Quando
ordenou a prisão preventiva dos dois principais executivos das maiores
empreiteiras do Brasil na semana passada, o juiz federal Sérgio Moro disse que
agia para preservar a sétima maior economia do mundo.
Moro
afirmou que tentava estancar um suposto esquema de cartel à base de propinas
organizado pelas empresas controladas por algumas das famílias mais ricas e
poderosas do país. Sua escolha: suspensão imediata dos contratos das empresas
com o poder público ou prender os altos executivos que as administram.
“Trata-se
aqui de empresas que, por sua dimensão econômica, com patrimônio de bilhões de
dólares, têm relevante papel na economia brasileira”, disse Moro, na semana
passada. “Até razoável, no contexto, discutir a sobrevivência das empresas
através de mecanismos de leniência para preservar a economia e empregos”.
A
necessidade de conter a corrupção e ao mesmo tempo manter as grandes
empreiteiras intactas se tornou uma espécie de mantra entre as autoridades do
país, e isso inclui a presidente Dilma Rousseff, que disse em um discurso, em
janeiro, que “as pessoas que foram culpadas é que têm que ser punidas, não as
empresas”.
A
proibição de novos contratos, disse Moro na ordem de prisão divulgada em 19 de
junho, causaria “efeitos colaterais danosos” em uma economia que já enfrenta a
pior contração em 25 anos.
A
investigação envolveu empresas controladas por seis das famílias mais ricas do
Brasil -- Odebrecht, Andrade, Gutierrez, Camargo, Queiroz Galvão e Mata Pires
--, que comandam fortunas combinadas avaliadas em mais de US$ 17 bilhões,
segundo o Bloomberg Billionaires Index.
“Assim, elas (as empreiteiras) hoje são uma
peça muito importante - talvez decisiva - no funcionamento da economia e da
política brasileira”, disse Pedro Campos, professor de História da Universidade
Federal Rural do Rio de Janeiro.
Prisão preventiva
A polícia colocou Marcelo Odebrecht e Otávio
Azevedo, da Odebrecht SA e da Andrade Gutierrez SA, respectivamente, sob prisão
preventiva, em 19 de junho, como parte de uma operação federal coordenada
envolvendo 220 agentes policiais em quatro estados. A medida permitiu que os
policiais detivessem os executivos sem acusá-los em prol do interesse de
impedir a continuidade das atividades criminais, disse Moro.
Moro,
que negou um pedido do Ministério Público Federal para prender executivos da
Odebrecht em novembro, disse que os investigadores reuniram evidências que
mostram que os dois presidentes tinham conhecimento do esquema, que envolvia
centenas de milhões em propinas. Ele citou um e-mail enviado a executivos,
incluindo Marcelo Odebrecht, a respeito do sobrepreço em contratos, e um
telefonema entre Azevedo e o suposto intermediário das propinas, Fernando
Soares.
Soares
negou qualquer irregularidade. Uma porta-voz da Andrade Gutierrez disse que o
único negócio que Azevedo manteve com Soares foi a transação de um barco, que
foi informada às autoridades competentes.
‘Prisão injusta’
Uma
porta-voz da Odebrecht disse, em um comunicado enviado por e-mail, que o
assunto daquele e-mail era um acordo comercial legal para construção e operação
de navios-sonda e que a mensagem não tinha relação com nenhuma irregularidade.
A
Odebrecht e a Andrade negaram a participação em qualquer cartel. A Odebrecht
disse em um comunicado que a detenção do executivo foi injusta e a Andrade
disse que está colaborando com as autoridades na investigação. As empresas
preferiram não realizar comentários adicionais.
O
MPF também pediu explicações para apurar se o ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva usou sua influência para persuadir o BNDES a financiar projetos da
Odebrecht no exterior. Os projetos da Odebrecht receberam a maior parcela dos
US$ 11,9 bilhões em empréstimos feitos pelo banco ao exterior desde 2007.
Lula,
o banco e a Odebrecht negaram irregularidades. Entre os interesses da Odebrecht
estão o controle da Braskem, maior fabricante de produtos petroquímicos da
América Latina, compartilhado com a Petrobras. A família Odebrecht tem uma
fortuna avaliada em cerca de US$ 3 bilhões, dividida entre mais de uma dezena
de membros da família, incluindo Marcelo, presidente da empresa.