Depois das ofensas e comentários agressivos que dominaram os primeiros debates entre presidenciáveis neste segundo turno, Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) recuaram.
A estratégia de
confronto dos encontros anteriores foi substituída pelos eufemismos no debate
transmitido pela rede Record na noite deste domingo. Esta foi a terceira vez em
que os candidatos ficaram frente a frente na etapa final das eleições, que
termina no domingo, dia 27.
No lugar de termos
como "mentiroso", "mentirosa", "incompetente" ou
"manipulador", Dilma e Aécio optaram por sutilezas como "o
senhor é muito pessimista" (da petista, sobre crescimento econômico),
"me preocupam números pouco confiáveis" (do tucano, sobre avanços
sociais), "vamos com calma, candidato" (de Dilma, sobre inflação) e
"lamento que não tenha feito" (de Aécio, sobre segurança).
O ex-governador de
Minas Gerais chegou a agradecer "a qualidade da primeira pergunta de
Dilma", sobre políticas para micro e pequenas empresas.
Ela, por sua vez, não
concentrou seu discurso em polêmicas envolvendo o PSDB e frisou: "vou
falar sobre propostas, acho que o povo quer falar sobre propostas".
Nas redes sociais, a
mudança de tom foi percebida rapidamente. "Começou calmo", diziam os
internautas, que se questionavam: "Até quando vai durar a calmaria?".
'Baixaria'
A onda de ofensas
ganhou corpo no debate exibido pela TV Bandeirantes, na última terça-feira.
Nele, foi bastante comum ouvir frases como "a senhora está mentindo"
ou "fale a verdade, candidato".
Aécio chegou a pedir
a Dilma que "elevasse o nível do debate" e parasse de
"reproduzir mentiras". A petista, por sua vez, insinuou que o
adversário estaria fazendo "fabulações" em suas respostas.
"A senhora está
sendo leviana", disse o tucano. "Não falar a verdade se tornou uma
tônica da sua campanha desde o primeiro turno", voltou a cutucar.
Dilma também atacou
supostas "mentiras" de Aécio. "Chegamos à fabulação, ao perigoso
terreno da lenda", disse. "Quem faz ataques é o senhor. Vocês
distorcem", rebateu.
A agressividade dos
dois candidatos na TV se refletiu nas redes sociais, com mais de 500
associações entre o embate e uma luta de MMA do UFC.
O segundo debate,
exibido na quinta-feira pelo SBT, foi ainda mais agressivo. "Por que a
senhora mente tanto?", questionava Aécio. "Quem mente é você",
devolvia Dilma.
A atual presidente
falou que o tucano "manipula palavras" e o chamou de "mal
informado". Do outro lado, Aécio retrucava também com ataques - "Não
me meça com a sua régua", ele disse. "Seja correta, seja séria. A
senhora está fazendo uma campanha baixa", acusou o tucano.
No encontro, os dois
mantiveram ataques e trouxeram poucas propostas à discussão – o que repercutiu
ainda de forma ainda mais negativa nas redes sociais.
O discurso do voto
nulo em protesto à ausência de proposições se fortaleceu na internet, levando
Aécio e Dilma a um encontro mais cordial neste domingo.
'Chato'
Apesar das críticas à
agressividade dos candidatos, boa parte da audiência nas redes sociais não se
deu por satisfeita após o debate da rede Record.
Anônimos e formadores
de opinião criticaram o formato do encontro, pautado apenas pelo diálogo entre
os candidatos - sem perguntas e intervenções de terceiros.
Para eles, a ausência
de especialistas evitaria que os candidatos fossem igualmente confrontados por
temas desconfortáveis.
"Os debates no
Brasil precisam desesperadamente de alguém - qualquer um - fazendo as
perguntas, além dos candidatos, para que possam ser confrontados", disse o
jornalista Bradley Brooks, editor da agência Associated
Press no Brasil.
"Pergunta sobre
Enem, resposta sobre creche... Isso é debate sem direito a mediação",
tuitou o jornalista Maurício Stycer.
Segundo Vera
Magalhães, editora da Folha
de S.Paulo, "até as perguntas são as mesmas do debate
anterior. Se deixassem os jornalistas trabalharem, seria mais variado".
A palavra
"chato" foi comum entre a audiência para qualificar o encontro.
"Um debate que
começa discutindo o Simples Nacional tem tudo pra ficar marcado como o mais
chato da história", escreveu a internauta Leonor Macedo, pelo Twitter.
"Debate educado
é chato né?", afirmou o usuário Professor Madeira, pela mesma rede social.
Nas palavras de
Carolina Mendes, o debate estava "tão chato que para (se tornar) novela do
Manoel Carlos faltaria só uma Helena".