Por: João Demétrio
Do Blog do Louremar Fernandes
O culto aos mortos é uma prática das mais antigas e fundamentada
em quase todas as religiões, pois esteve inicialmente ligada aos cultos
agrários e da fertilidade, onde acreditavam que, como as sementes, os mortos
eram sepultados com vistas à ressurreição, o retorno à vida que deveria surgir
de algo oculto e misterioso. Com essa crença, os antigos festejavam o dia dos
mortos junto aos túmulos, com banquetes e alegria, costume ainda usado em
certas culturas do planeta.
Retrocedendo no tempo, encontra-se na História, o registro de que
a filosofia dos druidas, na antiga Gália, deu origem às novas escolas
espiritualistas, dentre elas a Doutrina Espírita, pois também cultuava o
sentido da infinidade da vida, as existências progressivas da alma e a
pluralidade dos mundos habitados; além do mais, a raça gaulesa tinha
conhecimento dos mistérios do nascimento e da morte.
Entretanto, um nevoeiro denso caiu sobre a terra das Gálias,
através da mão brutal de Roma que expulsou os druidas e introduziu o Cristianismo
eclesiástico da época, que também foi combatido pelos bárbaros, sobrevindo uma
noite de dez séculos, chamada Idade Média, que obscureceu o espiritualismo e
fez eclodir a superstição e o fanatismo no ser humano.
No século X os Católicos passam a celebrar
Foi somente no século X que a Igreja Católica instituiu
oficialmente o dia dos mortos em 02 de novembro. Atualmente, esta data
transcendeu o lado religioso, passando mais para o lado emotivo e comercial,
quando ocorre grande comercialização de flores e velas e a preocupação maior
com a conservação dos túmulos, os quais, muitas vezes, ficam o ano inteiro
esquecidos e abandonados. Entre os sentimentos internos e as práticas externas,
entre os conhecimentos novos da espiritualidade e o comodismo da prática
exterior, o Homem procurou o lado mais cômodo para si, arraigando-o ao
formalismo material e desprezou a realidade espiritual, razão que fez Jesus
assim se expressar aos escribas e fariseus da sua época: “sois semelhantes aos
sepulcros caiados (pintados de cal), que por fora parecem formosos, mas por
dentro estão cheios de ossos de cadáveres e de toda espécie de podridão”
(Mateus 23:27).
O Espírito, ao desligar-se do corpo físico, conserva a mesma
personalidade, os mesmos defeitos e qualidades, méritos e deméritos, não
havendo assim com a morte física qualquer transformação do Espírito, somente a
transformação vibratória da sua nova vivência.
Agora questionamos, o dia 02 de novembro será consagrado aos
mortos que se foram, ou aos que ficaram na carne? Existem duas categorias de
mortos, os assim considerados por ter deixado a vestimenta carnal e os que
ainda continuam vivendo encarnados, mas mortos para a vida espiritual, pois
somente vivenciam a vida animal. Para o mundo, mortos são os que despiram a
carne; para Jesus, são os que vivem imersos na matéria, alheios à vida
primitiva que é a espiritual. É o que explica aquele célebre ensinamento
evangélica, em que a pessoa prontificou-se a seguir o Mestre, mas antes queria
enterrar seu pai que havia falecido, e Jesus conclamou: “Deixai aos mortos o
cuidado de enterrar seus mortos, tu, porém, vai anunciar o Reino de Deus”.
Assim, com a fé que as religiões pregam com respeito a vida futura
e com a certeza advinda pela Doutrina Espírita, pode-se afirmar que os mortos
são realmente os que habitam a crosta terrestre, enraizados na matéria e nos
vícios, e não os vivos que povoam o Mundo Espiritual, ficando assim designados:
mortos-vivos, os que habitam os páramos da Luz; vivos-mortos, os que se acham
inumados na carne.
No entanto, esse culto de visitação aos túmulos, essas
manifestações de choro e desespero junto aos sepulcros dos mortos, denotam
ainda um instinto confuso da imortalidade da alma, mesmo naqueles que se elegem
como cristãos.
Tudo no Universo e na Natureza acontece na base de ciclos e,
segundo o preclaro Pietro Ubaldi, “tudo que começa tem fim e tudo o que tem
fim, recomeça, como também, tudo que nasce, morre, e tudo que morre, renasce”.