Por José Sarney
Fui matar saudades na Praia Grande, rever o Centro
Histórico, cumprir alguns deveres e realizar desejos. O maior deles: visitar a
Casa Josué Montello, que preserva o acervo de meu grande amigo, orgulho de
nossa terra. Basta lembrar o maior romance sobre a escravidão no Brasil: “Os
Tambores de São Luís”, em que ele, por amor, incluiu no título limitativo o
nome da cidade em que nasceu. A França bem entendeu isso e, na versão francesa,
usou apenas “Les tambours noirs“.
Fiquei feliz. Estive várias vezes com ele na Casa
Josué Montello. Muitas tardes no pequeno apartamento em que ele morava com
Ivone, conversamos sobre história do Maranhão e literatura. A Casa está
impecável. Bem organizada, tratada com mãos de carinho e amor. A visitação do
centro cultural é grande.
Depois fui à Livraria AMEI e tive outra
satisfação. O imenso acervo só de autores maranhenses continua crescendo e
recebo a informação de que se está editando quatro livros por semana no
Maranhão. Novos talentos, grandes temas, jovens autores.
Em seguida, andei pelo Desterro e aí acabou minha
alegria. Sua igreja está desmoronando — e ela é a mais antiga da cidade,
com seu estilo único. Felizmente, temos Kátia Bogéa, que vai restaurá-la, como
está fazendo por toda a cidade. Já concluiu a da Praça Deodoro e a da Rua
Grande; agora começa a do Largo do Carmo e planeja muitas outras
realizações. Ela, que é um exemplo de administradora, talentosa,
inteligente, dedicada e com grandes serviços já prestados ao Maranhão e ao
Brasil, está dando um show na sua atual administração do IPHAN pelo Brasil
inteiro.
Mas quase chorei — se não chorei
mesmo — ao ver as ruas abandonadas,
esburacadas, três mil camelôs nas calçadas; os sobradões caindo, as placas de
“Aluga-se” e “Vende-se” como a decoração da decadência.
Recordo quando fui governador
A cidade só tinha paralelepípedos soltos, pedras
desmanchando-se. Fiz o calçamento de toda a cidade. Toda mesmo. O
asfaltamento que resiste até hoje é do meu tempo. Faltava água, construí o novo
sistema com as grandes caixas d’água que hoje marcam a paisagem de São Luís;
fiz a barragem e adutora do Batatã; ampliei a estação de tratamento do Sacavém
e mudei a encanação da cidade, feita na década de 20, no tempo do Governador
Godofredo Viana.
Não fiz só a Barragem do Bacanga, a Ponte do
Caratatiua, a de S. Francisco, as habitações do Anil, a Avenida Kennedy, a dos
Franceses, o Hospital Carlos Macieira, a TV Educativa, as faculdades e a
universidade. Toda a cidade foi bem tratada.
Agora vejo São Luís desse jeito. Trânsito caótico,
bairros chorando por melhores condições de vida.
Estou com medo de perdermos o título dePatrimônio
CUltural da Humanidade. Assumimos com a Unesco o compromisso de conservar São
Luís e fazer dela referência turística.
O espaço é pouco para falar mais. Não é uma
crítica: é um pedido de socorro.
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