... QUANDO O VESTIBULAR ERA PURA EMOÇÃO II
Viver a emoção do vestibular vinha com a chegada a São Luís, revestida de todas as revoltas e de todas as saudades.
O corte do cordão umbilical, com a terrinha, se fazia muito e muito dolorido. E, geralmente, o desenlace não acontecia tranquilo. Se era avisado, se era reavisado, se era lembrado sempre, se sabia, se esperava, se enxergava longe, mas não se estava preparado. Assim, em nossa inocência infanto juvenil, se apresentava abrupto e voraz.
E, nessa angústia, para nós, Baixadeiros, a Beira Mar se tornava a nossa pátria, a ser frequentada diariamente. Era a nossa certeza da ligação com a terra mãe. Se tornava "o nosso correio, o nosso rádio, a nossa televisão, a nossa internet", com as notícias pululando, nos enchendo de energias novas e aumentando o apego aos nossos. E, claro, era a garantia da nossa sobrevivência, refletida nos embrulhos, de carne seca e de camarão; nos pacotes de ovos, de arroz e de farinha; no isopor, cheio de baguinhos, de traíras e de piabas; nas latas de doce de leite e de goiaba; no envelope, com os salvadores "trocados', para a compra do passe escolar e quase nenhum lazer. Aluno, que estudava, estudava!
Já, para outros maranhenses, "a rodoviária, velha", era o seu porto seguro. Ali, a conexão, com a terra distante, acontecia. E tudo se repetia, num apego materno insano.
O importante é que a espera da aprovação se cristalizava em imensurável expectativa, que se tornava uma tremenda aflição. Para uns, frustração; para outros, festa.
A tensão se estabelecia com as revisões e os corujões, das vésperas, passando pela divulgação do gabarito oficial e da estimativa da data, para a divulgação do resultado. Com a maciça cobertura da imprensa, imprimindo um ar mágico, que contagiava e nos anestesiava, o ambiente tenso, para o pré vestibulando, se estabelecia, em definitivo.
E o resultado, tão sofrível e esperado, se refletia no palpitar acelerado do ansioso coração e no ouvido colado no radinho, que se impunha ao sepulcral silêncio, para explodir em estupenda algazarra e riso e palmas e choro e abraços ... e na cabeça raspada, com foguetes, a espocar, sem pena e dó, sem miséria ... e, invariavelmente, muito chopp, com Pinduca, na vitrola, a nos convocar para festejar.
De tristeza, as maiores referências, dessa época, vão se escafedendo tímidas e impotentes.
Só, como exemplo, no centro, dói ver ruir duas potências, como Pré Vestibulares, o Cipe e o MENG. Ruínas, que vão se impondo como a nos berrar que o sistema educacional anda perdido, enclausurado no faz de conta.
E, de verdade, me emociono ao passar nas imediações do ginásio Costa Rodrigues. Não é só o MENG, que fenece!
Zé Carlos Gonçalves

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