Por José
Sarney
Escrevi
várias vezes tratando sobre a pobreza do Maranhão e também, é óbvio, sobre
nossos sonhos de riqueza. Sempre disse que o Criador não foi muito generoso
conosco. A começar pela errada avaliação, muito repetida, de que nossas terras
eram excelentes. Na verdade, nossas terras são muito pobres e somente temos uma
faixa de terra muito boa, na área de Grajaú e Fortaleza dos Nogueiras. É
uma mancha. No resto são terras ácidas e arenosas. São Paulo, Paraná, e uma
faixa do sul de Minas têm terras excelentes, “roxas”, que possibilitaram o
desenvolvimento do ciclo do café, primeira fase do processo de formação da
economia do Brasil independente. Daí a riqueza desses estados, hoje na fase
industrial.
Segundo,
não temos em nosso território nenhum minério, economicamente expressivo. A
melhor coisa que temos, e capaz de alavancar o Estado, é o porto do Itaqui. No
mundo, poucos como ele. Por outro lado nossas marés, das maiores do mundo,
ajudam a mantê-lo, sem necessidade de dragagem. Agora leio que um estudioso da
ecologia nos aponta outra vantagem, que é de servirem de saneamento, levando as
sujeiras da Baía de São Marcos para o alto mar.
Itaqui já
é o terceiro porto do Brasil, responsável pelo escoamento de 18% das
exportações brasileiras. Por ele passam anualmente 280 milhões de toneladas de
carga: minério de ferro, manganês, gusa, cobre, pelotas, carvão, combustível,
soja, milho e carga geral. 65% de toda essa carga se destina à China.
Fazendo a
análise que através de um grande porto se constrói uma grande civilização, todo
meu esforço foi para construir o Porto do Itaqui, o que conseguimos fazer
durante meu governo.
A
primeira grande luta foi a de convencer o Governo Federal de mandar recursos
para isso. Recordo que numa reunião, logo depois de 64, veio o Ministro
Andreazza com a equipe da Diretoria dos Portos. Fizemos uma reunião no próprio Itaqui,
naquele tempo uma mata de difícil acesso. O almirante responsável pela
Diretoria abriu o encontro dizendo que não podíamos construir um porto, que não
tinha carga a receber, nem nada a escoar. Reforçou sua argumentação dizendo
ainda mais, que não tinha estudo de viabilidade. Argumentei sobre o futuro,
inventei indústrias que iríamos ter, a começar pela fábrica de cimento de Codó
— que conseguíramos — com o empresário João Santos etc e tal.
O
almirante foi insensível e voltou a falar na falta de estudo de
viabilidade. Aí, eu apelei e disse: o Duque de Caxias foi governador da
Província do Maranhão ao tempo na Balaiada e disse, em mensagem a Assembleia,
que o porto de São Luís estava assoreado e que era preciso fazer o Porto do
Itaqui. E indaguei: “O Senhor acha, Almirante, que o Duque de Caxias ia
fazer um porto sem estudo de viabilidade? Isto tem cem anos e ainda se
precisa de estudo?” Andreazza bateu o martelo. “É, Almirante, o Governador Sarney
nos levou às cordas, com o Duque de Caxias. Vamos fazer o porto.”
Hoje,
repito, é o terceiro do Brasil. Outra luta foi trazer Carajás para o Itaqui.
Outra, foi fazer a Norte-Sul, que vai transportar toda a produção agrícola do
Centro Oeste para cá.
E também,
hoje, ainda temos a luta de fazer funcionar a Base de Alcântara. A Base, a
Norte-Sul e o Porto do Itaqui, serão as grandes alavancas do futuro do
Maranhão. Quem viver verá.
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