E mais uma figura que fez parte da vida comercial, cultural e do entretenimento bacabalense, deixa a vida pra entrar na história. Perdemos José de Deus Skeff Seba.
Sócio proprietário do Cine Teatro Ideal, Zé de Deus deixou um legado de recordações, muitas hilárias, outras românticas, sacras e até tristes.
Com a sua Voz de Cristal, aqueles autofalantes no alto de uma vara de bambu, Ze de Deus e seu irmão Alfredo Seba, acordavam a cidade as seis da manhã com a tradicional alvorada. Depois do café, ou no Fusca ou no Opala, os famosos carros de som, rasgavam as ruas de areia anunciando os mais diversos tipos de comerciais.
Sudenveste veste bem, A Vestil, veste adulto e infantil, bailes na União, no Vanguard, Icaraí, ruas de lazer, festas de São João, carnaval, estudantes quando passavam no vestibular, formaturas, inaugurações, partidas de futebol...
Havia uma identidade musical para cada tipo de notícia. A instrumental Tema de Lara, quando era ouvida, já se sabia que se tratava de morte.
Quando anunciava os filmes do Cine Teatro Ideal, tinha uma narrativa conceitual. Ele parava o carro, aumentava o som, anunciava o filme e fazia um resumo da história. Muitos não gostavam por achar que depois da narrativa, o filme perdia a graça.
Sartana, Maciste, Django, Dio come ti amo O seminarista, Ela tornou-se freira, Coração de luto, Marcelino pão e vinho, Paixão de Cristo, O ébrio, Kung-fu contra karatê, Tarzan, Konnan, todos a embalar as velhas tardes de domingo, e, com a falência do cinema, os filmes de pornografia, todas as noites.
O teatro era mais musical, pois nomes como Waldick Soriano, Roberto Muller, Lindomar Castilho, Mauricio Reis, dentre outros, lotavam a casa para cantar seus respectivos sucessos.
Zé de Deus se multiplicava, era do bate papo, da cachacinha, do tira gosto de limão, era do esporte, da brincadeira com os amigos e até de bater uma bolinha.
Filho de João Moises e Julia Sebba, Zé de Deus, antes de deixar Bacabal, a conheceu areia, calçada de pedra e até asfaltada, é pilar estrutural da história da Terra das Bacabeiras.
Esposo da saudosa senhora Rosalina Machado Seba, pai de Maria Raimunda Seba, a Mariinha e avô de Camila Maria Bomtempo Seba e de Gabriel Seba de Souza, Zé de Deus deixou sua voz no ar da cidade, sua vida em película tecnicolor e em CinemaScope, ou mesmo em uma rara produção em preto e branco.
Hoje ele se despede e leva na sua mala divina, o seu microfone de ouro, que usará para divulgar as alvoradas, para anunciar as boas novas do céu e para apresentar as seis da tarde, na hora da Ave Maria, as mais lindas produções de Deus. Hoje o seu nome faz jus à sua morada.
Zé de Deus, o locutor aqui na terra como no céu, para todos os séculos e séculos sem fim.
Vá na paz