Com cinco jornalistas mortos em 2013, o
Brasil se tornou o país mais letal da América para representantes da mídia,
segundo o relatório anual divulgado durante esta semana, em Paris, pela ONG
Repórteres sem Fronteiras (RSF).
A posição era até então do México, um
país "muito mais perigoso", de acordo com a ONG. O Brasil ocupa a
111ª posição no ranking de liberdade de imprensa da organização, incluindo 180
países, tendo descido três posições em relação à avaliação anterior.
"Essas mortes trágicas no Brasil
são, obviamente, também atribuídas a um alto nível de violência. O poder do
crime organizado em certas regiões torna muito arriscada a cobertura de temas
como corrupção, drogas ou tráfico ilegal de matérias-primas", afirma o
texto.
"Primavera brasileira"
De acordo com a RSF, a repressão aos
protestos do ano passado no Brasil também afetou a imprensa. O relatório
observa que "a primavera brasileira", iniciada com protestos contra
aumentos de preços dos transportes públicos e que se espalharam com o descontentamento
com os gastos para a Copa, levantaram questionamentos sobre "o modelo de
mídia dominante" e evidenciaram "os métodos terríveis ainda
utilizados pela polícia desde o tempo da ditadura".
A RSF ressalta, ainda, que durante os
protestos, "cerca de cem jornalistas foram vítimas de atos de violência,
dos quais mais de dois terços foram atribuídos à polícia".
O Brasil é citado juntamente com os
Estados Unidos, como os dois "gigantes do Novo Mundo que dão mau
exemplo". Os EUA caíram 13 posições na classificação geral em relação ao
ano passado, ocupando agora o 46° lugar do ranking de liberdade de imprensa,
ficando abaixo de países como El Salvador e Romênia.
A RSF acusa cerceamento de jornalistas
e suas fontes no país americano, por meio de processos judiciais, sobretudo no
contexto das revelações do portal Wikileaks e do ex-colaborador da Agência de
Segurança Nacional (NSA) Edward Snowden. A entidade aponta os EUA como um lugar
onde "o argumento da segurança nacional é usado para restringir a liberdade
de informação".
"Jornalistas associados ao
terrorismo"
"Mesmo países como os EUA e o
Reino Unido já associam jornalistas investigativos e suas fontes ao
terrorismo", criticou o Michael Rediske, do escritório da RSF em Berlim.
Como exemplo da "perseguição
estatal" a jornalistas investigativos, a entidade citou a imposição de uma
pena de prisão de 35 anos ao informante do Wikileaks Bradley Manning, que agora
se chama Chelsea Manning. Também a caçada a Snowden se destina, segundo a RSF,
a intimidar pessoas que poderiam repassar a jornalistas informações sobre a má
conduta de governos e autoridades.
O Reino Unido caiu três posições,
ocupando a posição 33. A Repórteres Sem Fronteiras criticou o país, que
pressionou o jornal Guardian por causa de suas revelações sobre o caso NSA,
tendo obrigado o periódico a destruir discos rígidos com informações de
Snowden.
A situação das mídias piorou de forma
dramática na Grécia, que despencou do lugar 14 para a posição 99 no ranking. No
intervalo de cinco anos, o país, debilitado pela crise, caiu 50 posições. Entre
outras causas para a queda está o fechamento de emissoras estatais. A pior
posição na União Europeia é da Bulgária, que caiu 12 posições, passando ao
lugar número 100 da classificação, devido principalmente à ação policial contra
jornalistas durante protestos.
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