SOS
MÚSICA MARANHENSE!
Por Joãozinho Ribeiro
Quem quiser e puder,
que tente me provar o contrário, mas o título do presente artigo é uma tradução
mais que perfeita de uma realidade que poderia e pode ser bastante diferente,
no que diz respeito ao panorama da música produzida no Maranhão. Não estou aqui
falando destas rotulagens fora de moda ou inapropriadas como MPM, artistas da
terra, ou outras baboseiras que já não fazem jus a uma das linguagens
artísticas de maior potencial econômico nas cadeias produtivas da economia da cultura.
Tirem a música de um
culto ou de uma missa; imaginem uma peça de teatro sem ela; uma obra
audiovisual; um conjunto de lojas dos shoppings centers; a publicidade do rádio
e da televisão (aberta e por assinatura); os toques de chamadas dos celulares
(ringtones); as antessalas dos consultórios médicos; as grandes festas
populares; os aniversários das pessoas e das cidades; hotéis, motéis...e por aí
vai.
Seria quase impossível
imaginarmos o mundo de hoje sem a música, seja ela de que gênero ou natureza
for. Os habitantes mais diversos e as tribos mais primitivas do planeta já
sabiam da sua importância, e hoje a música é a linguagem artística de maior
expressão na cadeia da Economia Criativa, baseada principalmente na arrecadação
dos direitos autorais e na remuneração de todos os agentes que participam da
sua cadeia produtiva, com destaque para os criadores das obras intelectuais
(compositores), músicos, regentes, intérpretes e arranjadores, além dos
produtores dos fonogramas.
Economia Criativa nos
dias de hoje é uma formidável e real alternativa de desenvolvimento econômico e
social sustentável para o Estado do Maranhão, focada em atividades intensivas e
conhecimentos localizados no setor de serviços. É uma produção que valoriza a
singularidade, o simbólico e aquilo que é intangível: a criatividade. Engloba o
aspecto intangível da criatividade e dos valores culturais, que possuem alto
valor agregado e que, por excelência, não podem ser objeto de imitação.
Em particular, a cadeia
da economia criativa da música inicia com o processo de criação (ato exclusivo
do compositor e/ou do intérprete), passando em seguida pela produção (cd, DVD,
shows), publicação, divulgação, difusão, distribuição, até chegar ao elo final
da cadeia, que é o acesso e o consumo.
O grande gargalo da
cadeia é justamente aquele referente à divulgação e difusão, dependente em
grande parte dos meios de comunicação e das escolhas, em sua maioria políticas,
no que diz respeito a contratação de bandas, artistas, apoios a shows, mostras
e festivais, assegurando um mercado permanente para a geração de renda,
emprego, trabalho, cidadania e dignidade para os artistas e produtores
culturais participantes da cadeia produtiva da economia da música.
O problema é que a
distribuição, divulgação, difusão, acesso e a gestão do conhecimento são áreas
chaves para o desenvolvimento da Economia Criativa, e por serem áreas altamente
estratégicas, quem detém seu controle, detém por conseqüência o controle da
cultura, em sua dimensão econômica. Daí a formulação de várias e pertinentes perguntas
que não querem calar:
1) No Maranhão, como
pensar no desenvolvimento da Economia da Música com os meios de comunicação
monopolizados por basicamente três famílias (Sarney, Lobão e Ribeiro), que na
grade de programação de suas emissoras sequer tem espaço para divulgação da
música produzida no Maranhão? 2) Como difundir e divulgar as produções musicais
maranhenses se a política de contratação de artistas prioriza os nomes e bandas
consagrados nacionalmente, que recebem altos cachês e têm garantido o
recolhimento e a distribuição dos seus direitos autorais? 3) E o pior: se a arrecadação
dos parcos direitos autorais daqueles que ainda conseguem ser inseridos em
alguma programação oficial sequer é recolhida pelo Governo do Maranhão (um dos
maiores contratantes) e pelas duas centenas de prefeituras que promovem ao
longo do ano vários eventos utilizando a música como principal linguagem de
publicidade?
Como se não bastasse
todas estas adversidades, o único escritório representante dos direitos de
compositores, músicos, intérpretes e arranjadores maranhenses – AMART – com
mais de dez anos de bons serviços prestados à comunidade artística local, está
sendo desativado, em grande parte devido à contumaz inadimplência dos órgãos
governamentais de cultura, com destaque para a Secretaria de Estado da Cultura,
que figura como maior inadimplente.
Qualquer plano na área
da música maranhense que não enfrentar estes gargalos não passará de um
simulacro de plano, sem presente e sem futuro e sem nenhuma possibilidade de
contribuir com o desenvolvimento da Economia Criativa no Maranhão.
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