IDI AMIN O DITADOR QUE MATOU O PADRE
Na década de 1970 meu pai, Antonio Barbeiro, tinha um comércio numa rua no centro da cidade de Bacabal, MA. O nome do comércio era Miscelânea Sobrinho Gomes, em homenagem ao meu irmão Pedro Sobrinho Gomes. O forte desse comércio era a venda de revistas. Na época as revistas mais famosas do Brasil eram: Carícia, Caras, Capricho, Amiga, Contigo, Sétimo Céu, Fatos e Fotos, Manchete, O cruzeiro, Veja, Placar, Claudia, Recruta Zero, Akim, Batman, Zorro, Tio Patinhas e Mickey. Porém, as revistas que meu pai mais lia eram a Veja e a Manchete. Ele gostava da veja porque essa revista acompanhava as notícias do Brasil e do mundo e a Manchete acompanhava história do carnaval do Rio de Janeiro e a vida das personalidades da política, arte e esporte. A partir da metade da década de 1970, meu pai lia tudo sobre o tirano Idi Amin Dada. Amin era um negro de 1 metro e 93 centímetros de altura e tinha o apelido de Gigante Gentil, mas de gentil não tinha nada. Meu pai era um fã incondicional do ditador de Uganda. Eu sei o porquê dessa admiração, o homem era negro, uma espécie de modelo para outros negros pobres do mundo comum. Era um militar que governou Uganda com “mão de ferro” entre 1971 e 1979, considerado um dos ditadores mais brutais da história. Alguém me perguntaria: o teu pai era fã de um tirano sanguinário? Então eu responderia: todo tirano camufla a verdade. Alguém insistiria em perguntar: como é que um ditador assassina 500 mil pessoas ainda tem alguém que o admira? Eu responderia: Para um tirano, a verdade, geralmente, é inconveniente, pois é ela que convida o homem ao debate e à reflexão. Por isso, para um tirano, a verdade não é algo salutar e precisa ser encoberta. Idi Amin era um ditador, mas os seus discursos eram recheados de palavras e conceitos sobre a proteção e defesa dos direitos humanos. Porém, na prática, era o sangue dos seus desafetos que lhe garantia o poder. Os tiranos são assim, culpam as outras pessoas pelas adversidades que a população está enfrentando. É assim que um ditador ganha a confiança da massa. Um dia meu pai me disse: esse Idi Amin é um negro que serve de exemplo, pois em 1946, ainda com vinte anos de idade, se alistou no exército colonial britânico, como cozinheiro. Ele foi ganhando patentes até chegar a tenente, lutando ao lado dos ingleses contra rebeldes da Somália e numa revolta no Quênia, um homem desse tem que ser respeitado. Meu irmão Jadiel retrucou: pai, o senhor está enganado com esse rapaz, ele não é o que aparenta ser. Ele controla o governo, a administração e a economia de Uganda, o único poder que ele não conseguiu corromper foi o Judiciário. Respondeu meu pai: onde foi que tu leste isso, foi na revista tio patinhas ou no Zé Carioca? Respondeu meu irmão: eu li na revista Cadernos do Terceiro Mundo. A revista que entrevistou Fidel Castro, Muammar Khadaf e Saddan Hussein. Respondeu meu pai: pois é, essa tua revista devia ter entrevistado o Idi Amin, pois ela iria saber que quando Uganda ganhou a sua independência do Reino Unido em 1962, ele permaneceu nas forças armadas, chegando à posição de major e depois foi apontado como general e comandante do exército ugandense em 1965. Em 1971, quando ele soube que o presidente Milton Obote estava planejando prendê-lo por desviar fundos do exército, Amin lançou um golpe de estado e se declarou presidente. Meu irmão retrucou: oh vantagem, o regime desse maluco é caracterizado por constantes abusos de direitos humanos, incluindo repressão política, perseguição étnica e execuções extrajudiciais, além de nepotismo, corrupção e má gestão econômica. Mesmo assim, o senhor ainda acha que ele é um herói? Meu pai, não querendo encompridar a conversa, finalizou da seguinte maneira: Jadiel, vai procurar o que fazer, eu estou conversando é com Erivelton. Meu irmão deu um sorriso de deboche e falou ao meu pai: Thau, Idi Amin. O Jadiel era o único filho que enfrentava meu pai numa teima, mas sabia a hora de recuar. Id Amin continuou sua tirania em Uganda. Ele deu a si próprio o ´poder de fazer decretos para realizar o que bem quisesse. Amin, vendo Uganda afundar numa crise econômica, culpou os asiáticos e expulsou os que não eram cidadãos de Uganda. Cerca de 60.000 pessoas foram banidas do País sem direito a levar absolutamente nada, a maioria indianos. O tirano deu uma de bonzinho repassando todos os bens dessas pessoas para os negros ugandenses. Porém, os ugandenses não conseguiram administrar a riqueza deixada, por não entenderem as intrincadas leis da economia e do comércio. A infração subiu. Roubos e assaltos assolaram a economia de Uganda. O povo de Uganda continuava amando o seu ditador numa relação abusiva onde as pessoas acabam se apegando psicologicamente ao opressor. Todavia, apesar do terror imposto por Idi Amin, existia um homem em Uganda que não se curvava ao tirano, o Arcebispo Janani Luwum, entretanto, o ditador prendeu esse padre e o matou em 16 de fevereiro de 1977. Meu pai leu a matéria e protestou: O Idi Amin matou um padre? Meu irmão Jadiel estava ali perto lendo uma revista Tio Patinhas e respondeu: pai, até agora ele já matou, além do padre, mais umas 300 mil pessoas, está na revista Cadernos do Terceiro mundo e na Veja. Meu pai, em voz baixa, falou: esse homem não é um cristão, acho que está na hora de o povo tirá-lo do poder. Dito e feito, a população ugandense acordou e começou a perceber que o tirano era um louco. Porém, o ditador teve uma ideia mirabolante: decretou uma guerra contra a Tanzânia para reconquistar o apoio do povo de Uganda. É assim mesmo, tiranos adoram uma guerra. Em 1978, Uganda invadiu a Tanzânia sob a desculpa de que esse país era amigo de Obote, o presidente anterior, deposto por Amin. A invasão não deu certo, o exército da Tanzânia massacrou o exército de Uganda e a invadiu. Idi Amin fugiu para a Arábia Saudita onde permaneceu exilado e triste até morrer. Em 1979 meu pai lia a revista veja de nº 554 com a seguinte manchete: LIQUIDADO: Acabou a comédia de Idi Amin. Meu pai lacrou a seguinte frase: Eu até que gostava desse Negão, mas quando ele matou o padre eu me convenci de que ele, além de ditador, era um pecador que merecia morar no quinto dos infernos.
EU TIVE O PRAZER DE TODOS DIAS EU PAGAVA UMA BOA QUANTIDADES DE REVISTAS DA MISCELÂNEA SOBRINHO E IA VENDER NA PARADAS DE ÓNIBUS QUE FICAVA LOCALIZADO PERTO DO CINE TEATRO IDEAL PEGAVA CEDO E SÓ IA PRESTAR CONTA AS 5 HORAS DA TARDE AS REVISTAS MAIS VENDIDADAS ERAM SÉTIMO CÉU CRUZEIRO E A REVISTA PLACAR E PRO GENERO MASCULINO ERA VENDIDO O FAMOSO GIBI FAROESTE ESSA LABUTA MINHA SE ESTENDEU NOS ANO DE 71 ATE 73 MAIS VALEU A PENA E AOS DOMINGOS EU IA LAVAR CARROS NA RAMPA DA MERCEARIA LAGO.
ResponderExcluirBoa aula de cultura geral, especificamente do continente africano, onde considero berço da civilização humana...
ResponderExcluirVerdade, o continente africano é o quintal do mundo, se um dia a civilização não der certo, a África nos salvará....
ExcluirParabéns a coluna pela informação cultural e rica em detalhes.
ResponderExcluirMuito bom, Dr. Erivelton. Uma verdadeira aula de história.
ResponderExcluirGrande Caio Guerra, talento da advocacia baiana. Abraços, querido. É uma honra vc aqui no blog do Zé, em Bacabal, MA. Breve vc conhecerá nossa cidade.
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