Os
presidentes da Câmara, deputado Eduardo Cunha, e do Senado, senador Renan Calheiros,
ambos do PMDB foram informados que estarão na lista que o procurador-geral da
República, Rodrigo Janot, vai enviar ao Supremo Tribunal Federal (STF). A
informação foi confirmada por assessores do Planalto.
Rodrigo Janot deve
enviar hoje ao STF os pedidos de abertura de inquérito relacionados às
autoridades supostamente beneficiárias dos desvios da Petrobras. Ele também
deve pedir para o relator dos casos, ministro Teori Zavascki, derrubar o sigilo
das investigações, tornando público todo o conteúdo dos inquéritos.
Desde
a semana passada o presidente do Senado começou a dar sinais de irritações com
o governo. Ontem, por exemplo, Renan não participou do jantar oferecido pela
presidente Dilma Rousseff ao cúpula do PSDB.
Teori Zavascki
pretende divulgar os nomes dos investigados de uma vez só. Todos juntos. E não
um a um, em conta-gotas, conforme for se inteirando de cada acusação. Teori
entende que, ao divulgar um de cada vez, esse parlamentar estará mais exposto
que quaisquer outros. Ou seja, o primeiro, ou os primeiros nomes a serem
divulgados correm o risco de ter um juízo na imprensa e na sociedade de maior
peso que os outros, independentemente da dimensão de seu envolvimento.
Segundo a publicação, Youssef teria citado quatro políticos. Do PP, teriam ficado com dinheiro o senador Ciro Nogueira (PP-PI), presidente da sigla, e o deputado federal Eduardo da Fonte (PP-PE).
No PSB, a propina teria ido para o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, morto em agosto do ano passado num acidente de avião. No PSDB, o alvo da propina teria sido o ex-presidente da sigla Sérgio Guerra, morto em março do ano passado. De acordo com a publicação, o dinheiro foi desviado entre 2010 e 2011, e parte da propina foi paga em doações oficiais a candidatos.
O doleiro teria ainda detalhado que a propina paga a Sérgio Guerra, do PSDB, tinha o objetivo de impedir a realização e uma CPI da Petrobras. Segundo a Folha, foram destinados R$ 10 milhões para barrar a CPI, e parte desse dinheiro foi para presidente do PSDB.
Já Eduardo Campos, do PSB, teria recebido R$ 10 milhões para não criar entraves para as obras da refinaria em Pernambuco. O valor recebido pelos políticos do PP não foi detalhado pela reportagem.
O dinheiro a esses políticos teria sido pago pela empreiteiras Queiroz Galvão, Odebrecht e OAS.
Eduardo Campos, Sérgio Guerra e Ciro Nogueira já haviam aparecido nos depoimentos do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, que também assinou acordo de delação premiada com a Operação Lava Jato.
A Folha de S.Paulo entrou em contato com as empresas e os partidos citados. Todos negaram participação nos crimes relatados por Youssef.
A expectativa é de
que Janot apresente pedidos de abertura de investigação e denúncias contra
políticos - nos casos em que houver provas suficientes de autoria do crime -
suspeitos de envolvimento no esquema investigado na Operação Lava Jato.
Os delatores estão
desempenhando um papel fundamental nas investigações do esquema. Diferentemente
do mensalão,
em que a delação feita por Roberto Jefferson foi apenas o ponto de partida das
investigações, grande parte das denúncias que estão sendo apuradas pela Polícia
Federal na Operação Lava Jato foram feitas em depoimentos prestados em acordo
de delação premiada.
Dezenas de nomes de
parlamentares apareceram nos depoimentos dos delatores, só na lista do
ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, por exemplo, ao menos 28 políticos
são mencionados.
Veja a seguir quem
são os principais delatores que estão contribuindo com as investigações do
esquema:
Alberto Youssef
Para o Ministério
Público Federal, o doleiro Alberto Youssef é um dos principais operadores do
esquema de pagamentos de propinas e lavagem de dinheiro. Ele foi preso em março
do ano passado, quando a primeira fase da Operação Lava Jato foi deflagrada.
O doleiro foi
condenado por envolvimento no caso Banestado, nos anos 1990, maior escândalo de
remessas ilegais de dinheiro já investigado.
Paulo Roberto Costa
Foi diretor de
Abastecimento da Petrobras entre 2004 e 2012. O ex-diretor entrou na mira da
Polícia Federal em março de 2013, quando veio à tona o fato de que ele teria
ganhado um carro de luxo de Youssef.
Em depoimento,
relatou a existência de um esquema de pagamento de propina que envolvia grandes
empreiteiras do país e partidos políticos, como PT, PMDB e PP. Foi preso em
março de 2014, mas foi solto após firmar o acordo de delação premiada. Hoje ele
cumpre a pena em prisão domiciliar.
Pedro Barusco
É ex-gerente de
Serviços da Petrobras e ex-braço direito de Renato Duque, ex-diretor de
Serviços da estatal . Em depoimento, afirmou fazer a contabilidade do esquema.
Segundo ele, o PT recebeu até 200 milhões de dólares de propina entre 2003 e
2013.
De acordo com depoimento do ex-gerente,
sozinho, ele recebeu cerca de 50 milhões de dólares em propina em um período de
10 anos, a partir de 90 contratos firmados com a Petrobras. Parte dos
pagamentos era feito por meio de contas no exterior.
Julio Camargo
Consultor que atuava
para a Toyo-Setal, empreiteira que prestava serviços para a Petrobras. Afirmou
ter pago pelo menos 154 milhões de reais em propina a operadores do PT e do
PMDB para fechar negócios com a estatal. Os destinatários do suborno seriam
Renato Duque, ex-diretor de Serviços da estatal, e Fernando Soares, lobista que
estaria ligado ao PMDB.
Augusto Mendonça Neto
Executivo ligado à
Toyo-Setal, empreiteira que prestava serviços para a Petrobras. Assim como
Julio Camargo, revelou, em depoimento, ter pago até 60 milhões de reais em
propina ao ex-diretor da estatal Renato Duque entre 2008 e 2011.
Outros delatores
Também fecharam
acordos de delação premiada com o Ministério Público Federal: Lucas Pace Junior
(ex-funcionário da doleira Nela Kodama, Carlos Aberto Pereira da Costa
(advogado acusado de atuar como laranja de Youssef), Shinko Nakandakari
(engenheiro civil, um dos operadores do esquema), Dalton Avancini (presidente
da Camargo Corrêa) e Eduardo Hermelino Leite (vice-presidente da Camargo
Corrêa).