Alguns
dos 23 presos (veja lista completa abaixo) na Operação Lava Jato foram levados
às 10 horas de ontem, domingo, para fazer exames de corpo de delito. Eles saíram da
Polícia Federal de Curitiba, capital paranaense, em um comboio rumo ao
Instituto Médico Legal (IML). Por volta do meio-dia, retornaram à
Superintendência da PF. Entre eles estava o ex-diretor de Serviços da
Petrobras, Renato Duque, o presidente da UTC, Ricardo Pessoa, e o presidente da
OAS, José Aldemario Pinheiro Filho. Outros depoimentos devem ocorrer hoje.
Pelo menos dois
executivos também tiveram depoimento marcado para o primeiro dia na prisão
(sábado). Carlos Eduardo Strauch Albero e Newton Prado Junior, ambos diretores
da Engevix, tiveram a oitiva agendada após terem conversado com seus advogados,
na tarde de ontem. Os dois cumprem prisão temporária e permanecem na carceragem
da Polícia Federal em Curitiba. Os advogados argumentaram em habeas corpus
apresentado ao Tribunal Regional Federal (TRF) da 4ª Região, que não viam
motivo para que fossem mantidos presos, uma vez que seus clientes já iriam
prestar depoimento no sábado mesmo e também os mandados de busca e apreensão
haviam sido cumpridos. Porém, a desembargadora Maria de Fátima Freitas
Labarrère, do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, que já indeferiu habeas
corpus de 11 dos 23 executivos presos nesta fase da Operação Lava Jato,
considerou que não há comprovação de que a colheita de provas nas empresas
tenha se encerrado com os mandados de busca, apreensão e prisão realizados na
última sexta-feira.
“Tomando-se os
valores milionários ou bilionários destes contratos, os danos sofridos pela
empresa estatal, cujo acionista majoritário é a União Federal e, em última
análise, o povo brasileiro, atingem milhões ou até mesmo bilhões de reais. Os
depósitos identificados nas contas controladas por Alberto Youssef, eles mesmo
vultosos, na casa de milhões de reais, representam uma fração de um esquema,
segundo os criminosos colaboradores, muito maior”, afirmou a desembargadora.
“Grande parte do esquema criminoso permanece ainda encoberto, sem que se tenha
certeza de que todos os responsáveis serão identificados e todo o dinheiro
desviado recuperado”, completou.
Além de Albero e
Prado Junior, está preso na sede da PF de Curitiba o vice-presidente da
Engevix, Gerson de Mello Almada. Ele teve prisão preventiva decretada pela
Justiça e foi apontado pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e pelo
doleiro Alberto Youssef como o principal contato do esquema na empreiteira. O
habeas corpus impetrado para soltura de Almada também foi indeferido pelo
TRF-4.
Entre 2009 e 2014, a
Engevix assinou individualmente 10 contratos com a Petrobras, no valor de R$
837.862.366,62, vários deles com aditivos. Participou ainda de consórcios,
celebrando em conjunto com outras empresas contratos de R$ 3.339.668.483,82. No
total, os negócios com a estatal somaram R$ 4,177 bilhões. O repasse de
dinheiro para os partidos políticos foi demonstrado por diversos contratos
assinados pela empreiteira com empresas de fachada controladas pelo doleiro e
depósitos bancários feitos nas contas delas.
Ao negar todos os
habeas corpus apresentados entre sexta e sábado, a desembargadora Maria de
Fátima ressaltou que empreiteiras apresentaram documentos falsos à Justiça para
justificar os pagamentos feitos às empresas do doleiro, “o que demonstra a
possibilidade de destruição e ocultação de documentos”. Afirmou ainda que
emissários foram enviados para tentar cooptar testemunhas, seja por dinheiro ou
ameaça velada.
“Se as empreiteiras,
ainda em fase inicial da investigação, não se sentiram constrangidas em apresentar
documentos falsos ao Judiciário, forçoso reconhecer que integridade das provas
e do restante da instrução encontra-se em risco sem uma contra medida”, afirmou
a desembargadora.
Até a manhã deste
domingo, também tiveram habeas corpus negados os executivos Eduardo Hermelino
Leite, José Ricardo Breghirolli, Agenor Franklin Magalhães de Medeiros, Dalton
dos Santos Avancini, João Ricardo Auler, José Aldemário Pinheiro Filho, Mateus
Coutinho de Sá Oliveira e Alexandre Portela Barbosa. Os três dirigentes da
Camargo Corrêa que se entregaram no sábado à PF em São Paulo — o presidente
Dalton dos Santos Avancini; o presidente do Conselho de Administração, João
Ricardo Auler; e o vice-presidente da empresa Eduardo Hermelino Leite —
chegaram a Curtiba na noite de ontem.
Os advogados de
Hermelino Leite, que além de pagar propina é apontado como beneficiário de
parte dela, tentaram substituir a prisão preventiva por domiciliar.
Argumentaram que ele sofre de hipertensão arterial de difícil controle e que
está afastado do trabalho para ajustar os medicamentos, em função de
“importante estresse profissional”. O pedido também foi indeferido pelo TRF-4.
OS PRESOS
Estão presos na
Superintendência da PF do Paraná, dividindo três celas: Jayme Oliveira Filho,
supostamente ligado ao doleiro Alberto Youssef; da Camargo Corrêa: Eduardo
Hermelino Leite, vice-presidente, João Ricardo Auler, presidente do Conselho de
Administração e Dalton dos Santos Avancini, presidente; da companhia Engevix:
Gerson de Mello Almada, vice-presidente, Carlos Eduardo Strauch Albero,
diretor, Newton Prado Júnior, diretor; da Galvão Engenharia: Erton Medeiros
Fonseca; da IESA: Valdir Lima Carreiro, diretor-presidente, Otto Sparenberg,
diretor; da Mendes Junior: Sérgio Cunha Mendes, diretor-vice-presidente-executivo;
da OAS: José Aldemário Pinheiro Filho, presidente, Mateus Coutinho de Sá
Oliveira, vice-presidente do conselho, Alexandre Portela Barbosa, Agenor
Franklin Magalhães Medeiros, diretor e José Ricardo Nogueira; da Petrobras:
Renato Duque, ex-diretor de Serviços da Petrobras; da Queiroz Galvão: Ildefonso
Collares Filho, ex-diretor-presidente, Othon Zanoide de Moraes Filho, diretor;
da UTC: Ricardo Ribeiro Pessoa, presidente, Ednaldo Alves da Silva, Walmir
Pinheiro Santana, e Carlos Alberto Costa Silva.
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