quarta-feira, 13 de maio de 2015

DONA ZENAIDE, UMA ETERNA MENINA

Dona Zenaide - Foto do arquivo pessoal de Jane Eire Nunes

Eu vou descer, 
A hora de sambar chegou,
No morro eu não posso ficar,
Rei Momo foi quem mandou me chamar,
Cidade, boa tarde pra você
O Asas do Samba vai descer
E cantar pra você ver’

Composto por Zé Jardim, harmonizado pelo maestro Tchacatchá, cantado por Laurindo Trindade, cadenciado pela batuta e pelo apito de Otaviano e ritmado pelos batuqueiros  Pedro Neto, Cajueiro, Zé Maria, Mundiquim, Sotero, Kleber, Duca, Zeca de Filuca, Kalil, Simão, Seu Rubens, Ferreira, Raimundim rasteiro, Tico, João Caçambeiro, Rato, Welbert Oiliveira, Corró, carlinhos Santos, Gudão, Ananias, Dário, Teodoro Andrade, Sérgio Lelo, Moura, Adelino e tantos outros, esse samba invadiu o carnaval de Bacabal e virou o hino e hoje faz parte do nosso cancioneiro da nossa grande festa de Momo. 

Vestida de vermelho e branco, cantava e desfilava pelas ruas de Bacabal o Asas do Samba, escola que fez história e entre tantos capítulos, uma das principais personagens desse livro tão volumoso, nos deixou assim; sem entender o enredo desse samba. Dona Zenaide foi morar no céu.

Quando o carnaval se aproximava, a velha casa na Rua Osvaldo Cruz, em frente ao Hospital Santa Terezinha, ficava abarrotada de passistas, batuqueiros, mestres-salas, portas-bandeiras, balizas, destaques, todos com um único objetivo, vestirem as fantasias desenhadas, costuradas e bordadas por Dona Zenaide, a figurinista do Asas do Samba, a carnavalesca da cidade.

Contemporânea de Nancy Nunes, Dulcinéia Nunes, Adelaide e Madian, ela, assim como as outras musas, foram exaltadas com paixão nos poemas de Brasilino Miranda e nas canções de Vadoca, raridades que valem ouro e que são preservadas nos acervos de poucos colecionadores.

Sempre sorridente dentro de um vestido solto, ela ganhava a vida com uma fita métrica envolta ao seu pescoço. Amiga, dedicada, aquele jeitinho “moleque” de ser e levar a vida, sempre lhe deu a aparência de uma “eterna menina”, e assim ela nos deixou, com toda a essência de quem continua entre nós, e está, em nossas lembranças e na parte mais rasa do nosso coração, que no fundo, no fundo, bate de saudade como aquele surdo que invadia a avenida soltando os sons da alegria e anunciando que era carnaval.

Dona Zenaide sempre teve ao seu alcance o giz que riscava os mais finos tecidos, a tesoura que cortava , a linha de seda que em uma agulha de aço, alinhavava a história de tantas histórias que caberá apenas ao tempo, escrever o último capítulo e com um final feliz.

Mãe de Giordano, Acléia e Gilvanete, Dona Zenaide vestiu toda uma cidade, cantou, foi cantada, poetizada, desenhou, cortou, costurou, cerziu, bordou, e hoje nos olha lá de cima com o mesmo vestido solto, com a mesma fita métrica no pescoço, cercada de alfinetes e dedais, com o mesmo sorriso e com a maior felicidade por estar preparando as fantasias que desfilarão no próximo carnaval do céu.

Fica na paz e um grande beijo.

Deus te ama, nós também

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