As duas principais facções criminosas
do Maranhão, o Bonde dos 40 e o Primeiro Comando do Maranhão (PCM), travam uma
batalha dentro e fora dos presídios do Estado. Nas ruas da Região Metropolitana
de São Luís, a capital maranhense, os grupos rivais desafiam a polícia
diariamente na disputa pelo controle de favelas e pontos de venda de crack.
Para o governo maranhense e a cúpula da Polícia Civil, a guerra do tráfico está
por trás da onda de homicídios e latrocínios no Estado.
Os líderes do Bonde dos 40, a
sanguinária facção que promoveu decapitações no presídio de Pedrinhas, estarão
na lista de detentos que serão transferidos para presídios federais. As
Secretarias de Justiça e Administração Penitenciária e da Segurança Pública já
prepararam uma lista e a submeteram à avaliação da Vara de Execuções Penais da
Justiça maranhanse. Entre os prováveis transferidos estão os criminosos Allan
Kardec Dias Costa e Giheliton de Jesus Santos, o “Gil”, Hilton John Alves
Araújo, o “Praguinha”, Jorge Henrique Amorim Martins, o “Dragão”, e Wilderlei
Moraes, o “Paiakan”.
“Estamos percebendo que o PCM está
tentando aproveitar que os líderes do Bonde estão presos para dominar a área
deles”, diz o subdelegado-geral da Polícia Civil, Marcos Affonso.
“Ainda não há uma hegemonia entre eles,
as facções brigam por espaço aqui em São Luís, que é o foco do tráfico”, afirma
a superintendente de Polícia Civil da capital e região metropolitana, Katherine
Chaves.
Influências – Inspirados e
próximos ao Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo, os integrantes do
PCM criaram a facção com criminosos do interior do Maranhão, os chamados
“baixadeiros”, por atuarem na Baixada Maranhense. Eles montaram um estatuto
próprio baseado no do PCC – com dizeres como “irmão ajuda irmão” – e
organizaram uma hierarquia própria. Os “soldados” (bandidos com menos cinco
anos no crime organizado) e os “torres” (aqueles com mais tempo na quadrilha),
só agem segundo as ordens do “conselho”, a cúpula da facção. Quem não obedece é
considerado traidor e condenado à morte. Os que passam pelo sistema prisional
tem o hábito de tatuar no antebraço as palavras “paz, justiça e liberdade” –
lema do PCM.
O PCM mantém o controle da venda de crack
e maconha nos bairros do Coroado, Coroadinho e Pocinha. A droga já é refinada
em "laboratórios" do Maranhão. A quadrilha também pratica assaltos a
banco e roubos, mas age com mais discrição. “O que os sustenta mais é o
tráfico, mas eles fazem muitos assaltos pesados também”, diz o
subdelegado-geral.
A facção mais violenta é o Bonde dos
40, que reúne – com menos organização – uma série de bandos que atuavam em
bairros diferentes e distantes de São Luís, sobretudo as áreas de palafitas. As
áreas de domínio do grupo criminoso são citadas em letras de funk maranhense,
como o bairro de Fátima e Vila Embratel. A inteligência da Polícia Civil já
identificou que o bando ampliou sua organização, criando um conselho de
líderes. Eles também estão formando pontes com traficantes do Rio de Janeiro,
segundo a polícia.
“O Bonde dos 40 começou desorganizado,
como uma revolta contra o PCM, que queria exclusividade no fornecimento de
drogas”, diz Affonso. “Eles tentaram se unir, mas o Bonde não aceitou.”
Em julho, a Polícia Civil apreendeu um
livro com a contabilidade do tráfico. Nele, os investigadores acharam registros
de quanto a quadrilha arrecadava por mês: 150.000 reais com a venda de crack e
assaltos. O dinheiro é usado em pagamento de advogados, para sustentar o
tráfico e ajudar as famílias de “irmãos” – como eles se chamam – presos. O
inimigo é o tradicional “alemão”, termo muito usual no Rio de Janeiro.
Em escutas telefônicas, o setor de
inteligência da Polícia Civil identificou que os líderes do Bonde dos 40
ordenaram por um “salve geral” os ataques a vinte ônibus, delegacias e
decretaram a morte de policiais militares. A onda de terror terminou com a
morte da menina Ana Clara, de seis anos. “É uma retaliação, tentativa de
intimidar e desestabilizar a polícia”, diz Katherine.
Nenhum comentário:
Postar um comentário