Certa vez, o cantor e compositor
Daffé teceu o seguinte comentário: “A ponte do Estreito dos Mosquitos
rachou de tanto a música maranhense bater e voltar”. Se levarmos para
o lado metafórico, até que é engraçado, dá para rir, mas se levarmos para o
lado sentimental, faz todo sentido. Houve um tempo, há poucos anos atrás, que
ligávamos o radio e entre uma música mineira e uma americana, ouvíamos Papete,
Beto Pereira, Josias Sobrinho, Chico Saldanha, Tião Carvalho, Zé Lopes, Célia
Leite, Omar Cutrim, Tutuca, Cesar Nascimento, Mano Borges, Djalma Chaves,
Santacruz, Rosa Reis, Erasmo Dibel, Carlinhos Veloz, Gerude, dentre outros que
fizeram parte de uma geração da “quase” ascensão daquela que
ficou convencionalmente conhecida como MPM, Música Popular Maranhense, como se
o Maranhão não fizesse parte do Brasil.
Sob o
comando de músicos como Oberdan Oliveira, Walber, Pitomba, Zé Américo, Eliézio
e Camilo Mariano, a banda “Nonato e Seu Conjunto”, deu a largada para um
Maranhão musical, mas que pelo talento dos tocadores, foram obrigados a
procurar plagas maiores e assim determinaram o fim do ciclo. Alcione é outra
coisa e continua firme sem deixar o samba morrer.
Desde
a institucionalização do famigerado “jabá”, a
nossa nova música foi ficando pelo caminho, os nossos artistas no anonimato e
seus CDs nas prateleiras das rádios e o axé baiano, o forró eletrônico
cearense, o samba melado paulista e agora o sertanejo universitário e as novas duplas femininas, sustentam
programadores, locutores, produtores e proprietários de rádios e televisões. O
maranhense tem uma boa música, mas não tem nada na carteira.
Em
uma entrevista para um grande jornal de Brasília, quando indagado sobre a
música baiana e a musica cearense, o cantor Zé Lopes falou: “Eles fazem
a pior música do Brasil, só que eles sabem vender. Eu não me preocupo com a
musica deles, eles já acontecem por si, eu me preocupo é com a nossa música”. E
é realmente preocupante a situação de nossas produções. O estado lembra de
alguns de nossos artistas em dois períodos, carnaval e São João e as nossas
emissoras desconhecem nossos valores, salvo a Rádio Universidade que tem uma
hora diária destinada a musica “dita” maranhense, mas que
nesse espaço, rola todo tipo de comercial, de promoções e até um quadro de
literatura nacional que toma um quarto do tempo. Pelo menos dá para ouvir
quatro ou cinco musicas dos apadrinhados. Nem mesmo prêmio da Rádio Universidade para as produções dos músicos maranhenses, existe mais.
OS
ÚLTIMOS HITS
Se refletirmos com exatidão e vermos
o que é que se vem fazendo para que as produções maranhenses caíam na graça
popular, veremos que nada. A nossa música, que não deixa nada a desejar as
musicas produzidas no sul do país, não toca nas nossas rádios, mesmo aquelas
que são produzidas no sul e por produtores renomados como Mazola, Hilton
Assunção, Zé Américo e Zeca Baleiro.
Entre belas
produções, podemos citar os CDs de Mano Borges, Manu
Bantu, Flávia Bitencourt, Papete, Beto Pereira, Josias Sobrinho, Tião Carvalho,
Santacruz, Criolina e Chico Saldanha. Os únicos maranhenses que viveram uma
época de ouro, e até receberam discos de ouro pela excelente vendagem, foram
Lairtom dos Teclados e Tom Cleber. O primeiro caiu no esquecimento,
já o Tom, ainda consegue levar um publico razoável para as suas apresentações,
mas, mesmo assim, longe do que foi há anos atrás.
Se
retrocedermos ao tempo, veremos que as únicas músicas que conseguiram virar
sucesso dentro do cancioneiro popular maranhense, foram as toadas “Se
não existisse o sol” na
interpretação de Chagas no Boi da Maioba e “ Esqueça” de
autoria de Oberdan Oliveira e Zé Raimundo Gonçalves, na voz de Vovô no Boi
Pirilampo, isso há anos atrás, e é muito pouco para uma capital, ou melhor,
para um estado que respira música, esbanja ritmos, e tem na voz dos seus
cantores e cantadores, todo tipo de adjetivo qualificativo, aveludado pelo
verbo interpretar .
BATENDO O
MARTELO
Quando Antônio Carlos
Magalhães assumiu o Governo da Bahia, foi logo pressionado pelos artistas para
que seus trabalhos tocassem nas rádios. Foi feita uma reunião com ACM
e os diretores e proprietários das rádios e tudo continuou como estava, as
musicas continuavam sem tocar, então o governador mandou um recado:”-Digam
aos donos das rádios que eu não estou pedindo, eu estou mandando tocar as
musicas baianas”. Daí foi a explosão e a Bahia carnavalisou o Brasil.
Desgarrados,
Zeca Baleiro, Rita Ribeiro e Tribo de Jah, conseguiram um lugar de destaque e
Flavia Bitencourt e o paulista Alê Muniz e Luciana Simões e o seu premiado
Criolina, correm por fora. Falta uma política por parte do governo junto às
secretarias de cultura, educação e turismo para o levante da auto- estima da
nossa enriquepobrecida música, é só isso, pois boas produções nós temos. Em uma
conversa em que um artista falou que disco era cultura, o cantor e compositor
Pelé Fontenelle, rebateu: “ Disco é redondo, cultura é
outra coisa”.
Um bom domngo a todos