. Via colegas e amigos de infância ingressando nos cursos pré-vestibulares para estudar medicina, e, se não conseguissem naquela "carreira", veterinária!
Aí, já aparecendo a primeira frustração de quem queria algo mais, onde a veterinária aparecia como segunda opção.
Meus primos, filhos do Tio Ramiro, foram se aventurar no Exército lá no Rio de Janeiro ou Juiz de Fora, outros primos, parentes e conterrâneos, foram estudar no Colégio de Manhuaçu ou no Colégio Evangélico, lá em Presidente Soares.
Saber que existia o Dr. Alberone, filho do Juca Venâncio (não sei se este era o nome dele, mas acho que sim), era um incentivo e tanto! O Juca Venâncio era aquele fazendeirão pelas bandas da Barra Grande, entre Bicuíba e Pirapetinga.
Os pais daquela época não puderam estudar, eram semi ou analfabetos mesmo, sabiam fazer contas e mal assinavam o nome, mas faziam questão de desejar o melhor para seus filhos, não ficar sem futuro nestes rincões esquecidos.Sabiam que com o tempo as coisas iam progredir e não queriam que os filhos tivessem a mesma vida de sacrifícios que tiveram.
Meu sonho, baseado nos amigos de infância e no que os pais queriam para seus filhos, era ser médico, dono do meu topete, sem patrão, sem ninguém superior, dono do meu negócio. Poder, no futuro, e de vez em quando, estar na roça, num sítio, ou como diz naquela música bucólica, ter a minha casinha de sapé!
Mas quis o destino que eu me aventurasse pela vida, que tocasse em frente, buscasse novos horizontes, novos rumos, fosse ou "seja o que Deus quiser"!
Eu não queria estudar, não tinha esta intenção, mas era destacado na escola, primeiro da classe, e meus pais, por iniciativa deles ou aconselhados por alguém, me "obrigaram" a ir para Manhuaçu.
E não fiz feio, era destaque lá também, primeiro lugar em notas gerais, teve um ano que fui o melhor-nota de todo o Colégio.
Fiz o ginásio e no colégio só havia o curso normal ou técnico em contabilidade. No pensamento de meus pais bastava este curso profissional (na época dava boa grana trabalhar como contador). Também era outra coisa que eu não pensava em ser nem em exercer.
Com um colega-amigo de Simonésia, o José Alves Filho (deu sorte - esqueci o apelido de escola dele), colega de sala no Colégio de Manhuaçu, pensei em ser policial militar, cogitei em fazer o teste de esforço, mas não era minha praia, não me realizaria ali, apesar de ver muitos amigos se darem bem na farda militar.
Na Bicuíba, na época de estudante vi o Niltinho (acho que família Epifânio) chegar de um seminário com aquele ar de padre em formação, vindo de um período no Canadá. E a Bicuíba era "pródiga" em exportar talentos mundo afora, o "povo" foi se espalhando para Goiás, Mato Grosso e até no Maranhão e Tocantins.
Para se ter uma ideia, Raul Soares chegou a ter mais de 40.000 habitantes, hoje está com pouco mais de 23.000.
E nestas idas e vindas, depois de formando em Contabilidade, me fiz aportar em Bicuíba e cheguei a dar aulas no Grupo Escolar. Minha mãe arrumou para eu ir para BH, onde meu tio Sebastião Rocha conseguiu um emprego para mim no escritório de uma empresa metalúrgica, a A.E.I. do Brasil, hoje extinta. Ali, tentei melhorar, entrei em cursinho, mas a carga de aulas mais a de trabalho não permitiam ir muito longe e acabei, mais uma vez, desistindo.
Encerrando as atividades desta empresa na cidade industrial de Contagem, perto do Barreiro, voltei pra Raul Soares, onde fui convidado para dar aulas no CERP, colégio estadual de Raul Soares, onde fui professor de Ciências (mereceria um capítulo à parte), Física, Química e Biologia - tive de aprender fazendo, fui professor de mim mesmo para enfrentar o desafio. 4 anos felizes, quando apareceu o PREMEN, um curso de aperfeiçoamento de professores, com bolsa do governo, um ano intenso de aulas, de manhã e de tarde, na Faculdade de Educação no campus da UFMG na Pampulha. Fiquei tão preparado que fiz vestibular para Veterinária na UFMG e passei entre os primeiros 60, na turma do primeiro semestre, e, no embalo, fiz um concurso para a Petrobras, onde só não passei pelo cansaço de estar cursando o PREMEN no mesmo tempo do vestibular para Veterinária  e deste concurso para a Petrobras. Não apresentei o equilíbrio desejável naquela prova de coordenação motora e falei na entrevista final que não queria a vida toda como operador de máquinas, pretendia mais, por estar tentando veterinária. Foi o bastante para ser reprovado, mas não teria muito a ver comigo também.
Na época, peguei o crédito educativo da Caixa e a bolsa-alimentação da Fundação Mendes Pimentel, e, casado, veja que situação!
Insatisfeito, tranquei a matrícula, retornei para Raul Soares, quando um amigo meu do tempo de Manhuaçu, Valadares, colega de sala, soube que eu estava desempregado e mandou me chamar para trabalhar no escritório da Usina Jatiboca. Foram bons 4 anos de serviço. Havia ótimas casas para funcionários, conheci amigos de fé, como Zé Miguel, irmão do Paulo do INPS, e o Antônio Cláudio, irmão do Valadares, Nelson Nunes, Laurinho (filho do Lauro, centroavante de renome no Atlético Mineiro) e outros tantos que fica difícil relacionar um por um. Fui presidente do Jatiboca FC, e consegui, na época, levar o Reinaldo, no auge de sua fama e no seu tempo de seleção brasileira para visitar a Usina.
Não satisfeito na Usina, houve uma mexida e me senti desprestigiado e retomei a Veterinária, indo até o 5º período. Neste meio tempo, o Chafizinho, amigo de carteirinha, me arrumou um emprego no BEMGE, onde fiquei 3 meses, pois havia sido aprovado no concurso do Banco do Brasil (que mereceria mais um capítulo à parte).
Tomando posse no banco lá em Santa Maria do Suaçuí, um dia comentei: o BB é um cemitério de ilusões. E não estava errado: tempos depois chegou uma "leva" de novos funcionários, entre eles médico, advogado, pedagoga, uns 20 funcionários, quase todos com curso superior.
No banco fiquei até me aposentar, mas nunca me senti feliz sendo bancário, aquele negócio de não querer ser empregado, não querer ser chefe, não querer demitir ou punir colegas, tudo aquilo que não combinava comigo.
Às vezes me pergunto: "Me sinto realizado? Faria tudo de novo?" Difícil responder, acho que no fundo ninguém é feliz no que faz, quer sempre mais, e é aí a razão de tudo, nunca estar satisfeito porque somos submetidos toda hora a um desafio novo.
Neste mundo tudo é movido a dinheiro, ninguém quer perder a oportunidade de poder ganhar bem e melhor mesmo que contrarie alguns princípios e alguns ideais. É aquela de que uma porta não se abre duas vezes.
É a explicação que tenho para explicar porque não trabalhar feliz, porque ser profissional autêntico onde a gente se realiza de verdade não é fácil.
Isto tudo aqui foi inspirado em um debate no programa "Encontro com Fátima Bernardes"que assisti dia desses e que me chamou a atenção para o tema.
Comigo foi assim! Eu era feliz e não sabia?!!! Ou sabia e não era feliz!


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