Na última segunda-feira, 23 de outubro, completei 60 anos de idade. Sem nenhum motivo para festa, e como ouvi algumas pessoas dizerem que não chegaria, até eu mesmo acreditei e me enclausurei em um mundo particular cheio de silêncio e solidão esperando meu fim. Quando descobri que sobrevivi a mais essa intempérie, resolvi dissertar um pouco desse sentimento.
Carcomido pela cal e pela ferrugem dessas seis décadas, me alimentando da babugem descartada por tempos, às vezes enfadonhos, às vezes crueis, e, esporadicamente, benevolentes, me sinto até realizado com tudo que vi, mas que deixo no museu do imaginário, para o desprezo desta e das gerações futuras.
Vi o Brasil ser Campeão do mundo no futebol, vi Emerson Fitipalde. Nelson Piquet e Airton Senna serem campeões do mundo na formula um, vi a máquina de datilografia, vi o mimeografo, vi o telex, vi o fax, o telefone fixo, o orelhão, o celular analógico e trazendo o passado para minha terra, vi a seleção bacabalense ganhar o intermunicipal e o Bacabal Esporte Clube ganhar o campeonato Maranhense.
Brinquei de pipa, papagaio, peteca, pião, triângulo, cancão, preso e soldado, pegadô, garrafão, bati pelada na rua com bola dente de leite, joguei sinuca, banhei no rio Mearim, dei cangapé, pulitrica, e mais outras diversões analógicas que a minha geração levará para o túmulo.
Fui um jovem que sempre gostou de aventuras, disputas, namorei, servi à minha Pátria, ganhei festivais de música, ganhei concursos de poesia, gravei discos, escrevi livros, plantei árvores, só não tive filhos.
Chego aos sessenta anos cheio de mazelas, sonhos castrados, interrompidos, muita coisa realizada, mas algumas em projeto, realizá-las, quem sabe?
O tempo que vivi, não sei o que é odiar, nunca quis o mal de ninguém, sempre agradeci a Deus por cada dia, por cada conquista. Fiz muitos amigos, tive algumas mulheres, amei, senti paixão e até me excedi, mas, sempre com os pés no chão.
Chego aos sessenta sem festa, só chegar até aqui já é uma benção e tenho mais pra agradecer do que pra pedir a Deus, mas ainda vou abusar da sua bondade. Hoje carrego no corpo às mazelas impostas pela idade e a minha alma pura, lavada é levada pelos meus renováveis e invencíveis demônios diários. Meu anjo da guarda conversa comigo nas noites insones e eu acabo por dormir e até sonhar.
Reconheço que meu tempo é curto, como dizia o meu avô, - de meio dia pra tarde, estou cada vez mais preparado pra realizar no tempo que me resta, os meus últimos projetos de vida, vida essa que me queria inteiro, mas a morte vai me levando aos pedaços.
Parabéns Zé!!!!!
ResponderExcluirA vida tem que ser vivida conforme projetamos.
Isto chama-se Felicidade.