No
momento em que os partidos de oposição ao governo se uniram no Congresso para
avançar juntos no movimento pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff, o
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) criticou a iniciativa.
"Impeachment não pode ser tese. Quem diz se houve uma razão objetiva é a
justiça e a polícia. Os partidos não pode se antecipar a tudo isso, não faz
sentido. É precipitação", afirmou.
A
declaração foi feita no 14° Fórum de Comandatuba, maior evento empresarial do
país, depois de um debate com ex-presidentes da América Latina. O PSDB deve
receber na próxima quarta-feira uma série de pareceres de juristas que servirão
de base para um eventual pedido de impedimento.
Questionado se a presidente pode ser responsabilizada pelas
pedaladas fiscais, utilização de recursos de bancos públicos para inflar
artificialmente os resultados fiscais e melhorar as contas da União, FHC também
rechaçou a ideia. "É especulação dizer que Dilma pode ser responsabilizada
pelas pedaladas".
O
ex-presidente também comentou a declaração feita ontem no mesmo pelo presidente
da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de que a prática vem sendo praticada
"nos últimos 12 ou 15 anos", ou seja, nas gestões tucanas.
'Falta comando'. FHC disse que falta comando político
ao País, em mais uma crítica ao governo Dilma. A frase foi em resposta a uma
pergunta do o governador do Rio Grande do Norte, Robinson Faria (PSD), sobre
"quais medidas (FHC) adotaria para salvar o País". Para o
ex-presidente, o Brasil está deixando de ser grande até mesmo na América
Latina.
O
ex-presidente tucano disse que o País só muda na crise. "E a primeira
condição é ganhar credibilidade, se não tiver isso, pode até fazer, mas não vai
fazer direito." E frisou que é preciso, ainda, ter certa humildade para
adotar as medidas necessárias, já que ninguém sabe as consequências de um
ajuste econômico.
"É
preciso diálogo (com a sociedade). Tem que haver condução política deste
processo, a inflação é desorganização das finanças públicas, é preciso condução
política para colocar ordem na casa, cortar gastos e avisar o que vai impactar
a população."
FHC
disse que o Brasil já teve vários planos econômicos e citou que o Real deu
certo porque antes de ser colocado em prática foi explicado à população do País
o que iria acontecer. "Isso fez toda a diferença, nossa estratégia foi
expor (plano) ao Brasil, dissemos com antecedência o que iria acontecer e não
impomos regras aos salários, criamos a URV e depois mudamos a moeda."
Para
o tucano, não existe êxito econômico sem uma boa condução política. "Tem
de haver comando político e eu acho que é isso que falta ao Brasil."
Drogas. Nos debates realizados no Fórum do Lide em
Comandatuba, FHC explicou sua posição sobre a descriminalização das drogas. E
ressaltou que todas elas fazem mal, sem exceção. Mas, acredita que penalizar o
consumidor não resolve o problema. "Quando se proíbe, floresce o mercado
negro e a bandidagem. Não é proibir ou não, é campanhas pela redução do
consumo. Vi isso favelas do Rio, o tráfico cresce porque tem dinheiro,
arma e mulher", destacou, falando ainda: "Se pessoa é drogada não
adianta prender, tem que regular, tem que haver combate à produção e o
mais importante, tem que fazer campanha para redução, como se fez com o
cigarro."
Provocação. No momento em que a presidente Dilma vive a
expectativa de enfrentar problemas na aprovação, no Senado Federal, do seu
indicado para a vaga do STF, o advogado Luis Edson Fachin, FHC fez hoje uma
provocação indireta. "Eu nomeei alguns ministros e jamais tive a liberdade
de pegar o telefone para pedir um voto a qualquer ministro (STF)", disse.
O
jurista gaúcho deverá ser sabatinado pelos senadores no dia 29 deste mês. Entre
os petistas, há o temor de que o senador Renan Calheiros, presidente da Casa,
crie dificuldades ou constrangimentos, uma vez que ele teria ficado
insatisfeito com a indicação de Henrique Eduardo Alves para o Ministério do
Turismo, no lugar de um aliado seu.
FHC
disse ainda que a liberdade de imprensa, que é a vida da democracia, é um dos
principais instrumentos que o País tem. E ele não acredita que isso será
alterado. "Não vão colocar nunca uma rolha na imprensa, isso é
conversa."
Nenhum comentário:
Postar um comentário