Q
UAL É A TUA
COR?
Em meu leito tu deitaste
Em meu peito tu mamaste
E nele arrotaste, tua soberba,
teu furor.
Não me fizeste companhia
Diante da minha agonia,
Do meu sofrimento, da minha
dor.
Maculaste minha história
Corrompeste minha memória,
Apenas porque Negro sou.
Afinal, qual é a tua cor?
A ti dediquei meus
sentimentos,
Te ensinei os mandamentos,
Te acalentei, te fiz sorrir.
Mas sem meu consentimento,
Com injúrias e lamentos,
Tu passaste a me ferir.
Não respeitas minha mãe,
afinal quem te pariu?
Tua língua é como faca,
Tanto fere quanto mata
E degusta o mal que há em ti.
Me batizas com codinomes
Da fauna, terra, céus e mares.
Mas eu sou o Negro forte,
Que com um ZUMBIdo ao Norte,
Ecoou a liberdade pelos ares
E palmas, palmas, nos
palmares.
tenho olhar verde e amarelo,
Aquarela sei que sou, tenho
brado azul anil.
Que servido à tua mesa, a ti
rechaça,
Antes mesmo da tua impiedosa
ressaca.
Sou o Negro petróleo,
O negrume do café,
Que misturado à neve, ao
açúcar ou ao leite,
Quão bonito Negro é!
Da tinta da caneta que, em
papel de qualquer cor,
Risca o meu direito?
Ou do chumbo com o qual rasgas
o meu turvo peito?
Suportei teus devaneios e
despautérios.
O que fazer com o teu
preconceito?
Dele, não terás nenhum
proveito.
Sou o rei, o artista, o poeta,
o passista, o teu professor.
Sou o mestre da tua orquestra,
canto na tua festa,
Sou trabalhador.
Sou teu médico, anseio por tua
cura,
Minha cor é a tua dor,
A razão da tua loucura..
O meu brado te envenena,
O meu suor é o teu licor.
Em minha alcova te deleitas,
sem pudor
O tom do meu prazer te
intimida,
A minha essência é o teu
torpor.
A mim confessaste nas grades
da vida:
Que tua saga jaz, perdida
Que és da cor do teu pavor.
L. LAGO- (La Belle D'ujour)
Servidora Pública- Graduada em
Letras-CESB/UEMA
PJ-BACABAL-MA
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