Pessoas próximas à família de Rodrigo Gularte
dizem que o curitibano tem mostrado comportamento arredio e paranoico na
prisão. Se antes ele costumava guardar cartas enviadas por amigos, em uma visita
recente de familiares ele teria dito que sente que estão “todos contra ele” e
que está “sendo perseguido”. O comportamento levou a mãe do preso, Clarisse
Gularte, a procurar psicólogos para avaliar o brasileiro. Um médico indonésio
teria emitido um laudo recomendando que Gularte faça tratamento para
esquizofrenia, segundo a advogada Andréa Sarmento:
— Esse laudo ficou
pronto ano passado e diz que o Rodrigo está doente e precisa ser tratado. Mas
ele se recusa a tomar remédio e ir para o hospital. As autoridades locais
teriam até autorizado a transferência, mas ele não quer ir. Por isso, pediram
para alguém da família tentar convencê-lo.
O curitibano, hoje
com 43 anos, foi preso em 2004, no aeroporto de Jacarta, com a cocaína
escondida em oito pranchas. Ele seguia para Bali e estava com dois amigos, mas
assumiu a autoria do crime sozinho. Gularte já teve pedido de clemência negado,
e aguarda resposta do governo de Joko Widodo, presidente da Indonésia, para um
segundo pedido feito pela família.
Angelita Muxfeldt,
prima de Gularte, chegou a Jacarta no sábado, após três dias de viagem, para
tentar agilizar o tratamento. A viagem, que já estava marcada, coincidiu com a
execução de Marco Archer. Segundo familiares, Rodrigo tem poucos pertences na
cadeia. Assim como Archer, ele foi transferido ao menos três vezes — e a cada
transferência via livros, roupas e objetos pessoais serem apreendidos.
O advogado Cleverson
Teixeira, que assiste a família Gularte e diz conhecer o preso desde pequeno,
contou ao GLOBO que a família está tentando poupar Clarisse dos detalhes. Ela
ainda não saberia da possibilidade de execução do filho em fevereiro.
MÃE RELEMBRA
DESPEDIDA
O “Fantástico” exibiu
entrevista feita há cinco anos com a mãe de Gularte, em que ela lembra como foi
a despedida do filho antes da viagem para a Indonésia:
— Parece que ele
estava prevendo alguma coisa. Na hora que eu fui levá-lo no aeroporto, a última
imagem que eu tenho dele, ele me abraçou muito e disse: “Mãe, eu te amo”. E na
hora que ele foi, ainda me abanou e disse: “Mãe, não esqueça que eu te amo
muito”.
CINZAS
DE BRASILEIRO EXECUTADO NA INDONÉSIA SERÃO LEVADAS PARA O RIO DE JANEIRO
Reprodução
Free Curumim/ Todos Direitos ReservadosO
corpo do brasileiro Marco Archer foi cremado na Indonésia, informou hoje (18) a
embaixada brasileira em Jacarta. As cinzas serão trazidas para o Brasil pela
tia dele Maria de Lurdes Archer Pinto. Archer foi fuzilado no sábado (17) por
ter sido condenado por tráfico de drogas. Além do brasileiro, foram executados
neste sábado cinco pessoas também condenadas por tráfico de drogas.
A
execução do brasileiro criou uma crise diplomática entre Brasil e Indonésia. No
sábado (17), a presidente Dilma Rousseff – que chegou a fazer uma apelo ao
presidente Indonésia, Joko Widodo, para que Archer não fosse morto -, se disse
“consternada” e “indignada” e convocou para consultas o embaixador do Brasil em
Jacarta. No meio diplomático, a medida representa uma espécie de agravo ao país
no qual está o embaixador. Já o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira,
disse que a execução causa “uma sombra” na relação entre o Brasil e a
Indonésia.
O
carioca Marco Archer Cardoso Moreira, de 53 anos, foi o primeiro brasileiro
executado por crime no exterior. Archer trabalhava como instrutor de voo livre
e foi preso em agosto de 2003, quando tentou entrar na Indonésia, pelo
aeroporto de Jacarta, com 13,4 quilos de cocaína escondidos em uma asa-delta
desmontada em sete bagagens. Ele conseguiu fugir do aeroporto, mas foi
localizado após duas semanas, na Ilha de Sumbawa. Archer confessou o crime e
disse que recebeu US$ 10 mil para transportar a cocaína de Lima, no Peru, até
Jacarta. No ano seguinte, ele foi condenado à morte.
- O cineasta Marcos Prado, que dirigiu Paraísos Artificiais (2004) e produziu Ônibus 174 (2002) e Tropa de Elite (2007 e 2010), preparava um documentário sobre Marco Archer Cardoso Moreira, de 53 anos, executado por fuzilamento na Indonésia. Ele conversou com o Estado sobre o projeto.
Como surgiu a ideia
para o documentário?
A ideia do
documentário veio do próprio Curumim (apelido
de Marco Archer). Há dois anos ele esteve na mesma situação, no
corredor da morte, para ser executado. O advogado conseguiu que a execução
fosse cancelada. Nesse momento de tensão ele falou com um amigo nosso em comum
que me procurou perguntando se eu queria fazer um filme sobre ele. Eu resolvi
fazer. Mas, ao fazer um filme de uma pessoa que está dentro de um presídio de
segurança máxima, você não consegue muitas imagens.
Então eu estava
esperando ele sair, eu acreditava que ele iria sair por diversas razões:
pressões internacionais relacionadas à penas de morte, o ministro da Justiça da
Indonésia que é contra pena de morte, então existiam indícios de esperança de
que talvez as leis da Indonésia mudassem. Existiam boatos de que o pedido de
clemência feito pela Dilma na Rio + 20 para o presidente anterior iria
funcionar, existia um “otimismo diplomático” de estava tudo certo, estava sendo
bem negociado. Tinha esse otimismo e eu segui tendo contato com o Marco por
dois anos, por telefone, mas para realmente fazer um filme sobre o protagonista
você precisa de imagem e eu não tenho essas imagens. Então é um projeto que
ainda vai ser analisado, que eu não sei se eu vou fazer.
Você chegou a
visitá-lo na prisão?
Fui lá uma vez, em
2014. O segundo pedido de clemência feito pela Dilma não tinha sido respondido,
mas ele tinha muita fé que iria sair. O presídio em que ele ficava é moderno e
não tem similaridade com as cadeias brasileiras: tem quadra de tênis, sala de
ginástica, três igrejas, um mercadinho, uma cozinha. Se o prisioneiro quiser
comprar um prato, um frango, algo diferente do que é oferecido pelo na cantina,
ele pode. O Curumim jogava tênis todo dia, estava com a pele bronzeada, tinha
várias horas em que não precisava ficar trancafiado. A saúde dele, tanto mental
quanto física, estava em boas condições. E ele tinha essa esperança, essa
certeza na verdade, que a coisa ia se reverter para o lado dele.
Quando isso mudou?
Depois que saíram as
notícias nos jornais do mundo inteiro dizendo que o presidente ia executar seis
prisioneiro e seu nome estava na lista, no início de janeiro, Marco ficou com
sentimento dúbio. Acreditava numa saída diplomática mas mudou completamente,
óbvio. Ele estava tenso. Eu falei: “Curumim, se precisar, faz um pedido de
clemência, vamos gravar, explicando os motivos para sair daí, porque se as
coisas não andarem conforme o que você espera, vamos fazer de outra forma”. E
ele gravou aquele vídeo (que
circulou no Youtube essa semana) para tentar de alguma forma
reverter o que estava acontecendo.
O que ele queria
mostrar nesse documentário? Qual era o principal objetivo dele?
Ele me falou que não
queria ser lembrado como o primeiro brasileiro executado da história do País,
que estava arrependido, que queria falar aos jovens que não cometessem essa
burrice. Ele já estava nessa prisão há 11 anos, já tinha sido duro demais. Já a
minha motivação para fazer esse filme era contar uma história de volta por
cima, e não o roteiro trágico do anti-herói.
Queria acompanhá-lo quando ele
retornasse, seguir vendo o seu cotidiano dele, se realmente ia retomar a
rotina. Essa era a ideia do projeto. Agora ,com a execução, talvez existem
outros temas que valham a pena ser explorados. O ideal seria esse, era o meu
ideal. Eu realmente comecei a acreditar acho que o Curumim sai dessa. Mas
infelizmente não aconteceu.
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