Os
protestos de caminhoneiros em importantes rodovias do país se espalharam nesta quarta-feira, oitavo dia de manifestação, chegando ao Estado de São Paulo e
restringindo a oferta de combustíveis e matérias-primas para a indústria de
alimentos em diversos Estados e impactando a colheita e a exportação de
produtos chaves do país, como a soja.
Postos e
distribuidoras de combustíveis no interior do país, bem como indústrias de
alimentos, como a BRF, estão sendo diretamente afetados pelos bloqueios dos
caminhoneiros, que reivindicam menores custos com combustível e pagamento de
impostos.
As manifestações,
além de interromperem o transporte interno de mercadorias, estão impactando a
chegada de produtos de exportação aos portos, com reflexo no mercado externo.
Os contratos futuros da soja fecharam em alta de mais de 1 por cento nesta
terça-feira na bolsa de Chicago, referência internacional para os preços da
commodity, com operadores preocupados com a oferta do Brasil, líder global na
exportação do grão em 2014.
No início da tarde de ontem,
manifestantes bloquearam o acesso e a saída no porto de Santos, o principal do
país e o mais importante para a exportação de soja, café, açúcar e suco de
laranja do país, além de produtos manufaturados.
A ALL, maior operador
ferroviário do país, informou que a paralisação de caminhoneiros está afetando
as operações da empresa, devido à falta de produtos nos terminais.
Os protestos se
espalharam ontem, terça-feira para cerca de 70 pontos em estradas federais, em
seis Estados (Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina, Rio
Grande do Sul e Minas Gerais), segundo o último boletim Polícia Rodoviária. Mas
há protestos também em rodovias estaduais, como no caso da Anchieta, que liga a
Baixada Santista à região metropolitana de São Paulo.
Enquanto isso, a
Justiça determinou a liberação de estradas federais bloqueadas por
caminhoneiros no Rio Grande do Sul e Minas Gerais, informou a Advocacia-Geral
da União na noite de ontem, terça-feira.
As decisões pelo
desbloqueio das estradas em Minas e no Rio Grande do Sul são as primeiras
obtidas pela AGU, órgão responsável por defender os interesses do governo
federal, que entrou com ações na Justiça para desbloquear rodovias em sete
Estados.
Os protestos ocorrem
em um momento em que o país vive um momento complicado, em meio ao escândalo de
corrupção em sua maior empresa estatal, a Petrobras.
Uma das principais
reivindicações dos caminhoneiros é a redução do preço do diesel, que sofreu
elevação no fim do ano passado, após a Petrobras sofrer anos com a defasagem
entre os preços internos e externos dos combustíveis.
COLHEITA AFETADA
A colheita de soja em
diversas fazendas do norte de Mato Grosso, maior produtor de grãos do Brasil,
foi paralisada ontem, terça-feira, em um momento que seria de trabalhos
intensos, devido à falta de diesel para abastecer o maquinário, em uma das
consequências mais visíveis dos bloqueios nas estradas do Estado.
Há risco de perdas de
parte da safra em função da paralisação dos trabalhos no campo, já que as
chuvas previstas para o fim da semana poderão estragar os grãos maduros que
restarem nas lavouras.
Os protestos de
caminhoneiros afetam também o fluxo de soja em um momento em que o mercado
internacional aguarda a oferta brasileira. A situação é preocupante também
porque, antes do início dos protestos, a colheita já estava atrasada.
"Podemos perder
parte da colheita... Sem diesel não se faz nada em propriedade nenhuma",
disse nesta terça-feira à Reuters o presidente do Sindicato Rural de Sinop
(MT), Antônio Galvan, que já recebeu relatos de paralisação em diversas
lavouras na região.
A região do
médio-norte concentra cerca de um terço da produção de soja de Mato Grosso.
A BR-163, um dos
alvos dos protestos, responde por 70 por cento do escoamento da produção
agrícola de Mato Grosso. A rodovia também é a única rota de abastecimento de
diesel e outros insumos para os municípios da região.
O trânsito de
veículos de carga está totalmente interrompido desde o final de semana em
diversos pontos da estrada por empresários do setor de transporte e caminhoneiros
que reclamam também do baixo preço recebido pelo frete.
O produtor João
Marcos Bustamante pretendia colher 50 hectares nesta quarta-feira, mas não terá diesel
para movimentar as máquinas. "Nas
distribuidoras não tem diesel. Vou ver se consigo um pouco no posto",
disse ele, ressaltando que diversas outras fazendas vizinhas, no município de
Santa Carmem, no Mato Grosso, também estão paradas.
Outro setor bastante
prejudicado é a avicultura, na qual o Brasil tem destaque internacional,
liderando as exportações de carne de frango.
Duas fábricas da
empresa de alimentos BRF, maior produtora de carne de aves do Brasil,
interromperam o processamento por falta de matéria-prima, devido aos protestos
de caminhoneiros que atingem o Estado, informou a empresa na segunda-feira. As
unidade em Francisco Beltrão e Dois Vizinhos continuavam paradas.
RESTABELECIMENTO
DEMORADO
Um empresário do
setor de combustíveis de Sinop (MT) disse que, mesmo que as estradas sejam
liberadas nesta quarta, demoraria pelo menos quatro dias para que o diesel
começasse a chegar na cidade. "Só começaria a
amenizar o problema no sábado", relatou Jonas de Paula, proprietário de um
grande posto e atacadista de combustíveis de Sinop.
A empresa dele tinha,
nesta quarta, pedidos não atendidos para 800 mil litros de diesel.
Até sábado, as
encomendas de diesel não atendidas deverão chegar a 1,2 milhão de litros,
disse. O volume equivale a uma semana de vendas da empresa, que tem 17
caminhões tanque parados nos bloqueios, tentando sair de Mato Grosso para
buscar diesel nos fornecedores.
A escassez de
combustíveis também afeta o Estado do Paraná, o segundo produtor de soja do
Brasil. Santa Catarina, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais também enfrentaram
problemas em alguns postos de abastecimento, segundo o sindicato nacional dos distribuidores
de combustíveis.
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