A
recém-instalada CPI da Petrobrás na Câmara não poderá estender o período de
investigação de irregularidades além do previsto no pedido de criação da
comissão – de 2005 a 2015, correspondentes aos governos Luiz Inácio Lula da
Silva e Dilma Rousseff. A apuração sobre desvios na estatal recebeu nesta
segunda-feira, 2, 245 requerimentos, a maioria protocolada pela oposição.
“Se quiserem fazer
uma CPI diferente do que está lá, tem de fazer outro requerimento de CPI”,
disse o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). “A ementa que está lá
tem de ser cumprida”, reiterou Cunha, que se definiu como um “regimentalista”.
Petistas como o
relator da CPI, Luiz Sérgio (RJ), defenderam a extensão dos trabalhos ao
governo Fernando Henrique Cardoso com base no depoimento do ex-gerente da
Petrobrás Pedro Barusco, um dos colaboradores da Operação Lava Jato. O delator
disse ter começado a receber propina nos anos 90. Barusco também afirmou que os
desvios na petrolífera renderam US$ 200 milhões ao PT em uma década.
“Queremos investigar
independente do governo em que aconteceu o ato ilícito”, disse o deputado
Afonso Florence (BA), único petista a apresentar requerimentos ontem. O PSDB
disse nunca ter se colocado contrário à ampliação da investigação, mas
considera a medida uma manobra do PT. Os dois partidos pediram a convocação de
Barusco, assim como Solidariedade, PSB, DEM, PPS e PSOL.
A oposição começou
cedo a protocolar seus requerimentos de convocações, acareações e acessos a
documentos. Às 4h, uma funcionária do PSDB já guardava o lugar na fila. O líder
do partido, Carlos Sampaio (SP), chegou às 6h28 para ser o primeiro a protocolar
os 57 requerimentos da legenda, às 9h.
“Precisávamos
efetivamente ser os primeiros a protocolar os requerimentos importantes para a
viabilidade da CPI da Petrobrás”, afirmou o tucano. “São requerimentos
fundamentais e, como apresentamos primeiro, serão votados antes mesmo dos
requerimentos do relator e dos demais partidos.”
Foram 202 pedidos da
oposição, ante 43 dos governistas – 40 deles assinados por Florence. O PMDB do
presidente da comissão, Hugo Motta (PB), não apresentou nenhum requerimento no
primeiro dia reservado para esse fim.
Dentre os pedidos da
oposição estão a convocação do atual presidente da Petrobrás, Aldemir Bendine e
dos ex-presidentes Graça Foster e José Sérgio Gabrielli. Também foram arrolados
os ex-ministros José Dirceu e Antonio Palocci; o titular da Justiça, José
Eduardo Cardozo, que se encontrou com advogados de empreiteiras que são alvo
das investigações; o senador Fernando Collor (PTB-AL), acusado de receber
propina do esquema; o ex-tesoureiro da campanha presidencial do PT Edinho
Silva; o tesoureiro do partido, João Vaccari Neto; o presidente do Instituto
Lula, Paulo Okamoto; e o juiz federal Sérgio Moro, responsável pela Lava
Jato.
Os requerimentos
citam ainda dois condenados pelo mensalão, o empresário Marcos Valério e o ex-tesoureiro
do PT Delúbio Soares. A socialite Val Marchiori, amiga de Bendine, também teve
a convocação pedida.
Sub-relatorias. Além dos pedidos
para convocar supostos envolvidos, o PSDB quer a criação de três
sub-relatorias, uma tática para enfraquecer a atuação de Luiz Sérgio como
relator.
No entanto, o plano
defendido por Hugo Motta é criar quatro sub-relatorias, como informou ontem o
jornal Folha de S. Paulo. Para o presidente, cada um dos objetos que motivaram
a criação da CPI deve ter um sub-relator: superfaturamento e gestão temerária
na construção de refinarias; constituição de subsidiárias e sociedades para
prática de atos ilícitos; superfaturamento e gestão temerária na construção de
navios; e irregularidades na venda operação da companhia Sete Brasil e na venda
de ativos da Petrobrás na África.
Para os
peemedebistas, embora haja divergências na interpretação, o regimento interno
permite que o presidente crie as sub-relatorias sem precisar de votação no
plenário. O PT é contrário à medida. “Nós postulamos publicamente a relatoria.
Eles (a oposição) não postularam e agora querem fazer requerimento e disputar
no plenário. É mais espetáculo”, disse
Nenhum comentário:
Postar um comentário