Secou
Secou o pranto, secou o canto, secou a videira que plantei entre os mil jardins que fiz para ti.
Secou o ninho que construí com galhos secos, secou o credo, secou a inspiração que parecia poesia sem fim.
Secou o verso do poema, secou o tema, a pontifícia saudade, secou o lema secou a dor, secou o amor, secou a doce amargura que vivi por ti.
Secou o tempo, secou o vento, secou o momento, secou o sonho de estanho, secou o medo sem tamanho, secou a triste heresia, secou o temor, secou a fantasia, secou a guia, secou a covardia, secou um mundo, secou a rosa azul que tanto tu querias, secou a via, havia de secar um dia o mal que por toda a vida me seguia.
Secou o fim, enfim secou para mim o mar, secou a valhala que nunca quis alcançar, secou a Fé, secou o pranto secou também o desencanto, secou manto, secou a tua lágrima, secou o cheiro do Jardim que tu plantavas, secou a triste solidão que eu amava, secou o gesto, secou o frio, secou a madrugada, secou a curta manhã que me esperava, secou a quente tarde sorrateira, secou a noite que um dia secaria, secou a vida, secou a morte corriqueira, secou a eira, secou a beira, secou o recomeço, secou a oração, secou o terço... Apenas assim: secou.
Abel Carvalho
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