O BOI URROU
*Renato Dionísio
*Historiador, Poeta, Compositor e Produtor Cultural
Ano após ano, desde que um certo desconhecido inventou o gosto pelo batuque, que viria acompanhado de nacos de poesia, para festejar a devoção dos viventes aos santos festeiros: Santo Antônio, São João, São Pedro e São Marçal, reverenciados nestas terras do Maranhão, estamos reinventando, dando formas e sentidos as festas juninas, que crescem a cada ano e se valorizam com a presença de nossos conjuntos, claro, os bumbas a frente, sem ser, entretanto, maioral, secundados belo tambor de crioula, o cacuriá, as quadrilhas, cocos e tudo mais que a tradição abraça.
Centenas de grupos dos mais variados sotaques e linguagens e milhares de participantes das mais variadas idades se esmeram para mostrar, embora não haja competição formal, para os nativos e para os visitantes de todos os cantos do planeta, a beleza e a singularidade que é o São João do nosso povo. A cidade que já é mágica por essência e encantada por vocação se esbalda num misto de pureza e sedução que encanta e faz rir e chorar a um só momento.
De tão longa, se levarmos em conta o período de ensaios e os novos, não tão novos, ensaios itinerantes, que ocorrem no mês de maio e os pós-festejo, com a morte dos bumbás, podemos afirmar que não existe na galáxia festa tão animada e duradoura. Surpreendentemente nela, o desejo de Catirina em comer a língua do boi se expressa na sempre incontida esperança de mesas cheias, metaforicamente falando, de guloseimas e quitutes que enchem a barriga e enfeitiçam os sentidos.
Agora com o alongamento dos festejos, graças a uma ação de governo, se distancia de mim aquela saudade que carrega a esperança de mais festa e fartura que será renovada no ano que virá. É isto, anualmente o fato volta a se repetir. Para tantos que já viveram esta “morte” do novilho, este é um tempo de espera e Guarnicê, o touro ficará desmaiado até que um novo urro abra as porteiras do tempo. Quando então renascerá ele, como no melodrama da encenação, cheio de garra, mimoso, saltitante e conquistador como somente ele sabe ser.
Eu, que dediquei grande parte de minha vida a causa da cultura popular e do folclore, não posso calar diante de fatos, que, a meu juízo, ajudam nesta caminhada. Gente que como nos ensina Zé Olhinho, “eu sou guerreiro, eu sou valente”, não foge da luta e nos ajuda a construir nesta aldeia dos Tupinambás, hoje ilha do amor, esta obra grandiosa. Gente que se esmera na tarefa de nos ajudar a construir, aqui e agora, o maior São João do Mundo. Este esforço, obrigado, tem a frente o Governador Carlos Brandão, e a secundá-lo o Secretário Yuri Arruda.
Só prometemos na beira da fogueira, “olha o passeio dos namorados” amor eterno ao legado de gerações e gerações que chegou até nós, respeito e preservação destes ensinamentos, para entregarmos com fieldade a quem virá. Pois, estamos casados, nada haverá de nos separar, desta tradição e destes valores. Por tanto, em vinte e seis, tenham certeza, ofereceremos mais do mesmo: mais do mesmo amor, mais da mesma devoção. Mais do mesmo acolhimento. Mais da mesma empolgação, para que você “esqueça de nos esquecer”.
Não pode nos assustar, a ousadia de fazer desta cidade universal a capital mundial do folclore, condição que se estabelecerá à medida que criarmos aqui a maior festa junina do planeta. Isto é possível e está próximo, como nos ensina o mestre Zé Olhinho, “eu sou guerreiro, eu sou valente”. Categoricamente afirmo, este movimento tem compasso de sonho possível, “eu que sou um moleque querendo abraçar o mundo”, da toada Estrela do Chão. Para os recalcitrantes respondo: não tenham medo “eles nem vão aprender copiar”.
A realidade nos impõe um dever: lutar para melhorar cada vez mais o produto que buscamos vender mundo afora. Ampliar o nível de participação de nosso povo, estejam eles onde estiverem, neste processo. Fortalecer nossa luta, chamando para o nosso lado quem quer que seja, independente de suas críticas e contradições. Jamais nos esqueçamos, neste jogo de sedução e encantamento, a um só tempo, todos podem perder, como bem podem ganhar; assim afirma o poeta, posto que, “amor de bumba boi é feito para nunca acabar!”.


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