sexta-feira, 5 de abril de 2019

BACABAL CULTURA.SEM - POESIA - TERRA DE ABUTRES


TERRA DE ABUTRES
Tive meu corpo abatido
N’um matadouro clandestino.
Esquartejado, meus pedaços
Foram pendurados em ganchos
E expostos n’um açougue imundo,
Sem os mínimos padrões de higiene
E fui vendido em quilos.
Os ossos descarnados
Foram parar n’uma usina
De trituração
E só sobrou meu berro
Que de tão alto
E tão aterrorizante
Deixou no ar o medo
Que tantos outros de mim,
Na fila do sacrifício
Rebelaram-se,
Quebraram a porteira e escaparam
Deixando para trás
O cheiro de sangue e carne podre
E o vil pesadelo de ser mortal
Em terra de abutres.
Zé Lopes

Do livro - Bacabal Alves de Abreu Sousa Silva de Mendonça e da Infância Perdida 

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