Quatro
planilhas entregues pelo ex-gerente da Petrobrás Pedro Barusco à força-tarefa
da Operação Lava Jato indicam, à Justiça, o universo de pagamento de propinas
na estatal.
O dossiê Barusco
revela que os desvios ocorreram entre 2003 e 2011, durante os dois primeiros
governos do ex-presidente Lula e o primeiro ano da gestão Dilma Rousseff, ambos
do PT.
Naquele período,
segundo registra o documento, a estatal firmou 87 contratos em valores globais
de R$ 47,1 bilhões e US$ 12,92 bilhões (R$ 35,4 bilhões, pela cotação desta
quinta-feira, 5). Esses contratos foram firmados no âmbito da Diretoria de
Serviços. Barusco foi gerente executivo dessa área estratégica pela qual passam
todas as licitações da companhia.
Ele firmou um termo
de delação premiada com o Ministério Público Federal em novembro de 2014. Seus
relatos abriram a caixa-preta da corrupção na maior estatal do País e
provocaram a deflagração da Operação My Way, nona fase da Lava Jato, nesta
quinta-feira, 5.
Os alvos principais
da My Way são dois medalhões petistas, o tesoureiro do partido, João Vaccari
Neto, e o ex-diretor de Serviços da Petrobrás Renato Duque.
Metódico, o delator
impressionou os investigadores por sua disciplina e organização. Braço direito de
Renato Duque, ele lançava em seu computador dados relativos a cada contrato,
incluindo datas, valores dos negócios e quanto cabia a cada beneficiário da
máquina de propinas.
As anotações do
delator mostram que os anos mais férteis do esquema foram 2007 e 2008 (dois
primeiros anos do segundo mandato de Lula), com um total de 48 contratos sobre
os quais teriam sido pagos valores ilícitos. Em 2007, foram 25 contratos. Em
2008, 23.
O negócio de maior
magnitude, de acordo com o dossiê Barusco, foi celebrado em 26 de fevereiro de
2010, no valor de US$ 3,7 bilhões, para aquisição de 8 cascos do pré-sal. Sobre
este montante, o delator dividiu com Duque, segundo suas declarações, o
equivalente a 0,5%, ou aproximadamente US$ 37 milhões, US$ 18,5 milhões para
cada um.
EX-GERENTE DA PETROBRÁS DIZ
TER RECEBIDO PROPINA DESDE 1997
Pedro
Barusco afirmou que houve pagamento de propina desde o primeiro contrato de
navios-plataforma da estatal com a SBM Offshore, durante a gestão Fernando
Henrique Cardoso (PSDB).
O ex-gerente Executivo de Engenharia da Petrobrás,
Pedro Barusco, afirmou em sua delação premiada que o esquema de propinas da
estatal começou com o primeiro contrato de navio-plataforma com a holandesa SBM
Offshore, em 1997, durante o governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB). O
delator admitiu que, naquela época, recebeu propinas mensalmente em valores
variavam entre US$ 25 e US$ 50 mil, e que teria recebido um total de US$ 22
milhões em propinas da empresa holandesa até 2010.
Entre 1995 e 2003,
Barusco, que era funcionário de carreira da estatal, ocupou o cargo de gerente
de Tecnologia de Instalações, no âmbito da diretoria de Exploração e Produção.
Ele admitiu que começou a receber propina em "1997 ou 1998",
"por conta de dois contratos de FPSO (navios-plataforma) firmados mediante
sua (de Barusco) participação técnica e 'fundamental', uma vez que era o
coordenador da área técnica", diz a delação.
O ex-gerente relata
que foi o responsável pelo primeiro contrato do tipo na estatal, que foi
"peça fundamental" dos contratos seguintes de navios-plataforma da
Petrobrás, pelos quais ele também admite ter recebido propina. "Por conta
de relacionamento bastante próximo que o declarante (Barusco) desenvolveu com o
representante da SBM, Julio Faerman, tanto o declarante solicitou quanto Julio
ofertou o pagamento de propina, sendo uma iniciativa que surgiu de ambos os
lados e se tornou sistemática a partir do segundo contrato de FPSO firmado
entre a SBM e a Petrobrás", relata a delação de Barusco
. Em seu extenso
depoimento, o executivo detalhou as contas por onde o dinheiro das
propinas da SBM passou, sendo guardado na Suíça.Barusco explicou que os acordos
eram de longa duração e que, por isso "o pagamento de propinas perdurou
por longos anos" enquanto ele ocupou o cargo na Diretoria de Exploração e
Produção. Além disso, ele também admitiu ter recebido propina "por ocasião
de um outro contrato firmado entre a empresa Progress, representada por Julio
Faerman e a Transpetro", em "1997 ou 1998".
Ainda segundo
Barusco, as propinas acertadas entre ele e Julio Faerman continuaram nos anos
seguintes, quando ele já havia ocupado o cargo de gerente-executivo de
Engenharia, na diretoria de Abastecimento de Paulo Roberto Costa. Ele admitiu
ainda ter recebido propina de Faerman por um contrato de 2007, já no governo
Lula, da plataforma P57. O valor total do contrato, segundo o ex-gerente, era
de R$ 1,2 bi, do qual ele admitiu ter recebido 1% de propina entre 2007 e 2010.
Investigada na
Holanda, a SBM Offshore, empresa de locação de navios-plataforma a petroleiras,
é acusada de pagar US$ 250 milhões em propinas em todo mundo. A empresa chegou
a admitir ter pago propinas no valor de US$ 139 milhões para obtenção de
contratos e informações privilegiadas da Petrobrás. O caso também está sendo
investigado pelas autoridades brasileiras e a GCU apura o envolvimento de seis
funcionários da estatal no esquema.
COM A PALAVRA, A
DEFESA:
O criminalista
Antônio Sérgio de Moraes Pitombo, que defende o executivo Julio Faerman,
representante da SBM Offshore, disse que não poderá se manifestar sobre a
delação de Pedro Barusco porque ela está inserida em um procedimento que corre
sob sigilo. Pitombo anotou que tem o compromisso profissional de preservar o
sigilo dos autos em que Barusco cita o episódio da SBM Offshore.A reportagem
entrou em contato com a assessoria do Instituto FHC, e foi informada que o
ex-presidente estava viajando.
O
TESOUREIRO DISCRETO QUE EXPÕE O PT NO ESCÂNDALO DA PETROBRAS
João
Vaccari Neto, tesoureiro nacional do PT, está em todas as apostas do “Petrolão”
desde que o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa,
(detido em março do ano passado), chegou a um acordo de colaboração com o juiz
Sergio Moro e revelou que o ex-bancário era o suposto intermediário entre a
rede corrupta instalada na petroleira e o Partido dos Trabalhadores (PT).
“Operador do PT na trama” – foi a forma como se referiu a Vaccari o doleiro
Alberto Youssef, personagem central do caso. Segundo eles, Vaccari recebia
pessoalmente subornos das grandes construtoras em troca de obter contratos com
a Petrobras.
Recentemente,
outro delator premiado, o ex-gerente de Serviços da estatal Pedro Barusco, foi
mais adiante e afirmou que Vaccari arrecadou 200 milhões de reais para o PT nos
últimos anos. O tesoureiro nega taxativamente qualquer vinculação com o caso e
diz que as quantias recebidas pelo PT foram declaradas aos órgãos competentes.
“Jamais recebeu dinheiro em espécie como secretário de Finanças do PT”, afirmou
nesta quinta-feira seu advogado, Luiz Flávio Borges D'Urso.
A
Justiça não confia, entretanto, neste paranaense de 56 anos que se mudou para
São Paulo na infância, começou suas atividades sindicais aos 20 anos e acabou
se tornando um dos fundadores da Central Única dos Trabalhadores (CUT), no
mesmo setor que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Queremos saber
qjuais doações solicitou, sejam legais ou ilegais, às pessoas que tinham
contratos com a Petrobras”, afirmou na quarta-feira o promotor Carlos Fernando
dos Santos Lima.
Durante
a década de 1990, Vaccari liderou o Sindicato dos Bancários. Pouco depois da
chegada de Lula ao poder, tornou-se presidente da Cooperativa Habitacional do
Bancários (Bancoop), em 2004, e foi formalmente acusado de desviar recursos
para contas bancárias de diretores e, principalmente, de financiar campanhas
eleitorais do PT (inclusive a da reeleição de Lula). Também foi vinculado ao
célebre caso do Mensalão: era o homem de confiança do principal responsável
pelo escândalo, José Dirceu, chefe de Gabinete do ex-presidente.
A
qualidade mais destacada por seus companheiros é a fidelidade, a lealdade a um
partido que conhece desde sua origem. Discreto e de perfil baixo, o bancário
costuma evitar a imprensa. Tem fama de grande coletor de recursos e conta com a
máxima confiança de Dilma Rousseff e de Lula, seu amigo e companheiro.
Inclusive compraram apartamentos no mesmo edifício, no Guarujá, no litoral
paulista, quando Vaccari foi acusado de malversação no caso da Cooperativa
Residencial dos Bancários (Bancoop), que vendeu (mas não entregou) 3.000
apartamentos. Continua sem ter sido acusado formalmente de nada, mas apareceu
em muitos depoimentos da operação Lava Jato e seu interrogatório provoca
calafrios de terror em muitos escritórios em Brasília e São Paulo.
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