Ao
aceitar o convite para assumir o Ministério da Justiça no governo Jair Bolsonaro (PSL), o
juiz Sergio Moro abriu mão das
ações das quais era
titular na 13ª Vara da Justiça Federal do Paraná, onde corre a operação Lava
Jato na primeira instância.
Isso
significa que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, acusado de corrupção
passiva e lavagem de dinheiro na investigação sobre o sítio de Atibaia (SP),
não será mais ouvido por Moro.
Esse
é um processo distinto daquele relacionado ao tríplex do Guarujá, pelo qual
Lula foi condenado, em julho de 2017, a 9 anos e meio de prisão. A sentença foi
confirmada em segunda instância pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região
(TRF-4), que ampliou a pena para 12 anos e 1 mês, que o ex-presidente cumpre
desde abril deste ano na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba.
No
ação do sítio, Lula seria ouvido pelo juiz no dia 14 de novembro. Agora, a
juíza Gabriela Hardt, substituta da 13ª Vara da Justiça Federal do Paraná, deve
comandar a ação e conduzir os interrogatórios até que um novo juiz titular seja
escolhido por meio de concurso.
O
ex-presidente é réu ainda em outra ação no Paraná, na qual é investigado por
suspeita de ter recebido propina da Odebrecht na compra de um terreno para o
Instituto Lula. Neste caso, a fase de interrogatórios já foi concluída. O MPF
(Ministério Público Federal) e a defesa fizeram em outubro as alegações finais
e o processo aguarda sentença, que não tem limite de prazo para ser publicada.
A
acusação do sítio é baseada nas reformas implementadas no local, que
supostamente pertenceria a Lula, custeadas pelas empreiteiras Odebrecht e OAS.
A defesa de Lula diz que não há elementos que provem que ele praticou quaisquer
dos crimes apontados e que o petista apenas frequentava o sítio, não era seu
dono.
Segundo
o jornal Folha de S.Paulo, na semana passada, poucos dias antes de aceitar o
convite de Bolsonaro, Moro tomou sua decisão mais recente no processo.
Rejeitou
um pedido do pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula que teria ajudado a
bancar obras no sítio, para ser interrogado por videoconferência. Além disso, o
juiz autorizou viagem ao exterior de Roberto Teixeira, também réu na ação.
Caso do sítio de
Atibaia
O
MPF aceitou a denúncia em 1º de agosto de 2017.
Os
procuradores da Lava Jato afirmam que, em 2010, Lula adquiriu dois sítios em
Atibaia por cerca de R$ 1,5 milhão. A compra teria sido feita por meio de
intermediários.
A
defesa de Lula afirma que ele não é dono do sítio, apenas frequentava o local.
A propriedade está registrada em nome de Fernando Bittar e Jonas Leite
Suassuna. Os dois são sócios do filho de Lula, Fábio Luis Lula da Silva, o
Lulinha. Para o MPF, eles teriam sido usados como laranjas na aquisição.
Segundo
os procuradores, uma mensagem eletrônica indica que Jonas Suassuna e Fernando
Bittar foram representados na compra por Roberto Teixeira, "notoriamente
veiculado ao ex-presidente Lula e responsável por minutar as escrituras e
recolher as assinaturas".
Conforme
o MPF, há, ainda, fortes indícios de que, entre 2010 e 2014, o ex-presidente
teria recebido pelo menos R$ 770 mil "sem justificativa econômica
lícita" do pecuarista José Carlos Bumlai, seu amigo pessoal, e das
empresas Odebrecht e OAS, ambas apontadas como beneficiárias pelo esquema de
corrupção na Petrobras.
Também
de acordo com as investigações, Lula teria determinado que parte da própria
mudança, quando deixou a Presidência, fosse encaminhada ao local, para onde
foi, "com expressiva frequência", nos últimos anos, acrescenta o MPF.
Além
da suspeita sobre a ocultação da propriedade em nome de terceiros, os
procuradores da Lava Jato dizem haver fortes indícios de que pelo menos R$ 770
mil teriam sido gastos em reformas e móveis nos sítios.
Segundo
os procuradores, Bumlai e Odebrecht se encarregaram da obra. Já a OAS teria
adquirido móveis no valor de aproximadamente R$ 170 mil para a cozinha,
comprados no mesmo estabelecimento onde a construtora já havia adquirido móveis
para o tríplex no Guarujá.
"Foram
encontradas mensagens, ainda, no celular de Léo Pinheiro, indicando que os
beneficiários da cozinha eram o ex-presidente e sua esposa,
ex-primeira-dama", diz a acusação.
De
acordo com o MPF, tanto reforma quanto a aquisição dos móveis seriam propinas
pagas "a título de contraprestação pelos favores ilícitos obtidos no
esquema Petrobras".
Os
procurados dizem ainda que a OAS desembolsou cerca de R$ 1,3 milhão para
"armazenagem de itens retirados do Palácio do Planalto quando do fim do
mandato".
A
negociação teria sido feita por Paulo Okamotto, um dos fundadores do Partido
dos Trabalhadores e presidente do Instituto Lula.
"Nesse
contrato, seu real objeto foi escondido, falsificando-se o documento para dele
constar que se tratava de armazenagem de materiais de escritório e mobiliário
corporativo de propriedade da construtora OAS", dizem os procuradores.
O que diz a defesa de Lula?
Lula
nega ser dono do sítio, mas admite frequentá-lo.
O
Instituto Lula diz que o sítio não pertence a ele e que "a tentativa de
associá-lo a supostos atos ilícitos tem o objetivo mal disfarçado de macular a
imagem do ex-presidente".
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