quarta-feira, 8 de outubro de 2025

COM A PALAVRA - CENAS DO COTIDIANO XXVII - POR ZÉ CARLOS GONÇALVES

 

CENAS DO COTIDIANO XXVII

    A Ilha tem amanhecido num dilema. Chover ou não chover. Nublada. Com o vento matutino nos dando um refresco. Só que, para nosso sufoco, a tarde se revela "uma fornalhinha". Aí, é calor pra dar e vender. Pra emprestar, a crédito, a débito e a prestação, no carnê. Pra dar um presente de grego. Embora não saiba o que isso quer dizer

... e, de verdade, sei dizer que me chegam notícias de que o calor, na Baixada, tá fazendo inveja ao Saara. Até, fazendo bode se atirar em açude e ficar de molho, como "boi bufa"

... e, de molho, ficou, mesmo, o meu espanto. O que já há algum tempo não me espanta, ante tantos absurdos, acontecendo. Mas "feiquear a pinga", batizando-a com etanol, é demais. Embora seja um assunto funesto, vou aliviá-lo. "Será se" o bêbado sai bêbado e motorizado?! Essa foi podre! Que Santo  Onofre o livre do maldito vício! E, voltado à seriedade, que haja uma punição bem severa pra quem já provocou, até, óbitos

... e, com real perigo de óbitos, amanheci com a notícia do encalhe do "ferribôti". Tragédia por demais anunciada. Só me causou pasmo o motivo. Em alto e bom tom, a repórter disse que, provavelmente, dormiu o comandante. Imaginem dormir com "o banzeiro" de outubro?! Se não fosse sacrilégio, ia dizer, até, que foi efeito do etanol. Valei-nos, Deus! Perdoai-me, meu santinho Santo Inácio de Loiola! Se isso é verdade, os passageiros insones tão no lucro

... e que lucro?! Só com muita ironia, o socorro em câmera lenta. E, como a fome não espera, socorreram a fome com o sagrado tucum. Só mesmo o baixadeiro pra ironizar a sua sina, dessa maneira. E, ironia mesmo, foi esperar a próxima maré enchente, "pra desatolar" o monstro de ferro

... e, como devaneio, em geral, não é pecado, posso devanear. E, se a natureza se revoltasse e não emprenhasse a maré, o monstrengo de aço ficaria na Ilha do Cajual, pra sempre?! Mistérios ...

... e, mistério, é esse serviço precário, que nós baixadeiros enfrentamos. E, cada dia, pior

... e, imaginando o total sufoco dos passageiros do Cidade de Araioses, vou me desesperando com tanto descaso e "me despido", ops, e me despeço, por hora ...

      Inté mais!

          Zé Carlos Gonçalves

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