O STJD
(Superior Tribunal de Justiça Desportiva) decidiu excluir o Grêmio da disputa
da Copa do Brasil de 2014, em julgamento que durou mais de três horas,
realizado nesta quarta-feira à tarde, no Rio de Janeiro. A exclusão do Tricolor
gaúcho aconteceu por causa dos atos racistas de torcedores do clube contra o
goleiro Aranha, do Santos, durante jogo em Porto Alegre no dia 28 de agosto.
O
placar da decisão da 3ª Comissão Disciplinar do STJD foi de 5 a 0, unanimidade
dos votos pela saída do time, multa de R$ 54 mil - R$ 50 mil pelas injúrias
raciais, R$ 2 mil pelo rolo de papel higiênico arremessado no gramado e R$ 2
mil pelo atraso na entrada do campo - e os torcedores identificados serão
proibidos de frequentar a Arena por 720 dias.
A
diretoria gremista já avisou que entrar com recurso a ser julgado pelo Pleno,
em prazo estimado de no máximo 15 dias. Por enquanto, o Santos está
classificado diretamente para as quartas de final da Copa do Brasil, sem a
necessidade do jogo de volta, e aguarda o ganhador do duelo entre Botafogo e
Ceará.
O
Grêmio foi denunciado pela prática de ato discriminatório relacionado a
preconceito em razão da raça, conforme previsto no artigo 243-G do CBJD (Código
Brasileiro de Justiça Desportiva). Na ocasião, aos 42 minutos do segundo tempo,
já com o placar de 2 a 0 a favor do time paulista, Aranha ficou indignado e
paralisou a partida para informar ao árbitro Wilton Pereira Sampaio sobre a
manifestação. Imagens exclusivas da ESPN flagraram a torcedora Patrícia Moreira
chamando o goleiro de "macaco".
No
julgamento desta terça, depois da abertura feita pelo presidente da sessão
Fabrício Dazzi, o procurador Rafael Vanzin mostrou prova de vídeo com matérias
jornalísticas sobre o caso, inclusive as imagens da ESPN. A Procuradoria do
STJD pediu multa significativa e a exclusão do Grêmio da Copa do Brasil,
classificando a atitude racista dos torcedores como "repugnante" e
citando situações anteriores envolvendo o Tricolor.
A
defesa gremista contou com dois advogados, Gabriel Vieira e Michel Assef Filho,
que tentaram a absolvição do clube ou a redução da pena. O Grêmio admitiu as
ofensas racistas, mas alegou que foram apenas cinco pessoas entre 30 mil que
estavam no estádio, e ainda exibiu imagens de campanhas contra o racismo
promovidas pelo clube.
"Punir
um clube por causa do ato de cinco torcedores é severamente pesado. O Grêmio é
um dos poucos torcedores que faz campanha contra o racismo e há muito tempo. O
mundo real, e não o mundo ideal desta Procuradoria, pode ter torcedores que
vistam a camisa azul, preta e branca para prejudicar o clube, e estou dizendo
isso hipoteticamente. Não se pode confundir a repercussão com extrema
gravidade. Foram cinco pessoas no meio de 30 mil. Eu entendo que o Grêmio não
podia fazer nada a mais, o Grêmio fez campanhas, colaborou com a polícia,
identificou os torcedores. Uma punição neste caso seria um desestímulo a essas
campanhas", discursou Michel Assef Filho.
Pouco
antes, o presidente do Grêmio, Fábio Koff, também deu o seu depoimento no
tribunal esportivo e destacou o impacto negativo que a exclusão da competição
poderia causar: "Essa é uma noite histórica, ela não se limita somente ao
fato ocorrido, ela atinge um clube com 111 anos de existência, com uma
escolinha de 1.100 crianças, das quais 1/3 são de cor. O prejuízo causado ao mais
elevado valor do clube, que é a imagem, é irreparável. Se a pena ocorrer, deve
ter sentido pedagógico e não ultrapassar limites. O Grêmio foi precursor em não
dar subsídio a torcidas organizadas".
O
árbitro Wilton Pereira e o assistente Carlos Berkenbrock também foram julgados
por não terem relatado inicialmente na súmula a situação, o que foi feito
apenas em um adendo no documento ao chegaram ao hotel, depois de terem visto o
fato em notícias na televisão. Os dois explicaram que, apesar da reclamação de
Aranha durante o jogo, eles não puderam ouvir ou ver as manifestações racistas
naquele momento. Mesmo assim, Wilton foi suspenso por 90 dias e recebeu multa
de R$ 1.600, enquanto os dois assistentes foram suspensos por 60 dias e
multados em R$ 1 mil..
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