Por José Sarney
A grande tarefa de 1966 era tirar o Maranhão do século 19 e trazê-lo para o século 20. Era um estado totalmente desintegrado e sem cabeça, isto é, sem capital. O sul do Maranhão estava ligado a Goiás e a economia do lado do Tocantins ao Pará. Toda a vida na densa floresta amazônica que acompanhava a rodovia Belém-Brasília e em torno das nascentes do Mearim, do Pindaré e do Grajaú se voltava para o Pará e Goiás, sem nenhuma ligação com o Maranhão.
A margem esquerda do Rio Parnaíba, lado maranhense, tinha toda a economia vinculada ao Piauí e ao Nordeste. Restavam ao território econômico maranhense as margens do Itapecuru, via que no passado fora responsável pela penetração e escoamento do algodão, açúcar e arroz que produzíamos e servira também de via de transporte; mas o rio estava assoreado e sem navegação.
A estrada de ferro São Luís-Teresina, que o seguia, também estava sucateada e sem carga para transportar, predominando o trem de passageiros que servia às populações das cidades em suas margens. Era a única possibilidade de acesso à capital por terra, passando pelo Estreito dos Mosquitos do continente para a Ilha de São Luís. A capital fantasma, sem porto, sem estrada, mergulhada em decadência, sem água, esgoto, energia, calçamento, estava apenas ligada à Baixada pelos velhos barcos à vela. De Pinheiro para cima tudo se dirigia a Belém: Turiaçu, Guimarães, Carutapera e toda a zona de influência do Gurupi, perto de Bragança. O pato para misturar ao tucupi paraense durante o Círio ia da Baixada.
São Luís era uma cidade velha, cercada de palafitas, pequena e sem perspectivas de crescer. A capital do Maranhão, a cabeça do Estado, sem ser cabeça, era uma cuia vazia cercada de pobreza e de miséria.
A tarefa primeira era integrar. Ligar o Tocantins, o Parnaíba e o Gurupi ao Maranhão.
Tracei e construí a Açailândia-Santa Luzia, asfaltei e abri a São Luís-Teresina, abri estradas na Baixada, ligadas por Ferry-Boat, construí a Pará-Maranhão, a Porto Franco-Peritoró. Fiz o Itaqui e trouxe o minério por uma estrada de ferro, a Carajás-Itaqui. Tudo foi construído.
Para São Luís o programa era fazer a cidade. Criei a Caema para fazer o novo sistema de abastecimento d’água, armazenada na nova Barragem do Batatã. Consegui com o BID recursos para uma adutora para levar água do Batatã a Sacavém, onde construímos a nova estação de tratamento e deixamos projeto da adutora trazendo água do Itapecuru para São Luís. Fiz uma bateria de poços artesianos para reforçar o sistema de água da Capital, totalmente novo, com novo encanamento e caixas d’água para equalização da pressão.
Criei a Cohab para fazer casas para o povo, com os conjuntos Anil; no São Francisco, Cohab e Basa; e na nova estrada o Anjo da Guarda. Asfaltei toda a cidade, abri a Avenida Kennedy e a Avenida dos Franceses para dar mobilidade à cidade.
Substituí a velha rede elétrica. Formei a Telemar para termos um sistema de comunicação da capital com o interior, do Maranhão com os outros Estados do Brasil e melhorar o existente dentro de São Luís.
Mexemos em tudo. Tínhamos que fazer a Capital do Estado. Dar-lhe cabeça. Assim, também construímos grandes obras, a então maior ponte do Nordeste — a do São Francisco —, a ponte do Caratatiua, a Barragem do Bacanga e deixamos projetada a ponte Bandeira Tribuzzi e ainda outra que um dia acabará sendo feita.
Nascia a nova capital, cabeça do Maranhão Novo, dentro do plano global de integrar o Estado. Hoje, São Luís é duas cidades, a do São Francisco, nova, das praias, com 300 mil habitantes e todos os equipamentos de uma cidade moderna, e a cidade velha, preservada, que Roseana fez Patrimônio da Humanidade.
Tanto trabalho, tanta coisa, em quatro anos. Sobretudo, mudamos a mentalidade do Estado e civilizamos a política, sem perseguições, violência ou divisão.
E hoje somos o único Estado do Brasil sem anistia, que não foi necessária, porque aqui não foi demitido nem cassado ninguém.