O corregedor-geral do Ministério
Público do Maranhão (MPMA), procurador Eduardo Jorge Heluy Nicolau, foi
denunciado ao Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) por negligência no
atendimento a uma determinação do colegiado, para que abrisse processo de
apuração contra o promotor Paulo Roberto Barbosa Ramos, titular da 2ª
Promotoria de Justiça de Defesa da Ordem Tributária e Econômica de São Luís.
Ramos foi acusado de usar a rádio oficial
do Governo do Maranhão para tecer comentários depreciativos contra a
ex-governadora Roseana Sarney (PMDB) no chamado Caso Sefaz.
Decorrido o prazo legal para a
abertura do procedimento, Eduardo Nicolau ignorou a determinação e, mesmo
novamente instado a se manifestar, esperou vencer novo prazo dado pelo CNMP
para se movimentar.
Numa reclamação disciplinar endereçada
ao corregedor interino do CNMP, Fábio da Nóbrega, o deputado federal Hildo
Rocha (PMDB) aponta aquele que seria um dos motivos do que considera inércia do
corregedor maranhense: além de compartilhar material ofensivo à ex-governadora
e fazer propaganda positiva do atual governo nas redes, Nicolau tem também
negócios com a atual gestão estadual.
Pertence ao procurador um imóvel
localizado no centro de São José de Ribamar pelo qual o governo Flávio Dino
(PCdoB) pagou, até o último dia 3 de agosto, R$ 15 mil por mês de aluguel. No
local, funcionou provisoriamente uma escola, que já foi reinstalada em seu
prédio original.
O contrato inicial previa o pagamento
de aluguel de R$ 180 mil, ao fim de 12 meses. Após aditivos, no entanto, o
valor saltou a R$ 389.855,64, mais que o dobro, em pouco mais de dois anos.
Foram R$ 93,2 mil em 2015, outros R$
195,4 mil em 2016 e, ainda, R$ 101,2 mil neste ano. Os dados são do Portal da
Transparência do Governo do Maranhão.
Princípios – Ao apontar
que “os fatos são estarrecedores”, o deputado Hildo Rocha relata na reclamação
que, além de contratado sem licitação, o imóvel foi mantido alugado além do
prazo inicial por meio de aditivos, o que, segundo ele, fere princípios
constitucionais.
“Os contratos de locação são fruto de
dispensa de licitação e vem sendo aditivados, reiteradas vezes, em total
afronta à Constituição Federal, aos princípios da impessoalidade, moralidade,
legalidade, à Lei de Licitação e, por conseguinte, aponta para o cometimento de
improbidade administrativa clássica”, destaca.
Rocha acrescenta, ainda, que a relação
comercial entre o procurador e o Estado pode ter influenciado na decisão dele
de não abrir, quando instado a tal, procedimento contra o colega que também comunga
de opiniões contrárias à ex-governadora Roseana Sarney, mesmo após determinação
expressa do CNMP.
“É, no mínimo, desconcertante o
conjunto fático-probatório trazido ao conhecimento do Conselho Nacional do
Ministério Público. Imaginar que um procurador de justiça, atual
corregedor-geral, servidor público do Ministério Público, possui contrato com o
atual Governador Flávio Dino, esquivando-se de procedimento licitatório,
afrontando os princípios constitucionais do artigo 37 da Carta Republicana e,
para piorar, omitindo-se no exercício funcional de corregedor deixando de
apurar conduta do promotor Paulo Roberto, mesmo tendo do CNMP determinado que
assim fizesse, simplesmente porque tal promotor move ações penais em face da
ex-governadora Roseana é, com absoluta certeza, algo de extrema e profunda
gravidade e, por evidente, corrói, macula e denigre a instituição da qual faz
parte”, comentou.
Em recente comentário nas redes
sociais, acerca da disputa eleitoral de 2018, Eduardo Nicolau escreveu que
votaria na ex-governadora “para auxiliar de limpeza”.
Também em sua página pessoal ele
compartilha material ofensivo à peemedebista e elogioso ao governo Flávio Dino
(PCdoB).
O aluguel do procurador
2017 – R$ 101.200,00
2016 – R$ 195.400,00
2015 – R$ 93.255,64
Afastamento – No documento
protocolado no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), o deputado Hildo
Rocha (PMDB) pede, liminarmente, o imediato afastamento do procurador Eduardo
Jorge Hiluy Nicolau das funções de corregedor do Ministério Público do Maranhão
(MPMA) e suspensão dos seus atos.
O peemdebista quer, ainda, que seja
realizada uma correição na Corregedoria do MP, para a apuração de eventuais
outras faltas funcionais do corregedor.
“A necessidade de instauração de
processo de reclamação disciplinar é evidente! Os fatos estão provados e as
condutas praticadas, em definitivo, violam frontalmente os regramentos
estabelecidos pela Carta Magna e pelas normas internas do Ministério Público e,
quiçá, configuram improbidade administrativa”, argumenta o parlamentar.
Segundo ele, o próprio CNMP já havia
acatado uma primeira reclamação de sua autoria, solicitando a apuração da
conduta do promotor Paulo Roberto Barbosa Ramos, titular da 2ª Promotoria de
Justiça de Defesa da Ordem Tributária e Econômica de São Luís.
“A seriedade da denúncia – acatada
pelo CNMP – fez com que tal órgão oficiasse ao Corregedor reclamado para que
providências fossem tomadas. […] Apesar do ofício, o Corregedor permaneceu
silente, por duas oportunidades, vindo a instaurar sindicância determinada pelo
CNMP ao vencer, pela segunda vez, o prazo estipulado no RI do órgão”, destacou
Rocha.
Para ele, Eduardo Nicolau “agiu
dolosamente” para proteger um colega que comunga do seu mesmo posicionamento
político-partidário.
“Há provas, por conseguinte, de que o
reclamado agiu, dolosamente, deixando de instaurar sindicância em face do Dr.
Paulo Roberto Barbosa Ramos, mesmo recebendo orientação da Corregedoria Geral
do CNMP para que assim procedesse. Ou seja, fechou os olhos para atuação do
citado membro do Parquet em âmbito local, não tomando qualquer providência,
apesar da imensa repercussão acerca da conduta do Dr. Paulo Roberto”, concluiu.