domingo, 14 de outubro de 2018

DIAGNOSE – DICA DE SAÚDE - SÍNDROME DE GUILLAIN-BARRÉ?


A Síndrome de Guillain-Barré é uma doença autoimune inflamatória dos nervos e de suas porções próximas a suas origens junto a medula espinhal, caracterizada por quadro de fraqueza progressiva, podendo levar a insuficiência respiratória.
A Síndrome de Guillain Barré é uma das doenças causadas pelo Zika vírus, mas esta não é sua única causa. Ela pode ser caracterizada como problema neurológico que envolve os nervos periféricos das pernas e dos braços, normalmente secundário a uma infecção viral, bacteriana respiratória ou intestinal.

Tipos

Antigamente, acreditava-se que a Síndrome de Guillain-Barré era uma doença de um tipo só. Agora sabe-se que ela pode ocorrer de diversas formas, como:

Polirradiculoneuropatia Desmielinizante Inflamatória Aguda (AIDP)

É o tipo mais comum nos Estados Unidos. O sinal mais comum dessa forma da doença é a fraqueza muscular que começa na parte inferior do seu corpo e se espalha para cima.

Síndrome de Miller Fisher (MFS)

Aqui, a paralisia começa nos olhos. A MFS também está associada ao caminhar instável e ocorre em cerca de 5% dos pacientes com a Síndrome de Guillain-

Neuropatia Motora Axonal Aguda

É um dos tipos menos comuns, afetando mais jovens e adultos, ela é mais frequentes na China, no Japão e também no México. Esse tipo de neuropatia é caracterizada por atacar os nódulos de ranvier dos nervos motores.

Neuropatia Motora-sensorial Axonal Aguda

É um dos tipos menos comuns, afeta principalmente adultos, ela é mais frequentes na China, no Japão e também no México. É semelhante a neuropatia motora axonal aguda, atingindo os nervos sensoriais e as raízes dos nervos. Neste caso, a recuperação é mais lenta.

Causas

As causas da doença ainda é muito estudada dentro da medicina, contudo em 2015 o Ministério da Saúde confirmou que a infecção pelo Zika Vírus pode provocar também à Síndrome de Guillain-barré, confira aqui. No Brasil, a ocorrência de síndromes neurológicas relacionadas ao vírus Zika foi confirmada após investigações da Universidade Federal de Pernambuco, a partir da identificação do vírus em amostra de seis pacientes com sintomas neurológicos com histórico de doença exantemática. Deste total, quatro foram confirmadas com doença de Guillain-barré.

Na síndrome de Guillain-Barré, o sistema imunológico de uma pessoa, que é responsável pela defesa do corpo contra organismos invasores, começa a atacar os próprios nervos, danificando-os gravemente.O dano nervoso provocado pela doença provoca formigamento, fraqueza muscular e até mesmo paralisia. A síndrome de Guillain-Barré costuma afetar mais frequentemente o revestimento do nervo (chamado de bainha de mielina). Essa lesão é chamada de desmielinização e faz com que os sinais nervosos se propaguem mais lentamente. O dano a outras partes do nervo pode fazer com que este deixe de funcionar completamente.

Outros vírus e bactérias associados ao Guillain-Barré são o Campylobacter jejuni, Citomegalovírus, vírus Epstein-Barr, vírus Varicella-zoster. O mecanismo autoimune que leva esta doença a destruir os nervos periféricos após uma infecção é conhecido de "mimetismo molecular", ou seja, existem pequenas partículas protéicas nestes vírus e/ou bactérias que são semelhantes a proteínas do nosso organismo e, ao produzir anticorpos, nosso corpo acaba destruindo tanto os vírus/bactérias, como os nervos periféricos das pernas e braços.

Fatores de risco

A síndrome de Guillain-Barré pode afetar todos os grupos etários. Pessoas inseridas dentro de determinados grupos podem estar sob maior risco do que outras, especialmente pessoas do sexo masculino e adultos mais velhos. Além disso, a síndrome pode ser desencadeada por:
  • Mais comumente, por uma infecção com a Campylobacter, um tipo de bactéria frequentemente encontrada em aves mal cozidas
  • Vírus Influenza
  • Vírus de Epstein-Barr
  • HIV, o vírus da Aids
  • Pneumonia
  • Cirurgia
  • Linfoma de Hodgkin
  • Raramente, vacinas da gripe ou a vacinação infantil.

Sintomas de Síndrome de Guillain-Barré

Os sintomas típicos da Síndrome de Guillain-Barré incluem:
  • Perda de reflexos em braços e pernas
  • Hipotensão ou baixo controle da pressão arterial
  • Em casos brandos, pode haver fraqueza em vez de paralisia
  • Pode começar nos braços e nas pernas ao mesmo tempo
  • Pode piorar em 24 a 72 horas
  • Pode ocorrer somente nos nervos da cabeça
  • Pode começar nos braços e descer para as pernas
  • Pode começar nos pés e nas pernas e subir para os braços e a cabeça
  • Dormência
  • Alterações da sensibilidade
  • Sensibilidade ou dor muscular (pode ser cãibra)
  • Movimentos descoordenados
Outros sintomas podem ser:
  • Visão turva
  • Descoordenação e quedas
  • Dificuldade para mover os músculos do rosto
  • Contrações musculares
  • Palpitações (sentir os batimentos cardíacos)
Os sintomas da Síndrome de Guillain-Barré podem piorar rapidamente. Os sintomas mais graves podem demorar apenas algumas horas para aparecer, mas a fraqueza que aumenta ao longo de vários dias é normal.
A fraqueza muscular ou a paralisia afeta os dois lados do corpo. Na maioria dos casos, a fraqueza começa nas pernas e depois se propaga para os braços. Isso é chamado de paralisia ascendente.
Os pacientes podem notar formigamento, dor nos pés ou nas mãos e descoordenação. Se a inflamação afetar os nervos do diafragma e do peito, e se houver fraqueza nesses músculos, a pessoa poderá necessitar de assistência respiratória.

Buscando ajuda médica

Alguns sintomas são emergenciais. Isso quer dizer que, se você senti-los, você deve procurar ajuda médica imediata. São eles:

Na consulta médica

Especialistas que podem diagnosticar a Síndrome de Guillain-Barré são:
  • Clínico geral
  • Neurologista
  • Infectologista.
Estar preparado para a consulta pode facilitar o diagnóstico e otimizar o tempo. Dessa forma, você já pode chegar à consulta com algumas informações:
  • Uma lista com todos os sintomas e há quanto tempo eles apareceram
  • Histórico médico, incluindo outras condições que o paciente tenha e medicamentos ou suplementos que ele tome com regularidade
  • Se possível, peça para uma pessoa te acompanhar.
O médico provavelmente fará uma série de perguntas, tais como:
  • Quais são seus sintomas e quais partes do seu corpo são afetadas?
  • Quando você começou a sentir sintomas? Eles começaram de repente ou gradualmente?
  • Seus sintomas parecem estar se espalhando ou piorando?
  • Se você está sentindo fraqueza, isso afeta um ou ambos os lados do seu corpo?
  • Você já teve problemas com o controle da bexiga ou intestino?
  • Você teve algum problema de visão, respiração, mastigação ou deglutição?
  • Você recentemente teve uma doença infecciosa?
  • Você passou algum tempo recentemente em uma área florestal ou viajou para o exterior?
  • Você já teve algum procedimento médico, incluindo vacinas?
Também é importante levar suas dúvidas para a consulta por escrito, começando pela mais importante. Isso garante que você conseguirá respostas para todas as perguntas relevantes antes da consulta acabar. Para Síndrome de Guillain-Barré, algumas perguntas básicas incluem:
  • Qual é a causa mais provável dos meus sintomas?
  • Que tipos de testes eu preciso?
  • Que tipo de tratamentos eu preciso?
  • Em quanto tempo você espera que meus sintomas melhoram com o tratamento?
  • Quão plenamente você espera que eu me recupere?
  • Quanto tempo dura a recuperação?
  • Estou em risco de complicações a longo prazo?
Não hesite em fazer outras perguntas, caso elas ocorram no momento da consulta.

Diagnóstico de Síndrome de Guillain-Barré

A Síndrome de Guillain-Barré pode ser difícil de diagnosticar em seus estágios iniciais. Os sinais e sintomas são semelhantes aos de outras desordens neurológicas e eles podem variar de pessoa para pessoa.
Seu médico provavelmente começará seu diagnóstico fazendo perguntas sobre seu histórico clínico. Um histórico de fraqueza muscular crescente e paralisia pode ser um sinal da síndrome de Guillain-Barré, principalmente se houve uma doença recente.
Um exame médico pode mostrar fraqueza muscular e problemas nas funções involuntárias (autonômicas) do corpo, como pressão arterial e frequência cardíaca. O exame também pode mostrar se os reflexos, como os do joelho, estão diminuídos ou ausentes.
Pode haver sinais de diminuição da respiração causada por paralisia dos músculos respiratórios

Exames

Os seguintes exames podem ser solicitados para diagnosticar a doença:
  • Amostra do líquido cefalorraquidiano (punção lombar)
  • Eletrocardiograma (ECG)
  • Eletromiografia (EMG), que testa a atividade elétrica nos músculos
  • Exame de velocidade de condução nervosa
  • Exames de função pulmonar.

Tratamento de Síndrome de Guillain-Barré

Não existe cura para a síndrome de Guillain-Barré. Entretanto, há muitos tratamentos disponíveis para ajudar a reduzir os sintomas, tratar as possíveis complicações e acelerar a recuperação do paciente.
Quando os sintomas são graves, a hospitalização será recomendada para dar continuidade a um tipo de tratamento mais específico, que pode incluir aparelhos de respiração artificial.
Nos estágios iniciais da doença, tratamentos que removam ou bloqueiem a ação dos anticorpos que estão atacando as células nervosas podem reduzir a gravidade e a duração dos sintomas da Síndrome de Guillain-Barré.
Um desses métodos é chamado de plasmaferese e é usado para remover os anticorpos do sangue. O processo envolve extrair sangue do corpo, geralmente do braço, bombeá-lo a uma máquina que remove anticorpos e depois enviá-lo novamente ao corpo.
Outro método é bloquear os anticorpos usando altas doses de imunoglobulina. Nesse caso, as imunoglobulinas são adicionadas ao sangue em grandes quantidades, bloqueando os anticorpos que causam a inflamação.
Outros tratamentos disponíveis têm por objetivo prevenir complicações.
  • Podem ser utilizados anticoagulantes para prevenir coágulos sanguíneos
  • Se o diafragma estiver debilitado, pode ser necessário o uso de um auxílio respiratório ou até mesmo de um tubo e um ventilador respiratórios
  • A dor é tratada com remédios anti-inflamatórios e narcóticos, se necessário
  • O posicionamento adequado do corpo ou um tubo de alimentação podem ser empregados para evitar engasgar durante a alimentação se os músculos usados para deglutição estiverem debilitados.
Pessoas com Síndrome de Guillain-Barré precisam de ajuda física e terapia antes e durante a recuperação. Os cuidados podem incluir:
  • Movimento dos braços e pernas pelos profissionais de saúde antes da recuperação, para ajudar a manter os músculos flexíveis e fortes
  • Fisioterapia durante a recuperação para ajudá-lo a lidar com a fadiga e recuperar a força e o movimento adequado. Em alguns casos pode ser indicado a fisioterapia neurofuncional
  • Treinar com dispositivos adaptativos, como uma cadeira de rodas ou suspensórios, para oferecer habilidades de mobilidade e autocuidado.

Medicamentos para Síndrome de Guillain-Barré

Os medicamentos mais usados para o tratamento da síndrome de Guillain-Barré são:
Somente um médico pode dizer qual o medicamento mais indicado para o seu caso, bem como a dosagem correta e a duração do tratamento. Siga sempre à risca as orientações do seu médico e NUNCA se automedique. Não interrompa o uso do medicamento sem consultar um médico antes e, se tomá-lo mais de uma vez ou em quantidades muito maiores do que a prescrita, siga as instruções na bula.

Síndrome de Guillain-Barré tem cura?

A recuperação pode demorar semanas, meses ou anos, mas não existe cura para a síndrome de Guillain-Barré. A maioria das pessoas sobrevive e se recupera completamente. Os sintomas de fraqueza podem persistir em algumas pessoas por muitos anos mesmo com tratamento.
É mais provável que o prognóstico do paciente seja muito bom se os sintomas desaparecerem dentro de três semanas do início da doença.

Complicações possíveis

Se não for tratada, a síndrome pode evoluir algumas complicações de saúde graves:
  • Dificuldade para respirar (insuficiência respiratória)
  • Contraturas das articulações ou outras deformidades
  • Trombose venosa profunda (coágulos sanguíneos que se formam quando alguém está inativo ou confinado a uma cama)
  • Maior risco de infecções
  • Pressão arterial baixa ou instável
  • Paralisia permanente
  • Pneumonia
  • Lesões na pele (úlceras)
  • Aspiração de alimentos ou líquidos para dentro do pulmão

Existe alguma relação entre vacinação e a Síndrome de Guillain-Barré?

A vacinação estimula o sistema imunológico e pode, raramente, desencadear a Síndrome de Guillain-Barré. Portanto, não há contraindicação para qualquer forma de vacinação.

Convivendo/ Prognóstico

Após os primeiros sinais e sintomas, a doença tende a agravar-se progressivamente para cerca de duas semanas. Os sintomas atingem seu ápice em aproximadamente quatro semanas.
A recuperação começa logo depois, geralmente com duração de seis meses a um ano, embora para algumas pessoas possa demorar até três anos.
Entre os adultos que se recuperam da síndrome de Guillain-Barré:
  • Aproximadamente 80% podem andar independentemente seis meses depois do diagnóstico
  • Cerca de 60% recuperam totalmente a força motora um ano após o diagnóstico
  • Cerca de 5 a 10% têm uma recuperação muito atrasada e incompleta.
As crianças, que raramente desenvolvem síndrome de Guillain-Barré, geralmente se recuperam mais completamente do que os adultos.

Prevenção

Não existe prevenção específica para a doença, entretanto a prevenção de infecções como a gripe, dengue e zika pode ajudar a reduzir a chance de apresentar a Síndrome de Guillain-Barré.


Por Dr. Otávio Pinho Filho

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