Por José Sarney
Em 1990, estávamos bem perto da caída do Muro de Berlim. Ali começava o fim das ideologias, e por todo o mundo surgiu uma nova referência, o Meio Ambiente, conquistando os corações dos jovens, que saíram atrás de um vilão. E acontecia um desastre aqui no Brasil: com as oportunidades de crescimento do consumo, estavam tocando fogo na Amazônia, a maior floresta úmida na face da Terra.
Eu tive que enfrentar o problema, pois exercia a Presidência da República, e minha atitude não foi a de culpar os que nos apontavam o dedo, mas de tomar a dianteira na defesa do Meio Ambiente no Brasil: reuni todos os órgãos setoriais espalhados por diversos Ministérios (cinco) num órgão único que tomasse a liderança da causa. Nasceu aí a ideia da criação do Ibama. Iniciei o programa “Nossa Natureza”, que executou com energia e rapidez todas as ações necessárias e urgentes para responder às críticas e, sobretudo, reduzir drasticamente incêndios e desmatamentos.
Para mostrar que o Brasil não era o vilão da Natureza, propomos o País como sede da 2ª Conferência Mundial do Meio Ambiente. A Noruega já estava praticamente escolhida. Enviei o Embaixador Paulo Tarso Flecha Lima, pessoalmente, a todos os países para fazer do Brasil a sede da Conferência. Fomos vitoriosos nessa reivindicação nas Nações Unidas. Deixei o Brasil escolhido, e a Conferência Eco-92, a Cúpula da Terra, realizou-se aqui, no Rio de Janeiro, com grande repercussão mundial.
Ali se consolidou a ideia de que a poluição e as agressões de toda espécie à natureza estavam conduzindo a um processo terrível de mudanças climáticas. A partir dali a Humanidade buscou estabelecer políticas de reversão do desastre. Logo se verificou que eram impossíveis e que no máximo se podia estabelecer limites e medidas de contenção. Já sabíamos que a Terra não aceitava tudo. Que sua reação mais imediata era o aquecimento global. Que os mecanismos que provocavam o aquecimento eram o efeito estufa. Sabemos o que não podemos fazer: queimar combustíveis fósseis; queimar florestas; insistir nas monoculturas… Sabemos o que temos que fazer: preservar a natureza; trabalhar em união para mudar os paradigmas do consumo conspícuo; substituir as fontes de energia por energia renovável — realmente renovável, não hidroelétricas, que estão vulneráveis às mudanças climáticas —; difundir a solidariedade.
Infelizmente, a cada meta que se estabelece, logo aparecem os interesses econômicos mais rasteiros para falar que são impossíveis, falar nos prejuízos, na competitividade. Interesses burros, pois o que surge é uma nova economia, dessa vez sustentável. Enquanto isso, vemos o que o clima faz: nos EUA, os desastres na costa leste e no Golfo do México; na Europa, as secas e as ondas de frio que aconteceram na primavera; aqui, as secas que esvaziaram nossos reservatórios.
Há uma certeza: as mudanças climáticas ameaçam a Humanidade e exigem de todos e de cada um de nós a defesa da Natureza. Ninguém tem como saber aonde chegaremos.