domingo, 15 de dezembro de 2019

PONTO DE VISTA - TURMA DO QUINTO – UM TIRO EM CADA PÉ - POR TÂNIA TOMAZ


Estive analisando o Edital da Turma do Quinto para o carnaval 2020 e também os sambas que disputaram o concurso. Tema – “Bacabal de azul e branco, cem anos de histórias e glórias” . Pra começar, gostei muito da sinopse, compacta, bem elaborada e com atores e palcos realmente dignos de serem mostrados na avenida. Até aí tudo bem.
Das onze propostas inscritas, houve duas desistências, inclusive uma daqui da cidade, a de R. Cavalcante que conta com detalhes a história de Bacabal, mas que não seguia a sinopse à risca, e ficou grande, por isso, acho eu, que não participou da disputa.
A primeira eliminatória rolou de forma pacífica, cinco concorrentes,  ficando dois sambas para a grande final, o de Alisson Ribeiro, Dominguinhos Lopes, Eulálio Figueiredo e Renato Guimarães e o de Manoel Henrique, Carlos Boniek e Cecel Mix, cantores da própria escola, que não poderia participar da disputa, mas que viria a ser o vencedor. É a Turma do Quinto legislando em causa própria.


Na segunda eliminatória, a escola deu mais uma prova de que já estaria com o resultado no bolso, com a desistência do bacabalense R. Cavalcante, apenas quatro concorrentes, e o samba composto por Zé Lopes, Walasse Godinho, Gilvan Mocidade e Manu Lopes, ganhou logo o apoio popular, por ter os melhores refrãos, seguir os novos padrões de métrica, rima e tamanho. O samba do Nato Silva até que tinha uma boa letra, dentro da sinopse, mas a melodia muito ruim e a péssima interpretação, levou o samba a uma nota baixa. Quanto a proposta  mais midiática do concurso, a das compositoras Carol Cunha, Selma Delago, Wanda Cunha e Isabel Cunha, apesar de bonita, não apresentava nenhuma viabilidade para a avenida, pois a letra quilométrica, com mais de 60 linhas, já lhe deixava fora da disputa. Apesar do regulamento rezar que apenas duas propostas de cada eliminatória chegaria a final, a segunda eliminatória elegeu três. A pergunta é a seguinte: Se o bacabalense R. Cavalcante participasse da disputa, seriam quatro, os sambas classificados?
E a final chegou cheia de expectativas, principalmente para os bacabalenses que torciam pelo samba dos filhos da terra, os políticos, os comerciantes, as partes homenageadas e a maioria dos presentes.  A escola já havia descartado a proposta de Alissom Ribeiro, Dominguinhos Lopes, Eulálio Figueiredo e Renato Guimarães pois esses já teriam vencido na Flor do Samba, já teria descartado a proposta das meninas Carol Cunha, Wanda Cunha, Selma Delago e Isabel Cunha por ser muito longo, e quando um diretor, o mesmo que escolheu os jurados, disse que a proposta dos bacabalenses tinha muita politica, ali estava provado a farsa e os cantores da própria escola sagrariam-se campeões. Mesmo contrariando o edital. E isso é fato.
A proposta de Manoel Henrique, Carlos Boniek e Cecel Mix, não tem nada a ver com a cidade de Bacabal, por isso não merece nem reverências e nem referências. Um samba para uma cidade que completará cem anos, que tem o nome de Bacabal e que já começa com “gira baiana”, não representa o nosso município. “Finada Edite”... Aqui a chamamos de Milagreira Edite, a santa canonizada pelo povo... “Guarimã”... o que é isso? Pergunte a algum bacabalense!. E pra provar todo o desconhecimento dos autores, “Santa Terezinha das Rosas Vermelhas” não é a nossa padroeira.. a “Santíssima Trindade poderia ser trocada por Papete, João Mohana e João Alberto, já que “Bandeira de aço” é o nome de uma música e de um LP, o “Vôo do João”, não identifica nada e nem ninguém, “o padre”, tivemos muitos, inclusive bispos, e pra piorar, é o único samba do concurso que homenagearia o centenário de Bacabal e que não faz nenhuma referencia ao fato. Na verdade, um samba feito por pessoas que nunca vieram a Bacabal, um samba feito por pessoas que não conhecem a nossa história, um samba que não representa a cidade. um samba apenas para agradar os quintenses, do nada pra lugar nenhum, portanto não podia ser diferente.

Pelo menos cinco alas já estavam sendo preparadas por bacabalenses. Aqui, três carnavalescos, Salomão Duarte, Léa Valdilena e Janete Waléria, já se articulavam e destaques como Tereza Santos e Marlélia Santos, já desenhavam suas fantasias.

Em São Luís a carnavalesca e advogada Dra. Graça Almeida, também articulava uma ala com bacabalenses que lá residem e o ex atleta, campeão pelo Bacabal Esporte Clube, o Silinha, se movimentava para montar a ala dos ex-jogadores. Ia realmente ser Bacabal na avenida.

O bom em tudo isso, é que aqui, faremos o nosso carnaval centenário sem nenhum motivo pra pensar em Turma do Quinto. Outra coisa boa é que, se nem os compositores do samba campeão vieram aqui,  ninguém da escola pode vir pedir alguma coisa, e, segundo o carnavalesco da escola, estava pensando em mudar até o tema. Não é preciso mudar o tema, o tema é o que a escola escolheu, o samba é o que a escola escolheu. É o tema dos cantores, carnavalescos e diretores da escola. Só não é Bacabal.

Tânia Tomaz

É pedagoga, professora, poetisa, cantora, compositora, pesquisadora, historiadora, blogueira e bacabalense.

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