Em
meio a crise política que assola o Congresso e às vésperas da divulgação da
lista dos nomes envolvidos na Operação Lava Jato pelo Supremo Tribunal Federal,
a presidente Dilma Rousseff chamou nesta quarta-feira, 4, o vice-presidente
Michel Temer para uma conversa, em seu gabinete, no terceiro andar no Planalto.
Dilma queria ouvir de
Temer como estava o PMDB depois do gesto inesperado do presidente do Senado,
Renan Calheiros, na terça, que devolveu a MP das desonerações ao Planalto,
sinalizando que o governo enfrentará problemas para aprovar o ajuste. A
conversa durou cerca de 45 minutos e os dois falaram sobre o cenário. Apesar
dos problemas do PMDB com o governo, a sinalização é de que os dois continuam
caminhando juntos e tentando construir o caminho para manter a governabilidade.
Paralelamente ao
encontro de Dilma com Temer, os ministros-chefe da casa Civil, Aloizio
Mercadante, e o ministro da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), Pepe
Vargas, fizeram novas pontes com Congresso. Mercadante conversou com o
presidente da Cãmara, Eduardo Cunha, e Pepe com Renan Calheiros, agora, no
final da tarde, no Senado.
Pepe Vargas disse que
Renan falou de suas preocupações e disse que "ele é o presidente do Senado
e quer preservar independência do Senado, que acha importante manter e acha que
para pactuar melhor com o PMDB tem de ser mais ouvido em torno de alguns ações
que o governo adota".
Segundo Pepe, Renan
disse que "é preciso construir condições para desobstruir as pautas".
Não há previsão de um encontro ainda entre Dilma e Renan.
O
procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, pediu o arquivamento da
investigação envolvendo o presidente do PSDB Aécio Neves, citado em delação do
doleiro Alberto Youssef. No depoimento ao qual o Estado teve acesso, Youssef, um
dos principais delatores da Operação Lava Jato, afirmou "ter
conhecimento" de que o senador Aécio Neves (PSDB-MG), na época em que era
deputado federal, estaria recebendo recurso desviados de Furnas "através
de sua irmã".
A Procuradoria
entendeu que as informações reunidas sobre o presidente do PSDB não são
suficientes para que ele seja investigado, por isso sugeriu ao ministro Teori
Zavascki o arquivamento da denúncia.
O termo de
colaboração número 20, que registra confissão do doleiro no fim do ano passado
tem como "tema principal: Furnas e o recebimento de propina pelo Partido
Progressista e pelo PSDB". Além de Aécio, também são citados o ex-deputado
José Janene (PP, morto em 2009) e o executivo Airton Daré, sócio da empresa
Bauruense, que foi prestadora de serviços para Furnas.
O doleiro disse que
recolheu dinheiro de propina na empresa Bauruense cerca de dez vezes. Em uma
delas, o repasse não foi feito integralmente e faltavam R$ 4 milhões. Youssef
afirmou aos investigadores ter sido informado de que "alguém do PSDB"
já havia coletado a quantia pendente.
Indagado pelos
procuradores, Youssef declarou não ter conhecimento de qual parlamentar havia
retirado a comissão, mas afirmou que o então deputado federal Aécio Neves teria
influência sobre a diretoria de Furnas e que o mineiro estaria recebendo o
recurso "através de sua irmã", segundo o texto literal da delação,
sem especificar a qual das duas irmãs do senador ele se referia. O delator
disse ainda "não saber como teria sido implementado o 'comissionamento' de
Aécio Neves".
Na delação, o doleiro
descreve que de 1994 a 2001 o PSDB era responsável pela diretoria de Furnas.
Yousseff declarou que recebia o dinheiro de José Janene nas cidades paulistas
de Bauru e de São Paulo e enviava o valor para Londrina ou Brasília.
O doleiro disse ainda
que os diretores da Bauruense poderiam fornecer mais informações sobre a
diretores de Furnas e declarou ao MPF ter conhecimento de que há um inquérito
sobre a empresa de Bauru no Supremo Tribunal Federal.
Aécio disse hoje que
não tinha conhecimento sobre o teor da acusação contra ele e que o arquivamento
é "uma homenagem" da PGR.
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