Por José Sarney
A
primeira coisa que existiu no mundo foi o medo.
Na
expressão dos romanos Petronius, autor do célebre Satyricon, o primeiro romance,
e Statius, “dolce poeta”, segundo Dante, “primus in orbe deos fecit timor” (no
mundo o medo criou primeiro os deuses). Dizia Bergson, o grande filósofo,
comentando esta frase, que “a religião vem menos do medo do que de uma reação
contra o medo”.
O medo de
que quero falar não é o filosófico, mas o real, principalmente na política
maranhense, onde ele atualmente cresceu e muito, conforme afirmou em sua
vigorosa entrevista a O Estado do Maranhão e à Rádio Mirante o Senador Roberto
Rocha, candidato a Governador.
Além do
interventor nos anos 30 do século passado, Martins de Almeida, o chamado ala na
Agulha, quando se formou um bando de capangas, conhecido de Turma do Papai
Noel, que fez atrocidades, como invadir a Associação Comercial e dissolver uma
reunião a chibata, quero lembrar João Lisboa, que no Jornal de Timon, ao tratar
de Partidos e Eleições no Maranhão, já relatava a promiscuidade entre o medo e
a política. Era Donana Jansen, tatibitate, dizendo “cute o que cutá meu filho
Manezinho tem que ser deputá” — e haja cacete nas seções eleitorais, e
deportações, como a de Candido Mendes de Almeida, embarcado à força num patacho
para fora de sua terra. Há menos tempo, Neiva Moreira e Erasmo Dias apanharam
na praça João Lisboa.
Se fazia
o diabo na política do Maranhão, não só a agressão física, mas a coação moral,
a compra de votos, e as demissões em massa.
Os
comerciantes eram proibidos de embarcar mercadorias para transporte na Estrada
de Ferro de quem não desse o apoio “certo”, como aconteceu com a grande firma
Lages & Cia., que faliu vítima desse método. Hoje existe a quebra dos
pequenos comerciantes, com os impostos que não podem pagar, além dos carros e
motos apreendidos.
Eu,
quando fui Governador, acabei com isso. Foi um período de paz duradoura que
sobreviveu até recentemente. Não demiti ninguém, acabei com a nomeação e
perseguição política do cobrador de imposto. Meu temperamento sereno, paciente,
aberto ao diálogo, funcionou.
Agora, o
medo está aí. É medo de bandido, de bala perdida, de perder o emprego, de
sofrer perseguição, da violência que campeia solta. Só num dia tivemos cinco
homicídios na cidade.
Quando eu
era menino tinha um medo danado de alma, da Manguda, uma visagem que aparecia
nas noites de lua, e de sapo.
Hoje o
mundo político está sem medo de alma nem de sapo. Mas haja medo de perseguição,
de perder asfalto, de receber desaforos e de ter as emendas orçamentárias para
obras em seus municípios suspensas.
Mas eu
continuo com medo de mau-olhado e de olhos excomungados. Inveja e ódio.
O Maranhão
precisa de grandeza de espírito e de paz e segurança, de ser como sempre foi,
uma família sem ódio e sem medo de perseguição.
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