segunda-feira, 27 de outubro de 2014

NÃO VOTEI COMO NOSSOS PAIS




Palácio do Planalto: sede do Poder Executivo Federal
Por Louremar Fernandes




Eu já votei no Partido dos Trabalhadores. Votei no Lula e, junto com ele, perdi uma eleição. Votei no Lula mais de uma vez. Junto com ele perdi mais de uma vez.
Antes de votar no Lula, fiz campanha para o Lula. Posso confessar que nunca suportei muito a forma de ser do PT com suas demoradas e sonolentas discussões filosóficas. Mas uma coisa eu sempre admirei: a proposta de uma nova forma de fazer política.
É por isso que eu comprei bottons do PT, comprei estrelinha do PT. Tudo para ajudar na causa.
E passei a votar no Lula, o símbolo de uma sociedade que precisava colocar no principal posto do poder alguém legitimamente povão.  Lula era isso. Era.
Para se eleger, teve que mudar um pouco. Mas ainda era o Lula por quem tínhamos torcido e sofrido. O Lula que motivou um jovem radialista, quando da derrota para Fernando Collor, a tocar ininterruptamente na rádio a música "Como Nossos Pais", na voz de Elis Regina.  O jovem radialista chama-se Sérgio Matias e do estúdio da Mirante de Bacabal ele fez ecoar versos que eram a nossa voz naquele momento trágico: "eles venceram e o sinal está fechado pra nós que somos jovens". Era o nosso protesto.
Um certo dia elegemos o Lula. Não poderíamos deixar de fazê-lo. E ele, não tinha como não ser o presidente do Brasil. Havia lutado muito, havia se transformado em símbolo de povo no poder. Me dispus a não fazer nada no dia da posse.  Já sou aficionado de coberturas 'ao vivo' e não poderia deixar de ver emocionado a posse daquele homem cuja vida lhe dera todos os requisitos para não estar ali.
Era um pobre. Era um metalúrgico que chegava ao poder. Era o povo chegando ao poder. Lula não decepcionou como presidente. Não como revolucionário, porque isso não seria possível. Mas o representante petista fez um governo de forma equilibrada. Fez o que se espera de um governante.
Fez também o que não se espera de um governante como deveria ser o Lula. Criado politicamente numa áurea de mudança, de nova postura política, aos poucos cedeu àquilo que há de mais nocivo. Certa vez, numa roda de amigos, dentre eles o poeta Paulo Campos que criticava a postura do senador Sarney, sempre tão imiscuído no governo petista, eu defendi Sarney. Disse: "Sarney faz o que sempre fez. É a forma dele de jogar na política. Quem mudou - e para pior - foi o Lula".
E a mudança para pior não foi somente ao aceitar a interferência de velhas forças da política. O governo degenerou. A forma petista de governar, começou aos poucos a se mostrar fraca e degenerada em sua essência. Mesmo assim, Lula fez de Dilma, uma mulher sem tradição política ou partidária, a Presidente da República.
O Brasil cresceu, isso é certo. E deveria crescer, fosse quem fosse o Presidente. Não devemos favor a ninguém. A garantia  do desenvolvimento nacional e a erradicação da pobreza, são objetivos fundamentais constantes no artigo 2º da Constituição.
 Contudo, não há quem ateste que com a eleição de Dilma, se recuperou a essência daquilo que pregava o PT antes de estar no poder. O PT que se preocupava em chegar ao poder, passou a ser o partido que se preocupa em ter o poder a qualquer custo. São alianças inimagináveis, são práticas absurdas como a do "mensalão", que escancarou diante de todos a deplorável conduta de homens que eram verdadeiros combatentes daquilo que depois passaram a executar.
Mesmo reconhecendo que houve conquistas, que houve avanços, eu não tenho motivos para compactuar com a perpetuação de um determinado partido no poder. Principalmente se metade dos líderes desse partido estão presos depois de condenados por corrupção.  Não tenho porque compactuar com esse plano, se a outra metade dos líderes que está solta, está envolvida em tantos desmandos. 
Não posso concordar. Não posso referendar alguém que já foi testado e não foi 100% aprovado. Eu não quero votar como nossos pais, que não se dignavam a mudar o voto. Depois de escolhido um grupo político, seguia-se com ele até os últimos dias.
O que eu posso fazer? Eu posso votar. Eu vou votar. Mas eu não vou votar com medo. Eu não posso ter medo. Eu tenho que ser ousado. Porque se eu tivesse medo, eu não teria votado em Lula. Todos os medos foram jogados na sua eleição: era pobre, analfabeto, não sabia falar inglês como poderia reunir com líderes mundiais? E naquele momento eu votei em Lula.
Votei porque não aceitei que decidissem por mim. Votei porque não aceitei a manipulação maniqueísta que divide o mundo em uma facção do bem e outra do mal. Hoje o PT usa o medo como mote de sua campanha. O PT representa o bem. Será que representa mesmo?
Eu não posso aceitar. Eu sou de uma geração contestadora que votou em Lula e mais do que qualquer outra, tem legitimidade para mudar a história. Eu não tenho mais a estrelinha do PT. A que eu comprei foi enferrujando aos poucos. A cada denúncia, a cada escândalo. A estrelinha do PT foi ficando gasta, mas não a minha disposição em participar de forma ativa de alguma mudança. 
O meu voto está declarado. Cada leitor procure fazer um exame de consciência sobre o seu voto.
Louremar Fernandes é radialista, editor do blog louremar.com.br e acadêmico de Direito na UNDB.

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