sábado, 26 de setembro de 2020

GALÊGO, UMA LINDA CANÇÃO PRA DEUS

"Galego era companheiro, parceiro,momentos musicais personificados, pai amoroso,  cheio  de ternura, simplicidade e carismas que lhe  eram  peculiares."

Graça Almeida 

Não é só a pandemia que  tem tirado do nosso meio,  pessoas especiais, amigos, companheiros, malungos,  parceiros de arte, cruz e penitência. 

No meu caso, faz tempo que faltam dedos pra contar o número de artistas, principalmente da música, que partiram desta para a eternidade , literalmente eternidade ja que, parafraseando o mundo, o artista é eterno.


Assim  é  Galego 

Dono da noite vazia

Amante da boemia

Da vida que pulsa aqui 

Agora em outra estrada 

Continuando a jornada 

Com sua viola amada

Tocando a saudade em mim.

Paulo Campos


Perdemos o desconhecido  Webster Campos, se fosse chamado pelo nome de batismo, mas, se chamarmos de Galêgo ou Galegão, aí a comoção toma proporções inimagináveis e sua partida se torna uma uma grande fenda, uma lacuna, um buraco profundo,  cheio de vazio e silêncio  a ecoar em compassadas repetições, mais um nome que deixará ainda mais pobre, a nossa tão  empobrecida Musica Popular Brasileira. "Ficam as lembranças dos bons momentos e a tristeza do luto eterno"; frisa o amigo, engenheiro, cantor e compositor Osvaldino Pinho



Galêgo nos deixa no momento mais atípico e vivido pelo meio musical. É  uma catarse perversa a  nos arrasar e nos fazer engolir a seco a certeza de que a nossa geração sucumbe a passos largos e dentro desse sobressalto, a agonia de nos vermos cada vez mais distantes e sozinhos. 

Galego foi meio menino em Bacabal e logo se tornou jovem e homem bacabalense. Era do Rio Mearim, do quintal da minha casa, das piadas sem graça, da cachacinha nos bares, nos botecos, das longas noites de muita música, pinga, goiaba verde, carambola, limãozinho no movimento violão na praça junto com Abel Carvalho, Antônio Trabulsi Sobrinho, Péricles Augusto, Henrique Franklin, Ezrael Fernando,   Luis Carlos, João Teixeira, Paulo Campos, Jorge Campos, Velman, Herivelton, Firmo Filho, Lício, Luciano, Miltão, Chico Pitú, Riba Chaves, Jânio Chaves, Kallil Trabulsi  Otávio Filho, Osvaldino Pinho, Manoel Diniz  Marquinhos, Tchaca, Lourinho Vieira, Fran Cruz, João Sobrinho, Nandinho Nunes, dentre outros."Falar de Galego é sinônimo de alegria, companheirismo e música. Não ouvirei mais aquela frase que ele sempre falava: - como vai jumentinho. Prefiro pensar, não como um adeus e sim como um até logo. Nos vemos por aí.  Saudades amigo." Lamenta o amigo, médico, cantor e compositor Otávio Pinho Filho

Tínhamos a mania de passsr o dia no Rio Mearim e algumas meninas nos acompanhavam como Léa  Waldilena, Deth Magalhães, Janete Valéria, Verinha Viana, Providência e Lucilene Borges.

Parceiros como Perboire Ribeiro, Marcus Maranhão, Alexandre, Antônio Carlos, Itaguacy Coelho,  José Pascoal, Crisóstomo Sales, Fátima Sales, Waldefran, participaram ativamente da sua vida musical, seu refúgio era o bar do Ribinha e seu quartel general a casa da sua grande amiga Maria Paú.

Primo legítimo dos saudosos irmãos   Raimundinho e Louro, Galêgo logo despontou como profissional da noite, sempre com seu violão a tiracolo e formou  a dupla Baião de Dois com o, na época, Manuel Telex, que absorveu o nome e hoje é o reconhecido internacionalmente  Manuel Baião de Dois. "Galego era meu outro lado, meu par, meu irmão, companheiro de estrada, da música, da vida. O cara que dividia um pedaço de peixe comigo e nós dois ficávamos satisfeitos. O alimento era a amizade, aquele pouco de comida era suficiente pra nós dois. A gente era tão irmãos que meus filhos o chamavam de tio e lhe tomavam a benção quando o encontravam em qualquer lugar. Uma partida muito sentida" , explica   Manuel Baião de Dois. 

Galêgo participou ativamente como músico acompanhante em festivais, shows,  barzinhos, concursos, apresentações solos  até se descobrir um grande intérprete, quando mudou-se para São Luis onde fez uma grande e iluminada carreira. 


Em Bacabal se uniu à advogada Dra. Graça Almeida com quem teve uma filha, hoje também advogada, a Dra. Daciana  que lhe deu três lindos netos: Maria Clara, Matheus e Clarice Maria.

Galego sempre viveu a vida e tinha o dom da alegria, era um ser musical, mas tão musical que até seu sorriso era composto de melodia e harmonia. "É uma missão  muito difícil, mas vou tentar resumir em uma palavra o que  vivi com Galego esses anos todos: alegria. Eu nunca o ouvi falar qualquer coisa, qualquer senão da vida que  levou. Galego era um caminhoneiro feliz que tocava violão e cantava." Garante o amigo compositor, poeta, blogueiro e jornalista Abel Carvalho.

Galêgo em São Luis casou-se com a pastora evangélica Raimundinha com quem viveu dias de eternas felicidades até seus últimos momentos.

Sua partida nos deixou sem chão,  o violão calou e a voz da noite  entoou a canção da saudade e da despedida. Galêgo deixa uma história de sonhos e de realizações e nesse momento de tamanhas incertezas, vemos a nossa constelação musical perder estrelas e formar buracos negros que  nenhum holofote seria capaz de preencher com sua luz e nessa trilha que lhe leva ao palco do paraíso,  uma orquestra de anjos lhe espera com seus instrumentos afinados para juntos cantarem unissonos uma linda canção pra Deus.

Vai na paz meu amigo. 





Nenhum comentário:

Postar um comentário