segunda-feira, 21 de abril de 2014

SOS MÚSICA MARANHENSE!



SOS MÚSICA MARANHENSE!
                                                                           
Por Joãozinho Ribeiro

Quem quiser e puder, que tente me provar o contrário, mas o título do presente artigo é uma tradução mais que perfeita de uma realidade que poderia e pode ser bastante diferente, no que diz respeito ao panorama da música produzida no Maranhão. Não estou aqui falando destas rotulagens fora de moda ou inapropriadas como MPM, artistas da terra, ou outras baboseiras que já não fazem jus a uma das linguagens artísticas de maior potencial econômico nas cadeias produtivas da economia da cultura.
Tirem a música de um culto ou de uma missa; imaginem uma peça de teatro sem ela; uma obra audiovisual; um conjunto de lojas dos shoppings centers; a publicidade do rádio e da televisão (aberta e por assinatura); os toques de chamadas dos celulares (ringtones); as antessalas dos consultórios médicos; as grandes festas populares; os aniversários das pessoas e das cidades; hotéis, motéis...e por aí vai.
Seria quase impossível imaginarmos o mundo de hoje sem a música, seja ela de que gênero ou natureza for. Os habitantes mais diversos e as tribos mais primitivas do planeta já sabiam da sua importância, e hoje a música é a linguagem artística de maior expressão na cadeia da Economia Criativa, baseada principalmente na arrecadação dos direitos autorais e na remuneração de todos os agentes que participam da sua cadeia produtiva, com destaque para os criadores das obras intelectuais (compositores), músicos, regentes, intérpretes e arranjadores, além dos produtores dos fonogramas.
Economia Criativa nos dias de hoje é uma formidável e real alternativa de desenvolvimento econômico e social sustentável para o Estado do Maranhão, focada em atividades intensivas e conhecimentos localizados no setor de serviços. É uma produção que valoriza a singularidade, o simbólico e aquilo que é intangível: a criatividade. Engloba o aspecto intangível da criatividade e dos valores culturais, que possuem alto valor agregado e que, por excelência, não podem ser objeto de imitação.
Em particular, a cadeia da economia criativa da música inicia com o processo de criação (ato exclusivo do compositor e/ou do intérprete), passando em seguida pela produção (cd, DVD, shows), publicação, divulgação, difusão, distribuição, até chegar ao elo final da cadeia, que é o acesso e o consumo.
O grande gargalo da cadeia é justamente aquele referente à divulgação e difusão, dependente em grande parte dos meios de comunicação e das escolhas, em sua maioria políticas, no que diz respeito a contratação de bandas, artistas, apoios a shows, mostras e festivais, assegurando um mercado permanente para a geração de renda, emprego, trabalho, cidadania e dignidade para os artistas e produtores culturais participantes da cadeia produtiva da economia da música.
O problema é que a distribuição, divulgação, difusão, acesso e a gestão do conhecimento são áreas chaves para o desenvolvimento da Economia Criativa, e por serem áreas altamente estratégicas, quem detém seu controle, detém por conseqüência o controle da cultura, em sua dimensão econômica. Daí a formulação de várias e pertinentes perguntas que não querem calar:
1) No Maranhão, como pensar no desenvolvimento da Economia da Música com os meios de comunicação monopolizados por basicamente três famílias (Sarney, Lobão e Ribeiro), que na grade de programação de suas emissoras sequer tem espaço para divulgação da música produzida no Maranhão? 2) Como difundir e divulgar as produções musicais maranhenses se a política de contratação de artistas prioriza os nomes e bandas consagrados nacionalmente, que recebem altos cachês e têm garantido o recolhimento e a distribuição dos seus direitos autorais? 3) E o pior: se a arrecadação dos parcos direitos autorais daqueles que ainda conseguem ser inseridos em alguma programação oficial sequer é recolhida pelo Governo do Maranhão (um dos maiores contratantes) e pelas duas centenas de prefeituras que promovem ao longo do ano vários eventos utilizando a música como principal linguagem de publicidade?
Como se não bastasse todas estas adversidades, o único escritório representante dos direitos de compositores, músicos, intérpretes e arranjadores maranhenses – AMART – com mais de dez anos de bons serviços prestados à comunidade artística local, está sendo desativado, em grande parte devido à contumaz inadimplência dos órgãos governamentais de cultura, com destaque para a Secretaria de Estado da Cultura, que figura como maior inadimplente.

Qualquer plano na área da música maranhense que não enfrentar estes gargalos não passará de um simulacro de plano, sem presente e sem futuro e sem nenhuma possibilidade de contribuir com o desenvolvimento da Economia Criativa no Maranhão.

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