O
veículo Philae, estabilizado na superfície de um cometa, está recebendo pouca
luz em seus painéis solares, o que pode comprometer a duração da sua bateria -
e afetar a missão.
Cientistas que trabalham
no projeto espacial analisam como movimentar o robô para que receba mais luz.
O Philae - que fez
duas tentativas de aterrissar no cometa antes de lograr a missão - está
estacionado à sombra de um penhasco a 1km do local planejado e recebe cerca de
90 minutos de iluminação a cada rotação de 12 horas do cometa.
Isto é insuficiente
para recarregar o sistema de baterias a partir do momento em que a carga
principal do veículo se esgote. O Philae se destacou da sonda Rosetta há mais
de 60 horas.
O chefe de operações
da Agência Espacial Europeia em Damstadt (Alemanha), Paolo Ferri, disse que as
estimativas de quando isto aconteceria variam entre a tarde desta sexta-feira e
a tarde de sábado.
"Depende das
atividades, claro. Quanto mais atividades fizermos com o módulo, mais energia
consumiremos, e menos tempo teremos", disse Ferri.
O Philae fez o pouso
inédito na superfície do cometa 67P na quarta-feira após uma viagem de dez
anos. O módulo saltou duas vezes ao aterrissar - o primeiro dos saltos atingiu
1km de altura.
Sobre dois pés
As primeiras imagens
enviadas mostram o terreno irregular do cometa. Fotos tiradas pelo Philae
mostram o veículo pressionado contra o que parece ser um muro.
A telemetria indica
que ele está em um declive ou talvez até mesmo de lado. O que se sabe com
certeza é que um dos seus três pés não está em contato com a superfície.
Os cientistas estudam
opções como usar algumas das peças móveis do robô para executar um novo salto e
tirar o aparelho das sombras. Mas provavelmente não há tempo suficiente para
planejar e executar essa estratégia.
A prioridade, agora,
é usar o Philae para obter o maior número de informações possíveis sobre o
cometa. Neste quesito, pesquisadores estão muito satisfeitos com o desempenho
da missão.
A decepção seria não poder
usar a broca da sonda para recolher material sob a superfície do cometa a fim
de fazer análises químicas em laboratórios.
Este foi um dos
principais objetivos da missão. Mas a operação fica dificultada com a sonda tão
delicadamente posicionada em apenas dois pés. Forças rotacionais de perfuração
poderiam desestabilizar o Philae.
"Queremos
perfurar, mas não queremos perfurar e perceber que, como consequência, a missão
acabou", disse à BBC um dos pesquisadores da missão, Jean-Pierre Bibring.
Controladores vão
analisar o que pode ser feito para apoiar o terceiro pé na superfície. Se isso
não for possível, a perfuração poderia ser realizada no fim da janela da
bateria primária. Neste momento, cientistas terão pouco a perder.
"Esta é uma
decisão operacional muito típica", disse Paolo Ferri. "Primeiro, você
obtém tudo o que puder. As coisas arriscadas ficam apenas para o final."
Missão histórica
Independente do que
acontecer nas próximas horas, a missão já tem lugar garantido na história.
Os dados do Philae -
e aqueles enviados pela Rosetta, que continua a observá-lo à distância - podem
transformar o que sabemos sobre os cometas e permitir aos pesquisadores testar
várias hipóteses sobre a formação do Sistema Solar e as origens da vida.
Uma teoria sustenta
que os cometas foram responsáveis pela distribuição de água aos planetas. Outra
ideia é que eles poderiam ter "semeado" a Terra com a química
necessária para dar o pontapé inicial na biologia.
"Estes dois dias
têm sido absolutamente magníficos", disse o gerente de missão da agência
europeia, Fred Jansen. "Quando assumi esse trabalho, há um ano e meio,
nunca imaginei que este seria o impacto."
"Claro que,
quando as coisas são bem sucedidas, como o módulo tem sido, fazendo medições na
superfície, você quer continuar por quanto for possível. Mas a realidade nos
diz que há uma quantidade limitada de energia da bateria."