Pelé
minimizou nesta quarta-feira, ontem, as ofensas racistas de torcedores no futebol, mas
ressaltou que elas devem ser coibidas e que foi alvo de racismo quando era
jogador.
"Eu
acho que tem que coibir, mas tem que saber até que nível. Porque são explosões
naturais, que não vai dar para mudar. Se fosse assim, o time brasileiro não
podia jogar na América Latina porque a gente ia ter que parar todos os
jogos", declarou o ex-jogador à Reuters, no Rio de Janeiro. "Se uma
pessoa chamar de japonês, ou de alemão, é a mesma coisa", acrescentou.
O
racismo no futebol esteve em evidência no Brasil nos últimos dias, depois que
integrantes da torcida do Grêmio chamaram o goleiro Aranha, do Santos, de
"macaco" e emitiram sons imitando o animal, em partida no dia 28 de
agosto, em Porto Alegre. Aranha reclamou com o árbitro e se mostrou indignado
durante a partida. A equipe gaúcha foi excluída pelo Superior Tribunal de
Justiça Desportiva (STJD) da Copa do Brasil por causa do episódio.
"Eu
não quero criticar o Aranha, porque é uma excelente pessoa, um amigão meu, é
calmo, é puro, mas foi pego de surpresa. Se ele fizesse a mesma coisa que o
Daniel (Alves) fez, quando jogaram uma banana lá na Europa para ele e comeu,
você viu que ninguém falou mais nada", disse Pelé, sobre gesto do lateral
brasileiro ocorrido no Campeonato Espanhol, em abril, que gerou repercussão
mundial.
"O
Aranha se precipitou em querer brigar com a torcida. Se eu fosse querer parar o
jogo a cada vez que me chamassem de macaco ou crioulo, todos os jogos iriam
parar. O torcedor grita mesmo".
Pelé
acredita que a reação do goleiro Aranha contribuiu para "toda essa
promoção para quem tem esse tipo de racismo".
O
tricampeão mundial com a seleção brasileira disse ainda que, quando era
jogador, foi vítima de racismo por diversas vezes.
"Na
minha época, em todo lugar que a gente jogava na América Latina, Argentina,
Uruguai, Paraguai, me chamavam de negro, de macaco, de tudo. A explosão do
torcedor, até aqui mesmo quando a gente ia jogar no interior, eles xingavam e
não era só eu", disse.
"Xingavam
a gente de todo nome. Eu acho, é claro, que tem que coibir, é uma coisa de
racismo e, infelizmente, o racismo não é só contra o negro, é contra o japonês,
contra o pobre. Tem que coibir. Mas eu acho que as coisas têm que ser levadas
diferente."
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