Por Louremar Fernandes
Eu já votei no Partido dos Trabalhadores. Votei no Lula e, junto com ele, perdi uma eleição. Votei no Lula mais de uma vez. Junto com ele perdi mais de uma vez.
Antes de votar no Lula, fiz campanha para o Lula. Posso
confessar que nunca suportei muito a forma de ser do PT com suas demoradas e
sonolentas discussões filosóficas. Mas uma coisa eu sempre admirei: a proposta
de uma nova forma de fazer política.
É por isso que eu comprei bottons do PT, comprei
estrelinha do PT. Tudo para ajudar na causa.
E passei a votar no Lula, o símbolo de uma sociedade que
precisava colocar no principal posto do poder alguém legitimamente povão. Lula era isso. Era.
Para se eleger, teve que mudar um pouco. Mas ainda era o
Lula por quem tínhamos torcido e sofrido. O Lula que motivou um jovem
radialista, quando da derrota para Fernando Collor, a tocar ininterruptamente
na rádio a música "Como Nossos Pais", na voz de Elis Regina. O jovem radialista chama-se Sérgio Matias e
do estúdio da Mirante de Bacabal ele fez ecoar versos que eram a nossa voz
naquele momento trágico: "eles venceram e o sinal está fechado pra nós que
somos jovens". Era o nosso protesto.
Um certo dia elegemos o Lula. Não poderíamos deixar de
fazê-lo. E ele, não tinha como não ser o presidente do Brasil. Havia lutado
muito, havia se transformado em símbolo de povo no poder. Me dispus a não fazer
nada no dia da posse. Já sou aficionado
de coberturas 'ao vivo' e não poderia deixar de ver emocionado a posse daquele
homem cuja vida lhe dera todos os requisitos para não estar ali.
Era um pobre. Era um metalúrgico que chegava ao poder.
Era o povo chegando ao poder. Lula não decepcionou como presidente. Não como
revolucionário, porque isso não seria possível. Mas o representante petista fez
um governo de forma equilibrada. Fez o que se espera de um governante.
Fez também o que não se espera de um governante como
deveria ser o Lula. Criado politicamente numa áurea de mudança, de nova postura
política, aos poucos cedeu àquilo que há de mais nocivo. Certa vez, numa roda
de amigos, dentre eles o poeta Paulo Campos que criticava a postura do senador
Sarney, sempre tão imiscuído no governo petista, eu defendi Sarney. Disse:
"Sarney faz o que sempre fez. É a forma dele de jogar na política. Quem
mudou - e para pior - foi o Lula".
E a mudança para pior não foi somente ao aceitar a
interferência de velhas forças da política. O governo degenerou. A forma
petista de governar, começou aos poucos a se mostrar fraca e degenerada em sua
essência. Mesmo assim, Lula fez de Dilma, uma mulher sem tradição política ou
partidária, a Presidente da República.
O Brasil cresceu, isso é certo. E deveria crescer, fosse
quem fosse o Presidente. Não devemos favor a ninguém. A garantia do desenvolvimento nacional e a erradicação
da pobreza, são objetivos fundamentais constantes no artigo 2º da Constituição.
Contudo, não há quem ateste que com a eleição de
Dilma, se recuperou a essência daquilo que pregava o PT antes de estar no
poder. O PT que se preocupava em chegar ao poder, passou a ser o partido que se
preocupa em ter o poder a qualquer custo. São alianças inimagináveis, são
práticas absurdas como a do "mensalão", que escancarou diante de
todos a deplorável conduta de homens que eram verdadeiros combatentes daquilo
que depois passaram a executar.
Mesmo reconhecendo que houve conquistas, que houve
avanços, eu não tenho motivos para compactuar com a perpetuação de um
determinado partido no poder. Principalmente se metade dos líderes desse
partido estão presos depois de condenados por corrupção. Não tenho porque compactuar com esse plano,
se a outra metade dos líderes que está solta, está envolvida em tantos
desmandos.
Não posso concordar. Não posso referendar alguém que já
foi testado e não foi 100% aprovado. Eu não quero votar como nossos pais, que
não se dignavam a mudar o voto. Depois de escolhido um grupo político,
seguia-se com ele até os últimos dias.
O que eu posso fazer? Eu posso votar. Eu vou votar. Mas
eu não vou votar com medo. Eu não posso ter medo. Eu tenho que ser ousado.
Porque se eu tivesse medo, eu não teria votado em Lula. Todos os medos foram
jogados na sua eleição: era pobre, analfabeto, não sabia falar inglês como
poderia reunir com líderes mundiais? E naquele momento eu votei em Lula.
Votei porque não aceitei que decidissem por mim. Votei
porque não aceitei a manipulação maniqueísta que divide o mundo em uma facção
do bem e outra do mal. Hoje o PT usa o medo como mote de sua campanha. O PT
representa o bem. Será que representa mesmo?
Eu não posso aceitar. Eu sou de uma geração contestadora
que votou em Lula e mais do que qualquer outra, tem legitimidade para mudar a
história. Eu não tenho mais a estrelinha do PT. A que eu comprei foi
enferrujando aos poucos. A cada denúncia, a cada escândalo. A estrelinha do PT
foi ficando gasta, mas não a minha disposição em participar de forma ativa de
alguma mudança.
O meu voto está declarado. Cada leitor procure fazer um
exame de consciência sobre o seu voto.
Louremar Fernandes é radialista, editor do blog louremar.com.br e acadêmico de Direito na UNDB.
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