Do Fantástico:
Uma situação dramática, que se repete
cada vez mais: jovens mulheres filmaram relações sexuais, confiaram nos
parceiros, e acabaram humilhadas por milhares de pessoas na internet. No
domingo passado, a história de Júlia Rebeca, de apenas 17 anos, teve um fim
trágico.
Júlia Rebeca, uma jovem, bonita e
alegre, de 17 anos, morava no litoral do Piauí. Ela gravou um vídeo de sexo com
uma garota e um rapaz - também menores de idade. As imagens foram distribuídas
por celular na cidade de Parnaíba. Envergonhada, após se despedir da mãe em uma
rede social, ela tirou a própria vida.
Júlia Rebeca estudava e era uma
adolescente comum, sorridente, fã da cantora Miley Cyrus, e muito ligada à
família. Nas últimas semanas, no entanto, segundo suas colegas de sala, ela estava
distante e quieta. Não conversava com ninguém e passava o tempo todo digitando
no celular.
“Ela era muito alegre no início, mas
depois ela ficou deprimida. De repente. Totalmente retraída”, conta a amiga
Carliane Silva dos Santos.
A polícia investiga quem divulgou a
gravação.
“A princípio todos os três são vítimas
dessa divulgação indevida da imagem deles. Mas também investigamos quem possa
ter compartilhado com pessoas não envolvidas”, disse o delegado regional de
Panaíba, Rodrigo Moreira.
A mãe de Júlia Rebeca, Ivânia,
conversou com o Fantástico por telefone.
“Ela não demonstrou nada, nada, nada,
nada. Todo o adolescente tem o direito de ser adolescente. Eles são
inconsequentes mesmo. Essa exposição toda, do vídeo, da imagem da minha filha é
uma violação”, destaca a mãe da vítima.
Um momento íntimo, que deveria ser
protegido pela confiança entre parceiros, pode virar uma arma quando cai na
internet. Publicada em redes sociais ou repassada de celular em celular, a
gravação sai do controle. O Fantástico conversou com mulheres que tiveram suas
intimidades expostas.
O caso que teve maior repercussão foi o
de Fran, de Goiânia.
“Eu confiei. Nunca imaginei que ele
faria isso”, disse Fran.
O vídeo de Fran com o ex parceiro foi
compartilhado milhares de vezes. Ela virou piada na internet e na cidade.
“Meu celular não parava. O pessoal
ligando, ligando. Eu fiz o boletim de ocorrência na sexta-feira. O pessoal não
tinha dado muita importância. Quando foi na segunda-feira, eu vi a proporção
que tava”, conta.
Fran, mãe de uma menina de 2 anos, teve
que mudar a aparência e parar de trabalhar. Hoje, ela evita sair de casa.
“Ele tirou a minha vida, eu não tenho
mais vida. Eu não consigo sair, não consigo estudar, trabalhar”, disse.
O ex-parceiro de Fran nega ter
divulgado o vídeo, segundo seu advogado.
“Meu cliente não é a pessoa que está no
vídeo, muito menos a pessoa que divulgou o vídeo”, disse o advogado Hugo de
Angelis.
A perita em crimes digitais confirma
que o número de casais que gravam vídeos de sexo é grande.
“Mais da metade dos casais registra ou
já registrou o momento íntimo”, disse a perita digital Iolanda Garay.
Segundo ela, quase todas as vítimas da
chamada "pornografia de revanche" são mulheres. Ela aconselha quem
quiser se filmar a seguir algumas regras para se proteger.
A regra número um é: ao se filmar em
momento íntimo, não revelar o seu rosto, o seu nome e nem a sua voz.
Regra 2: é importante que a mulher
mantenha a filmagem na posse dela.
Número 3: não compartilhe, não envie
por e-mail para o seu parceiro, não envie por chat, por dispositivo de
mensagem.
E a quarta regra: apague tão logo seja
possível.
“O pior do crime eletrônico não é
exatamente você detectar quem foi o agressor. O grande drama é toda a carga
moral, social, que acaba sobrando para a mulher”, disse Iolanda Garay.
Sete anos depois de ser exposta por um
ex-namorado, a paranaense Rose Leonel ainda sofre com o que aconteceu.
“Ele publicou fotos minhas na internet,
fez várias montagens e fez essas publicações e mandou postagens pra mais de 15
mil e-mails. As fotos que ele foi colocando tinham o meu telefone, o telefone
do meu trabalho, o ramal do meu escritório. Ele chegou a colocar o telefone
celular do meu filho, meu filho adolescente sabe... Assim, eram ligações de
homens pedindo pra fazer programa. Ele colocava assim, fotos me vendendo como
se eu fosse uma garota de programa... E o que mais me doeu foi essa, essa
situação de vulnerabilidade dos meus filhos”, conta a vítima Rose Leonel.
Rose procurou a Justiça. O ex-namorado
foi condenado por difamação.
“Essa condenação foi uma absolvição
moral pra mim”, destaca.
Fantástico: Quando uma moça consente,
permite que o namorado a filme numa situação de intimidade e depois o namorado
publica esse material na internet, isso constitui um crime?
Alexandre Atheniense da Comissão da OAB
sobre crimes na internet: Constitui sim: A lei Maria da Penha foi criada no
sentido de proteger não só a integridade física, mas a integridade psicológica,
a dignidade da mulher. E hoje, a vida digital é uma extensão da vida
presencial.
O ex-namorado de uma professora de
Minas Gerais também foi condenado pelo mesmo crime. Há nove anos, ele enviou
fotos dela nua para milhares de pessoas. Teve que prestar serviços comunitários
e pagar uma indenização por danos morais.
“Tentar resolver judicialmente a coisa
ajuda internamente. Hoje, eu realmente estou sentada aqui diante mesmo de vocês
com a situação resolvida pra mim”, destaca a professora.
“É um crime que se perpetua. Quando as
pessoas postam, quando elas abrem um material desses, elas não tem consciência
que isso perpetua o sofrimento da gente”, disse Rose.
“Eu não sou a única, eu não sou a
última, eu não fui a primeira”, destaca Fran.
“As consequências são diárias. É
irreparável”, disse Rose.
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