CONVERSA DE MARANHENSE.
O maranhense sempre foi um brasileiro diferenciado, não fomos fundados por portugueses, a nossa posição geográfica é indefinida e a nossa linguagem nos diferencia dos outros brasileiros.
Falar que está arreliado é o mesmo que dizer que está irritado ou desassossegado. Se esta irritação extrapolou os limites e criou-se uma confusão, costumamos chamar esta situação de cascaria e o indivíduo causador da cascaria é o casqueiro. O casqueiro é diferente do fuxiqueiro, que é aquele que faz o fuxico, o leva e trás. Fuxico é o disse me disse. O final de todo fuxico é uma grande cascaria.
Em toda cascaria ou fuxicagem você pode ouvir uma pérola maranhense o “eu vou te da-le”, que é o mesmo que bater em alguém. É uma frase ameaçadora, é o extremo da raiva de um maranhense e se alguém de outro estado ouvir de um maranhense o “eu vou te da-le um bogue”, avise para que saia da frente que o maranhense vem raivoso.
O bogue significa esmurrar outra pessoa, é o mesmo que sopapo ou murro. O bogue mais terrível é o bogue no “pé do ouvido”, é terrível, um verdadeiro “pescoção”! Confesso que nunca dei um bogue em ninguém, fiquei somente na vontade, faltaram-me coragem e força física. Em uma ocasião senti vontade de dá um bogue em um colega quando disputava uma lanceada na Praça da Alegria, outra vez foi jogando bolinha e o parceiro não avisou o “casa ou bola porco leitão”. Se você não entendeu, com certeza nunca empinou papagaio ou jogou bolinha de gude.
A desaprovação de uma situação ou quando não tenha nenhum valor ou significado, ou aquilo que não presta, identificamos como fuleragem, tanto que o causador da fuleragem é o fulero ou imprestável ou irresponsável.
Pior que a fuleragem é a esculhambação, situação onde exista corrupção, malversação pública ou privada ou descuido com a moral. O esculhambado é o grande causador da esculhambação.
Se algo quebrou ou apresentou algum defeito, tenha certeza que está escangalhado e que precisa de conserto. O maranhense não diz que um objeto está quebrado, ele diz que está escangalhado. Se este objeto for um carro e se estiver bastante usado, com certeza este carro é uma “casqueta”
Com certeza se conhece alguém muito econômico, que não gastou dinheiro quando não devia e muito menos quando devia, alguém que nunca divide uma conta e que sempre dá uma desculpa para sair na hora da divisão, este é o canhenga.
Adoeceu, sentiu-se incomodado, pede por ajuda ou por socorro, o maranhense vai dizer “me acode” e se ouvir “me vale ou valha-me”, tenha certeza que é um pedido de clemência ou de ajuda Divina para o seu sofrimento.
O hum, hum ou hém, hém são palavras afirmativas ou negativas, e o seu sentido depende do contexto de quem fala ou de quem ouve. Outras vezes não tem significado nenhum, o maranhense simplesmente ignora a conversa dizendo hum, hum ou hém, hém.
Colocar uma roupa no cabide do guarda-roupa é compreensível, entretanto o maranhense coloca a roupa na cruzeta, ele não fecha o zíper, ele fecha o ríri e ele abotoa a camisa depois de engomada.
O “piqueno ou piquena” não significa o antônimo de grande ou tamanho das pessoas. Referimo-nos à faixa etária ou características infantis. Pode às vezes ter um caráter pejorativo, não sei por que alguns quando chamados de piqueno, devolvia em tom raivoso que piqueno era filho de cego, confesso que nunca entendi esta resposta.
Não existe expressão mais maranhense que “qualhira ou qualira”. Adoramos ser identificado por qualira, talvez seja a identificação do maranhense em qualquer lugar do mundo, se ele ouve alguém ser chamado de qualira, ele tem certeza que um maranhense está por perto. O qualira pode até ser comparável com gay, fresco ou veado, mas não tem caráter homofóbico. Qualira é um estado de espírito e qualhiragem ou deixar de fazer qualhiragem, é o mesmo que pedir para uma pessoa deixar de fazer besteira ou chatice, portanto se alguém lhe chamar de qualhira ou qualira, não se arrilie e nem faça cascaria, sente num mocho e descanse.
Em caso de admiração, ouve-se o “éguas”! Éguas é uma palavra exclamativa e superlativa e utilizada pelo maranhense no sentido de exagero.
O órgão genital feminino é o xiri, e junto com o qualira formam uma dupla 100% maranhense, que resistem bravamente a todos os modismos e invasões culturais, são duas hidentidades genuinamente maranhenses. O maranhense não vive sem xiri, sem qualhiragem e sem farinha d’ água!
Texto: Hamilton Raposo
Enviado ao blog pelo radialista Osmar Noleto