quinta-feira, 20 de novembro de 2014

POESIA DE LÚCIDE LAGO EM HOMENAGEM AO DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA


Q
UAL É A TUA COR?


Em meu leito tu deitaste

Em meu peito tu mamaste

E nele arrotaste, tua soberba, teu furor.

 

Não me fizeste companhia

Diante da minha agonia,

Do meu sofrimento, da minha dor.


Maculaste minha história

Corrompeste minha memória,

Apenas porque Negro sou.


Afinal, qual é a tua cor?

 
A ti dediquei meus sentimentos,

Te ensinei os mandamentos,

Te acalentei, te fiz sorrir.

Mas sem meu consentimento,

Com injúrias e lamentos,

Tu passaste a me ferir.

 
Não respeitas minha mãe, afinal quem te pariu?

Tua língua é como faca,

Tanto fere quanto mata

E degusta o mal que há em ti.


Me batizas com codinomes

Da fauna, terra, céus e mares.

Mas eu sou o Negro forte,

Que com um ZUMBIdo ao Norte,

Ecoou a liberdade pelos ares

E palmas, palmas, nos palmares.

 
Eu sou “made in Brazil,”

tenho olhar verde e amarelo,

Aquarela sei que sou, tenho brado azul anil.

 
Sou Negro gin, whisky, caviar e cachaça,

Que servido à tua mesa, a ti rechaça,

Antes mesmo da tua impiedosa ressaca.

 

Sou o Negro petróleo,

O negrume do café,

Que misturado à neve, ao açúcar ou ao leite,

Quão bonito Negro é!

 
Mas, qual é a tua cor?

 
Da lâmina que raspa os meus cabelos carapinhos?

Da tinta da caneta que, em papel de qualquer cor,

 Risca o meu direito?

Ou do chumbo com o qual rasgas o meu turvo peito?

 
Com sabedoria desvendei os teus mistérios,

Suportei teus devaneios e despautérios.

O que fazer com o teu preconceito?

Dele, não terás nenhum proveito.

 
Sou Negro sim, não nego, não sou cego.

Sou o rei, o artista, o poeta, o passista, o teu professor.

Sou o mestre da tua orquestra, canto na tua festa,

Sou trabalhador. 

Sou teu médico, anseio por tua cura,

Minha cor é a tua dor,

A razão da tua loucura..

 
A toga negra te condena,

O meu brado te envenena,

O meu suor é o teu licor.

 
Em minha pele tu habitas, com fervor

Em minha alcova te deleitas, sem pudor

O tom do meu prazer te intimida,

A minha essência é o teu torpor.

 
Diante da ironia vivida,

A mim confessaste nas grades da vida:

Que tua saga jaz, perdida

Que és da cor do teu pavor.

 

L. LAGO- (La Belle D'ujour)

Servidora Pública- Graduada em Letras-CESB/UEMA

PJ-BACABAL-MA

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